quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Dez chamamentos ao amigo 4


IV

Minha medida? Amor.
E tua boca na minha
Imerecida.

Minha vergonha? O verso
Ardente. E o meu rosto
Reverso de quem sonha.

Meu chamamento? Sagitário
Ao meu lado
Enlaçado ao Touro.

Minha riqueza? Procura
Obstinada, tua presença
Em tudo: julho, agosto
Zodíaco antevisto, página

Ilustrada de r4vista
Editorial, jornal
Teia cindida.

Em cada canto da Casa
Evidência veemente
Do teu rosto.


Hilda Hilst
Júbilo, memória, noviciado da paixão
In Da poesia, Hilda Hilst, Comp. das Letras, 2017

Massacre contra Rohingyas


Rohingyas fogem de perseguição, em Whaikyang, 
na fronteira com Bangladesh - Fred Dufour / AFP


Reportagem da agência Reuters revela escala 'horrenda' de crimes cometidos pelo Exército em Mianmar (18.set.2018). 
            O relatório de equipe de investigadores da ONU revelou nesta terça-feira (18 set 2018) uma escala "horrenda" de assassinatos, estupros e tortura cometidos pelo Exército de Mianmar contra a minoria étnica muçulmana rohingya. O Exército de Mianmar, conhecido como Tatmadaw, cometeu "os mais graves crimes sob a lei internacional". 
Afirma a reportagem: “O texto de 440 páginas, cujo sumário foi apresentado em agosto, inclui relatos de mulheres amarradas pelos cabelos ou pelas mãos para serem estupradas; crianças que tentavam fugir de casas incendiadas mas foram forçadas a voltar para dentro; o uso difundido de tortura com varas de bambu, cigarros e cera quente; e minas terrestres colocadas nas rotas de fuga dos vilarejos atacados.” 
É necessário que as altas lideranças militares, entre elas o comandante-em-chefe Min Aung Hlaing, sejam processados por genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra.
O governo de Mianmar refutou o sumário na ocasião e disse que a comunidade internacional está fazendo "alegações falsas". O embaixador de Mianmar, Kyaw Moe Tun, rejeitou as conclusões da comissão por serem "unilaterais" e disse que o governo não reconhece sua autoridade.


Arthur Bispo do Rosário sempre



Manto da Apresentação


O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tombou nesta quarta-feira o acervo de Arthur Bispo do Rosário. São 805 peças, estandartes, indumentárias, vitrines, fichários, móveis, objetos  elaborados em diversos materiais, como vidro, madeira, plástico, tecidos, linhas, botões, gesso, muitos recolhidos do lixo e da sucata.
A reportagem é de Paula Autran, Gilberto Porcidonio e Nelson Gobbi (19/09/2018) para O Globo. 
O tombamento inclui a cela em que Bispo do Rosário viveu e que mantém as suas intervenções. 
“O sergipano Arthur Bispo do Rosário Paes era natural de Japaratuba, no interior do estado, onde nasceu em 1909. Foi marinheiro e boxeador de 1926 a 1932, e empregado doméstico no bairro de Botafogo no fim da década de 30. De acordo com os registros, ele teve seu primeiro surto de esquizofrenia em 1938, quando peregrinou por igrejas do Centro se dizendo um messias. Foi fichado e preso pela polícia, tendo sido conduzido, primeiramente, ao antigo Hospício Pedro II, na Praia Vermelha. Após um mês, foi conduzido à Colônia Juliano Moreira, lugar que se confunde com a sua arte, onde permaneceu por mais de 50 anos como o "paciente 01662", até sua morte, em 1989.”
Foi neste período que ele começou a produzir suas peças, como mantos, bordados e tiras de tecidos pasteis em que escrevia frases, poemas e manifestos, tudo feito com o que encontrava no lixo e na sucata do complexo manicomial.
"Qual a cor da minha aura?" era a pergunta que dirigia aos visitantes das celas de que tomava conta e onde guardava suas obras. Um dos destaques é o Manto da Apresentação, peça bordada que ele dizia ser a sua vestimenta para o Juízo Final. 
Hoje, Bispo do Rosário é considerado um dos maiores expoentes da arte contemporânea brasileira e mundial. Após sua morte, teve sua primeira exposição individual, no Parque Lage, e peças expostas em São Paulo, Veneza, Lyon e no Victoria and Albert Museum, em Londres, entre outras cidades.