quinta-feira, 9 de junho de 2016

O voo, o ninho e a gaiola


Em excelente crônica intitulada O voo e o ninho, para a Folha de S. Paulo (08/06/2016), Francisco Daudt escreveu:

“O destino de um pássaro é voar, está em seus genes. Mas, para voar ele precisa do ninho. O ninho o protege, aquece e alimenta enquanto suas penas não crescem, suas habilidades de voo não se desenvolvem. Se o ninho o expulsa precocemente, ele se estatela no chão e morre. Mas, se o ninho o prende além da conta, ele não aprende a voar, ele fica restrito àquele casulo, ele não cumpre seu destino.”

            Prossegue o conhecido psicanalista afirmando que o mesmo ocorre com o ser humano, que precisa de amor, tanto quanto do alimento físico para sobreviver, em busca de independência e autonomia.
E conclui Daudt:

“... sim, nós botaremos filhos no mundo. Agora, daí a ter habilidade e competência para levar bem o equilíbrio entre ninho e voo, ah, isso é outra conversa.
Criar filhos é a profissão mais difícil que existe. Como ela é universalmente adotada, seja com talento e vocação, seja sem – o que é mais frequente –, o que acontece é que somos resultado de um show de incompetências. Uns pássaros ora aleijados, ora estropiados, de voo capenga, passando as incompetências de geração em geração.”

Desejo dar continuidade a esta analogia proposta por Daudt, afirmando que uma das mais perversas (e frequentes) consequências da desastrada criação dos filhos, é o que chamo de Síndrome da Gaiola.
A ausência do desenvolvimento de autonomia psíquica (incapacidade de pensar por si próprio) arrasta-se inevitavelmente pela vida adulta. Não é raro que o casamento constitua o prolongamento desta situação de dependência, a acarretar a infelicidade do casal: ruim para quem depende, ruim para quem assume o papel de “protetor” (pai).
O pássaro permanece preso na gaiola. Um certo dia, ele, de tanto sofrimento, procura ajuda, busca uma terapia. Depois de muito trabalho, ambos conseguem abrir a porta da gaiola, mas para espanto do terapeuta, o pássaro não busca a liberdade, já não sabe voar. E permanece preso indefinidamente.
O mais trágico dessa história, assinala Daudt, é que há grande possibilidade de que este aprisionamento psíquico seja transmitido aos filhos, pois trata-se do único modelo conhecido pelo prisioneiro – e só se dá aquilo que se tem.
Criar filhos é mesmo a tarefa mais difícil do mundo.


Foto: A.Vianna, mai 2016, Paris.


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