sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Escolhas


Baseado em fatos reais.

Na prisão, com muito tempo para pensar, trocou o amor de uma esquartejadora pelo de uma parricida.

Dia D



No Dia D, minha homenagem a Carlos Drummond de Andrade, com o meu poema preferido:

Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu
Deus.

Tempo de absoluta depuração.

Tempo em que não se diz mais: meu amor.

Porque o amor resultou inútil.

E os olhos não choram.

E as mãos tecem apenas o rude trabalho.

E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.

Ficaste sozinho, a luz apagou-se,

mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.

És todo certeza, já não sabes sofrer.

E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?

Teus ombros suportam o mundo

e ele não pesa mais que a mão de uma criança.

As guerras, as fomes, as discussões dentro dos
edifícios

provam apenas que a vida prossegue

e nem todos se libertaram ainda.


Alguns, achando bárbaro o espetáculo

prefeririam (os delicados) morrer.

Chegou um tempo em que não adianta morrer.

Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.

A vida apenas, sem mistificação.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A morte de Yoda

A minha filha Ciça.




Estamos todos muito tristes, com a morte de Yoda, o cachorrinho da minha filha Cecília. Era um pug de boa índole, amoroso, comilão e, naturalmente, acima do peso. Viveu com ela 10 anos. Recentemente ganhou a companhia de cadelinha da mesma raça, que atende pelo apelido de Paçoquinha (o nome mesmo é muito complicado para ser aqui reproduzido). Viviam felizes, bem cuidados, cheios de amor e carinho.
Aqueles que amam seus cães sabem da dor desta perda. Não há como evitá-la. Ou melhor, há: basta não ter um cão.
Não é raro que encontremos pessoas que dizem, Eu tinha um cachorro, ele morreu, sofri muito, agora não quero mais bichos de estimação. Eu costumo responder, Você não sabe o que está perdendo.
Não faz sentido deixar de viver para não sofrer. Para os que amam os cães, conviver com eles é algo que faz parte da própria vida.
Costumo dizer que o cão humaniza a família! Certa vez ouvi de uma jovem mulher, mãe de três filhos pequenos que brigavam muito entre eles, que a caçula implorava por um cãozinho; a mãe, seguindo meu conselho, resolveu atendê-la; depois de alguns meses a menina observou, Mãe, a senhora já reparou que nós não brigamos mais?
Também aprendemos muito com nossos cães. Antes de tudo, aprendemos o significado do amor incondicional, que eles dedicam a seus donos.
Yoda teve uma boa morte, no colo de sua dona.

Foto: A. Vianna, Brasília, out. 2014.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Um lugar perigoso



              
              Aos 78 anos de idade, o carioca Luiz Alfredo Garcia-Roza acaba de lançar seu décimo-primeiro romance policial, tendo mais uma vez a participação, agora um pouco mais discreta, do delegado Espinosa. Um lugar perigoso (Companhia das Letras, 2014), este o título do livro, traz de forma inequívoca, as marcas da formação original do autor, graduado em Filosofia e Psicologia.
            Garcia-Roza é autor de obras importantes em Filosofia e Psicanálise, como Introdução à metapsicologia freudiana, em três volumes, O mal radical em Freud, Freud e o inconsciente. Palavra e verdade na filosofia antiga e na psicanálise (Jorge Zahar Editor, 2001, 4a edição), é um livrinho precioso, muitíssimo bem escrito, e transcrevo aqui o primeiro parágrafo, com o intuito de aguçar a curiosidade do leitor deste blog:

“Houve um tempo, na Grécia arcaica, em que as palavras faziam parte do mundo das coisas e dos acontecimentos. Ela era voz e gesto, dia e noite, verão e inverno. Signos mundanos e signos sagrados remetiam o indivíduo a um outro tempo e a um outro lugar: ao tempo dos começos e ao mundo dos deuses e dos heróis. A palavra, juntamente com as condições de sua enunciação, não valia apenas pelo seu sentido manifesto, mas como signo a ser decifrado para que um outro sentido, oculto e misterioso, pudesse emergir, num interminável de decifrações. Essa era a palavra do aedo, poeta-profeta da Grécia arcaica, palavra portadora da alétheia, da verdade. Passados três mil anos, vamos encontrar a psicanálise ainda à procura de sua alétheia e, para ela, a verdade fundamental é a verdade do desejo.”

            Dono de um estilo clássico, elegante, claro, Garcia-Roza de repente deixa de lado os escritos acadêmicos e passa a dedicar-se ao romance policial, para surpresa e desapontamento dos profissionais da área psi, e para imenso prazer do próprio autor, segundo ele mesmo. Sua estreia foi com O silêncio da chuva, ganhador dos prêmios Nestlé de Literatura (1996) e Jabuti (1997).
            As tramas de seus romances passam-se invariavelmente em Copacabana, Ipanema e Bairro do Peixoto, onde mora o já famoso delegado Espinosa. Em Um lugar perigoso a geografia não muda, e embora se trate de lugares onde o perigo é real na cidade do Rio de Janeiro, o leitor, logo no primeiro capítulo, se depara com uma frase tão reveladora quanto intrigante, que dará o tom do romance até o seu final: “A memória é um lugar perigoso.”
            Mais, não é prudente revelar. Vale a pena conferir.

Saudade de Florença



saudade, Florença!
lugar que esbanja beleza
e onde tudo é arte

Foto: A.Vianna, set, 2014, Florença.