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terça-feira, 15 de março de 2022

Charles Darwin no Rio de Janeiro



 

O navio inglês H.M.S. Beagle zarpou da Inglaterra em dezembro

de 1831 e dois meses depois chegou a Salvador

 


 



Encantado com a natureza e indignado com a corrupção: o que Charles Darwin achou do Brasil do século 19. Texto original de André Bernardo, do Rio de Janeiro para a BBC News Brasil (23 nov 2019), adaptado para o blog.

      Darwin chegou a Salvador (BA) em 28 de fevereiro de 1832, onde permaneceu por 18 dias. "Luxuriante" foi um dos adjetivos que usou para descrever a paisagem local. 

De Salvador seguiu para o Rio de Janeiro, aonde chegou no dia 4 de abril, passando 93 dias na cidade, residindo em Botafogo, aos pés do Corcovado. 

Logo de início, fez críticas à burocracia local: "Nunca é agradável submeter-se à insolência de homens de escritório, mas aos brasileiros, que são tão desprezíveis mentalmente quanto são miseráveis as suas pessoas, é quase intolerável.” 

“A cavalo, Darwin e uma comitiva de seis homens empreenderam uma viagem de 16 dias, entre 8 e 24 de abril, até Conceição de Macabu, a 227 km da capital. De maneira geral, a impressão deixada pelos donos de pousada não foi das melhores. Alguns demoravam até duas horas para servir a refeição. "A comida estará pronta quando estiver", respondiam os mais atrevidos. Outros, sequer, tinham garfos, facas ou colheres para oferecer. 

“Na Fazenda Campos Novos, em Cabo Frio, os viajantes deram pela falta de uma bolsa com alguns de seus pertences. "Por que não cuidam do que levam?", retrucou o hospedeiro, mal-humorado. "Talvez tenha sido comida pelos cachorros". 

“Em sua travessia pelo norte fluminense, Darwin deparou-se também com os horrores da escravidão. Dois episódios lhe marcaram profundamente. Um deles aconteceu na Fazenda Itaocaia, em Maricá, a 60 km do Rio, no dia 8 de abril, quando um grupo de caçadores saiu no encalço de alguns escravos. A certa altura, os foragidos se viram encurralados em um precipício. Uma escrava, de certa idade, preferiu atirar-se no abismo a ser capturada pelo capitão do mato. "Praticado por uma matrona romana, esse ato seria interpretado como amor à liberdade", relatou Darwin. "Mas, vindo de uma negra pobre, disseram que tudo não passou de um gesto bruto". 

“O outro episódio ocorreu na Fazenda Sossego, em Conceição de Macabu, no dia 18. Um capataz ameaçou separar 30 famílias de escravos e, em seguida, vendê-los separadamente como forma de punição. Darwin ficou tão indignado com a cena que a descreveu como "infame". 

“Não bastassem os maus-tratos aos escravos, Darwin também se escandalizou com a corrupção. No dia 3 de julho, chegou a rotular os brasileiros de "ignorantes", "covardes" e "indolentes". "Até onde posso julgar, possuem apenas uma fração daquelas qualidades que dão dignidade ao homem", queixou-se. "Não importa o tamanho das acusações que possam existir contra um homem de posses, é seguro que, em pouco tempo, ele estará livre. Todos aqui podem ser subornados." 

Em 5 de julho de 1832 a expedição seguiu para o Uruguai e depois Argentina. Em setembro de 1835, chegou às Ilhas Galápagos, no Oceano Pacífico, o ponto mais famoso da viagem. 

Bernardo afirma: “Apesar de agnóstico, Darwin deu "graças a Deus" por estar, finalmente, deixando as costas do Brasil. "Espero nunca mais visitar um país de escravos", escreveu no dia 19 de agosto. O Beagle retornou à Inglaterra no dia 2 de outubro de 1836. Vinte e três anos depois, em 24 de novembro de 1859, seu tripulante mais ilustre publicaria A Origem das Espécies.” 


Nos envergonha, o que Darwin viu do povo brasileiro.

 

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50467782

 

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

A incrível cultura do vitimismo

 

Livro alerta para o surgimento de uma 'cultura do vitimismo' - Esquerda identitária estaria passando por processo de infantilização ao exigir 'espaços seguros' sem ofensas: é o título do artigo de Antonio Risério, especial para o Estadão (6 nov 2021).

Afirma Risério: “Camille Paglia fala de uma espantosa infantilização das mulheres na esfera do neofeminismo puritano hoje reinante, como se as moças precisassem de tutores e babás. O avesso do feminismo libertário e “pro-sex” da década de 1960, quando as mulheres resolveram falar e agir por si mesmas, assumindo as consequências de seus atos e desejos. Mas a verdade é que uma incrível infantilização das pessoas tomou conta de toda a movimentação identitária norte-americana. Bradley Campbell e Jason Manning começam por aqui o livro The Rise of Victimhood Culture (A Ascensão da Cultura do Vitimismo), sobre a onda neurótico-vitimária estadunidense, hoje se espalhando por outros países e continentes.” 

