Na crônica de hoje para a Folha (10 jul 2018), O futebol como ele é, João Pereira Coutinho afirma que a “Copa 2018 ensina que esse esporte precisa de caos, injustiça e muita falsidade”.
No melhor momento do texto, Coutinho cita Simon Jenkins (segundo ele, “uma das vozes lúcidas do The Guardian”), que sugere que os pênaltis sejam abandonados. Coutinho responde:
“Sou contra. Frontalmente. Eu gosto dos pênaltis. Eu gosto da injustiça do momento. Eu gosto da dimensão trágica que desce ao gramado. Eu gosto da angústia dos jogadores, dos falhanços épicos, do choro e da ruína.
Nesses momentos, o futebol consegue atingir o patamar da grande arte. E a grande arte é sempre uma metáfora da vida — da beleza, do desastre, da imperfeição que a define.”
Por todas essas razões, o cronista também é contra o árbitro de vídeo:
“Se essa Copa ensina alguma coisa é que a salvação do futebol não passa por “rigor”, “justiça” ou “verdade”. Precisa de caos, injustiça e muita falsidade. Como proceder?
... abandonar o juiz de vídeo. Na vida, não podemos recuar no tempo para rever e corrigir os piores momentos. Vivemos com eles porque isso é um imperativo de caráter. O mesmo vale para o futebol.”
São incrivelmente fortes os argumentos de Coutinho, ao considerar o futebol uma metáfora da vida. No entanto, é possível que o futebol seja apenas um jogo, com suas regras próprias, suas surpresas, alegrias e tristezas. Nós, os torcedores, nos encarregamos de fantasiar o resto...