quarta-feira, 28 de março de 2018

Segunda vitória na Copa da Rússia


Gol da Seleção Brasileira diante da Alemanha
Foto: Robert Michael/AFP


            Por paradoxal que possa parecer, a segunda vitória do Brasil na Copa da Rússia 2018 (que já começou!) não aconteceu na Rússia, e sim em Berlim, contra a seleção da Alemanha, no dia de ontem (27 mar 2018).
            Volto a repetir a frase do post anterior: Que Amistoso Que Nada! (http://loucoporcachorros.blogspot.com.br/2018/03/comeca-copa-do-mundo.html)
            Os dois times jogaram para vencer, Brasil melhor no primeiro tempo, Alemanha dominou o segundo, pressionou pressionou pressionou mas o escrete soube garantir a vitória por 1 a 0.
            Alguns locutores, comentaristas e até jogadores dizem que o 7 a 1 já passou. Passou nada! Jamais passará. Ficará para sempre, não adianta negá-lo. Foi e sempre será a maior humilhação já sofrida pelo futebol brasileiro.
            Então, como enfrentar este fantasma?
            Jogando bom futebol, partida após partida, com coragem e determinação, utilizando esquemas táticos modernos, estudando bem o adversário – futebol é coisa séria –, a equipe consciente de que estará enfrentando sempre um grande adversário que um dia nos abateu por 7 a 1.
            Penso que foi isso que a Seleção fez neste segundo jogo da Copa. Mais uma vez jogamos sem Neymar, substituído com vantagem pelo senhor Adenor Leonardo Bachi, 57 anos, natural de Caxias, RS, o técnico da Seleção Brasileira de Futebol.
            O homem transmite a tranquilidade necessária e exige determinação total. O time responde, pois tem jogadores de alto nível, comparados aos melhores do mundo. E foi assim que vencemos ontem...



Foto: Robert Michael / AFP

Gabriela mergulha em Búzios!







Gabriela mergulha em Búzios!

Fotos: Paula Vianna, mar 2018.

Lucia Berlin ensina



Não costumo ganhar livros de presente, Você já tem tudo, é o que dizem meus amigos em épocas de aniversário e Natal, porém com o faro de quem me conhece, Sergio me agraciou com o Manual da Faxineira – contos escolhidos, de Lucia Berlin (Companhia das Letras, 2017). No alto da capa, o selo de mau gosto: “Eleito um dos 10 melhores livros do ano pelo New York Times”.
            Em minha santa ignorância, jamais ouvira falar em Lucia Berlin. Agora estou sabendo que ela nasceu no Alasca (também não sabia que nascia gente no Alasca), em 1936, e que publicou em vida 76 contos, ganhadora de vários prêmios, incluindo o American Book Award em 1991. Berlin morreu em 2004, na Califórnia.
            É com enorme curiosidade que inicio a leitura do primeiro conto do Manual da faxineira, intitulado Lavanderia Angel`s. A narradora está sentada em uma lavanderia e enquanto aguarda a lavagem observa o índio velho de longos cabelos brancos amarrados num rabo de cavalo também lavando roupa, o movimento das roupas dentro das máquinas, os cartazes pregados nas paredes com dizeres diversos, “PASSAR A FERRO $1,50 A DÚZ”, o chão sempre molhado da água que escorre das máquinas, “NÃO SOBRECARREGUE AS MÁQUINAS”, e de repente ela vê o que descreve como “uma oração de serenidade em laranja fosforescente”:

“CONCEDEI-ME, SENHOR, SERENIDADE PARA ACEITAR AS COISAS QUE NÃO POSSO MUDAR.”

            Encerro por aqui a descrição do ótimo conto de Lucia Berlin (volto ao livro oportunamente) para tratar da frase tão fosforescente que prendeu minha atenção, também em maiúsculas no original.
            A frase sugere mesmo uma oração. “Concedei-me, Senhor” é expressão de súplica religiosa, e “Senhor”, provavelmente, é ninguém menos que Nosso Senhor Jesus Cristo. Ela foi escrita por uma pessoa religiosa e endereçada àqueles que creem.
            Como estou entre os que não creem, automaticamente suprimi aquela introdução e li com enorme interesse a segunda parte do período: “serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar”.
            Resolvi recompor todo o período segundo meu modo de pensar, que ficou assim:

QUE EU POSSA TER SERENIDADE PARA ACEITAR AS COISAS QUE NÃO POSSO MUDAR.

            Para mim, trata-se de grande ensinamento, fundamental para enfrentar essa nossa vida repleta de frustrações, do nascimento até a morte. A frase me tocou profundamente porque eu não tenho esta serenidade para aceitar o que não posso mudar. A frustração me irrita, me causa ódio.
            Então, qual a diferença entre as duas leituras, a religiosa e a não-religiosa, se a serenidade almejada está presente em ambas?
            A diferença reside no fato de que, quem diz “concedei-me”, espera que que a graça venha do alto, como um presente dos céus. Quem pronuncia “que eu possa ter” sabe que nada vem de graça, que não adianta pedir, pois sou eu que preciso trabalhar para consegui-lo, que a tal serenidade, se vier, só poderá vir de dentro de mim, nunca de fora. E se vier, não surgirá de repente, como uma revelação; serão precisos anos de experiência, toda uma vida de autoaprendizado, tentativas permanentes de autoconhecimento (a Psicanálise pode ajudar), de enfrentamentos das sucessivas perdas, para, quem sabe, atingir o que poderíamos chamar de sabedoria, capaz de gerar serenidade.
De qualquer modo, a frase fosforescente de Lucia Berlin, pretensamente escrita numa parede de lavanderia, me fez pensar. Este o grande benefício da Literatura!