sábado, 3 de fevereiro de 2018

The Seine in Saint-Cloud

Meus quadros favoritos



Edvard Munch 


A Forma da Água




             Em sua crítica para El País (1 fev 18), Cecilia Ballesteros chama a Forma da Água, filme do premiado mexicano Guillermo del Toro, de “A Bela e a Fera sem bela e sem fera”. Porém a crítica dela é elogiosa: “uma das histórias de amor mais emocionantes”.
            Del Toro é o diretor do espetacular O Labirinto do Fauno e, portanto, a expectativa é que este novo filme correspondesse em criatividade, roteiro, fotografia, etc.
            A Forma da Água combina espionagem, política, guerra fria, ficção científica, comédia, romantismo (meloso demais), conto de fadas, referências interessantes a filmes antigos, belo visual dos anos 50, incluindo lindos cadilacs, e, ao final, pude até identificar um longo monólogo à moda de Tarantino.
            Elisa (Sally Hawkins), a protagonista muda, não é bela, como afirmou Ballesteros, porém seu desempenho é magnífico, um dos pontos altos do filme.
            Meu grande interesse em ver A Forma deveu-se ao fato de que assisti O Monstro da Lagoa Negra, filme de 1954, quando tinha mais ou menos 11 anos de idade, acompanhado de meus tios Omair e Ruth, no Cine Urânio, em Guaratinguetá.
A experiência foi inesquecível! Primeiro, porque eu não tinha idade (nem tamanho) para entrar naquele tipo de filme, no mínimo proibido para menores de 14 anos. Meu tio deu um jeito no homem (verdadeira Autoridade, para um menino de 11 anos) que recebia os bilhetes e entrei, sabe deus como. Segundo, porque estava cagando de medo e não podia confessar meu pavor. Me fingi de homenzinho e enfrentei a fera.
O Monstro era de fato um monstro, metade homem metade peixe, vivendo nos rios da Amazônia (também encontrado por expedicionários norte-americanos, como em A Forma), horripilante fantasmagórico horroroso, ainda mais que em preto-e-branco, e que foi se revelando aos poucos com o desenrolar da história (e não logo na primeira cena, como em A Forma), criando a expectativa característica dos filmes de terror.
Bem, não me lembro de mais nada, se havia uma bela ou não, do fim que levou o monstro, eu só queria sair daquele cinema e voltar para casa. Acho que não dormi direito aquela noite.
Para terminar, interessante comparar os títulos de ambos os filmes: no antigo, destaca-se a palavra monstro, a criar desde logo o clima de terror; no atual, a palavra forma, indefinida, fria, amorfa mesmo, livrando a “criatura” de qualquer conotação demoníaca, para manter o clima romântico-piedoso ao longo de todo o roteiro. Mesmo assim, a certa altura, a tal Forma come um gato, talvez morta de fome.
Vale a pena conferir, especialmente se o leitor também viu o Monstro da Lagoa Negra...

Em tempo, a trilha sonora de A Forma é impecável!