terça-feira, 29 de outubro de 2013

o sentido simples das coisas


noite de tempestade, raios, trovoada
árvores perdem alguns
de seus galhos mais frágeis
assustam-se os cães
(como assustavam-se
os homens primitivos)

na manhã seguinte
o ar está limpo
e assim é desde
o princípio dos tempos
(sem que para isso haja
uma razão plausível)

como tudo na vida
                        é porque é...

Desolação

A foto do dia.


Protestos ontem em São Paulo.

Foto: Marcelo Camargo, Agência Brasil.

O Enem deve ditar as diretrizes do ensino?


O artigo “Novo Enem faz colégio modificar currículo e contratar consultoria”, publicado no O Estado de São Paulo em 21 de agosto último, de autoria de Fábio Mazzitelli e Laís Cattassini, parece ter passado despercebido, embora se trate de notícia com graves repercussões para o ensino no Brasil. (1)
            Os articulistas apontam que “O novo formato do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que será aplicado a partir deste ano, e o desempenho na prova de 2008 levaram escolas particulares de São Paulo a mudar a proposta pedagógica e até a contratar consultoria para tentar ampliar o número de alunos com notas altas na avaliação.”
            O artigo destaca ainda que numa “escola tradicional da capital, com mensalidade em torno de R$ 1.500,00 o resultado ruim do Enem no ano passado –  unidades em 130º e 134º lugares – gerou mudanças. Para nortear a reestruturação, foi contratada uma consultoria – a direção do colégio não revelou o nome da empresa. Houve uma cobrança maior. Alguns pais ficaram inseguros. Agora, temos diagnósticos a curto, médio e longo prazo, afirma a coordenadora do centro pedagógico.”
            A posição do MEC também é registrada pelo jornal: “Ao lançar a nova proposta do Enem, o MEC afirmou que uma das metas era levar escolas a rever o currículo do ensino médio. "É bom repensar o currículo para inseri-lo no mundo moderno. Mas, se essa mudança for só para o Enem, é precipitado", diz Maria Inês Fini, que participou da equipe que criou o exame no fim de 1990.”
            Conhecemos de longa data os chamados “cursinhos” preparatórios para os vestibulares: os melhores eram aqueles que obtinham maior número de aprovações (e maior número de alunos no ano seguinte). Para tanto, o ensino que ofereciam era o mais específico possível, direcionado apenas às possíveis questões das provas, sem qualquer outro critério quanto ao mérito do conteúdo.
            Pois agora são os melhores colégios a guiarem-se pelo mesmo viés comercial: os alunos precisam obter bons resultados no Enem, o que elevará a classificação da escola no ranking nacional. Com isso, pais mais satisfeitos, mensalidades em dia...
            Então, agora é o Enem que dita as diretrizes do ensino médio para o país? Parece que sim. O Brasil não tem mais um programa elaborado por educadores de comprovado saber, coordenados pelo MEC, imunes aos ventos políticos que porventura assolem o país. O MEC abriu mão de sua prerrogativa de Educar em detrimento dos fazedores de provas do Enem. Se muda a comissão que elabora as provas, as escolas devem mudar seus currículos a fim de se manterem bem colocadas.
            Trata-se portanto de estratégia absurda, que jamais poderá substituir um projeto educacional sério, abrangente, com repercussões a longo prazo, possibilitando as transformações sociais que todos almejamos. E sem Educação, não há futuro para o Brasil.