            Após a vitória de Trump, em 2016, “estudantes entraram em desespero “existencial” com a notícia, enxergando no horizonte verdadeiros pogroms contra “progressistas”. Universidades forneceram assistência psicológica aos mais abalados. “A Universidade do Kansas ofereceu terapia com cachorros, a de Cornell criou um espaço onde serviam chocolate e a de Michigan reservou uma área onde estudantes passassem o tempo com livros para colorir.” 

            (Tenho dificuldade para acreditar nisso!!!)

Surgiu “uma geração de bebês chorões pedindo proteção aos mais velhos, recolhendo-se nos chamados “safe spaces”, com salinhas de brincar ao modo do jardim de infância. “Quando a feminista Wendy McElroy foi à Brown University discutir o sentido da “cultura do estupro”, estudantes montaram um “safe space” (espaço seguro) para quem precisasse “se recuperar” de seus argumentos. Infantilização e imbecilização. E psicólogos já denunciam que a “cultura do vitimismo” forma pessoas mais vulneráveis ao pânico, à melancolia e à depressão.”

Campbell e Manning lembram que “os identitários fantasiam que palavras atingem fisicamente as pessoas. A diferença entre violência verbal e violência física é abolida. E aqui emerge a novidade: ser vítima eleva o status moral das pessoas, que agora se funda na dor. É a sacralização dos ofendidos. Pessoas de tal forma feridas ou supostamente feridas pela vida que necessitam de “trigger warnings” (avisos de gatilho) e “safe spaces” protegendo-as de sensações de desamparo ou desespero. 

“Ativistas estudantis reivindicam “trigger warnings” a respeito do conteúdo de certos cursos e aulas que podem abrir a tampa do trauma, requerendo inclusive que professores antecipem por escrito se vão falar de coisas como estupro ou sequestro em suas exposições.” 

A onda assumiu dimensão absurda. “Em fevereiro de 2014, um estudante da Rutgers University escreveu um artigo reivindicando que gatilhos de advertência fossem anexados a romances e contos comumente adotados em cursos de literatura, como O Grande Gatsby de Scott Fitzgerald e Mrs. Dalloway de Virginia Wolf, que conteria ‘uma narrativa perturbadora, examinando inclinações suicidas e experiências pós-traumáticas de um veterano de guerra’.” Discussões sobre racismo, desigualdade e intolerância poderiam também ser “deflagradoras”. A própria mitologia grega e as Metamorfoses de Ovídio foram condenadas, na Columbia University, em defesa de pessoas de cor e estudantes pobres em geral. Tudo com a maior seriedade do mundo, como se dessa idiotice cósmica dependesse a salvação da humanidade.”

Risério descreve os “safe spaces”, onde o grupo “oprimido” possa ficar a salvo de preconceito ou “microagressões”. “Pretos que vociferam contra a segregação racial parecem não perceber que um espaço só para si, proibido a brancos, também é segregação – expressão física de um apartheid. Só que não como imposição de fora, mas como reivindicação de dentro: autoapartheid.”

Jeannie Suk, professora de Direito de Harvard, alertou que ela estava impedida de falar sobre estupro. “Recentemente, um estudante pediu a um professor meu conhecido que não usasse a palavra ‘violar’ na sala de aula – como na pergunta ‘esta conduta viola a lei?’ –, porque a palavra era triggering”

“Se quisermos atender as vítimas e o vitimismo, teremos de deletar a liberdade de pensamento e expressão. As vítimas e seus ideólogos querem silenciar toda manifestação que questione a cartilha identitária ou não teça loas às vítimas”, alerta Risério. 

E Risério conclui: “Como disse Pascal Bruckner, ao se exibir como vítima, a pessoa adquire uma espécie de imunidade simbólica. E carrega suas opressões reais ou imaginárias como se fossem crachás de nobreza. É por isso que muito do que vemos por aí é indignação pré-fabricada e, não raro, lucrativa. Além de um mundo de infantilização e teatralização da condição de vítima, o que se está ensaiando diante de nós é o projeto de sociedade ideal do multicultural-identitarismo: uma sociedade segregacionista e ditatorial.”

Digo eu: surge um novo tipo de fundamentalismo, o fundamentalismo identitário.

 

https://alias.estadao.com.br/noticias/geral,livro-alerta-para-o-surgimento-de-uma-cultura-do-vitimismo,70003890575

 

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Algumas respostas de Boris Cyrulnik


BorisCyrulnik em sua casa em La Seyne-sur-Mer.
Grégoire Bernardi (Hans Lucas)


 

 

“Boris Cyrulnik: “Os adolescentes mais afetados pela pandemia terão depressão crônica quando adultos”. Neuropsiquiatra francês, filho de judeus que morreram no Holocausto, cientista e divulgador, é o criador do conceito de ‘resiliência’. Publica agora um novo livro no qual afirma que o ambiente esculpe o cérebro.”Entrevista concedida a Marc Bassets para El País (31 out 2021), em conversa sobre a pandemia de covid-19.

Cyrulnik acaba de publicar PsicoecologíaEl entorno y las estaciones del alma (Psicoecologia ― O ambiente e as estações da alma). 

 

P. Tenho a impressão de que o senhor passou a vida tentando responder à pergunta sobre como é possível ter sobrevivido e superado as condições muito adversas da sua infância.

R. Acima de tudo, me perguntava como foi possível o nazismo. Os alemães eram o povo mais culto da Europa e foi na casa deles onde aconteceu um crime imenso contra os judeus, contra os poloneses, contra os russos, contra quase toda a Europa. Mais tarde, quando já trabalhava como médico e a assistente social dizia às crianças: “Olha de onde você veio, nunca poderá seguir em frente, nunca poderá estudar, não tem família”..., me lembrava do que me diziam quando eu era criança. Por isso disse a mim mesmo que trabalharia para ajudar aquelas crianças a seguir em frente.

P. A resiliência.

R. Sim, um processo familiar, amistoso e cultural que lhes permita recuperar um bom desenvolvimento apesar do traumatismo.

 

P. O cérebro não é algo isolado e imutável, como afirma em Psicoecologia.

R. Quando eu estudava medicina, diziam-me que o cérebro estava na caixa craniana, separado do mundo, e que chegávamos com um armazém de bilhões de neurônios e que todos os dias perdíamos alguns. Agora constatamos, graças à neuroimagem e à neurobiologia, que acontece exatamente o contrário. O ambiente esculpe o cérebro, molda-o. [Grifo meu.]

P. O cérebro é uma escultura?

R. Quando uma criança é privada da alteridade, seus dois lobos pré-frontais atrofiam, o circuito límbico desaparece e as tonsilas rinoencefálicas ficam hipertrofiadas. O cérebro se torna disfuncional porque não há ambiente, não há alteridade. Isso se fotografa, é muito fácil ver. Mas quando se reorganiza o ambiente, e desde que não tenhamos deixado a criança sozinha por muito tempo, vemos que os lobos pré-frontais e o circuito da memória se desenvolvem novamente e as duas tonsilas desligam. Ou seja, quando agimos sobre o ambiente, modificamos a escultura cerebral.

 

P. O que exatamente é o ambiente?

R. Existem três ambientes. O primeiro é o ambiente imediato do bebê: o líquido amniótico, a química. O segundo é o afetivo: a mãe, o pai, a família, a vizinhança, a escola. E o terceiro é o ambiente verbal: os relatos, os mitos. E esse ambiente também participa da escultura do cérebro.

 

[Digo eu: interessante a expressão “ambiente verbal”. Refere-se à força da palavra, da linguagem, alimento indispensável para o desenvolvimento do espírito. Penso que a leitura faz parte desse ambiente, e deve ser cultivada ao longo de toda a vida, o que haverá de modificar constantemente a “escultura cerebral”, no dizer de Cyrulnik.]

 

P. Por que os adolescentes são os mais afetados?

R. Na adolescência ocorre uma poda de neurônios. O cérebro funciona melhor com menos neurônios, com menos energia. Os adolescentes têm dois ou três anos para aprender a aprender, para se orientar em uma direção. Se por um conflito familiar ou porque os meninos preferem jogar futebol, esses dois anos são perdidos, depois lhes custa voltar aos eixos. Na escola ou faculdade, você ri, concorda ou discorda de um professor, seu cérebro está ativado. Diante de uma tela, o cérebro fica entorpecido.

P. Quais são as consequências de tal situação para esses adolescentes quando adultos?

R. Estarão em depressão crônica. Terão pequenos ofícios que não os interessarão. Aprenderão que a sociedade se encarregará deles. Perderam um período sensível do seu desenvolvimento. Para se reconectar, terão de trabalhar 10 vezes mais.

 

P. Eu vejo o senhor pessimista.

R. Sim e não. Isto não foi uma crise. Em uma crise de epilepsia a pessoa fala, cai, tem convulsões, se levanta e acaba a frase. As coisas voltam a ser como antes. E agora as coisas voltarão, mas não como antes. A palavra adequada agora não é crise: é catástrofe. Depois das guerras e das epidemias houve revoluções culturais. A formação profissional, a universidade, a relação entre homens e mulheres, a velhice, tudo isso já está sendo repensado. Vamos repensar nossa maneira de viver juntos.

 

            Ótima entrevista. Vale a pena lê-la por inteiro.

 

 

https://brasil.elpais.com/internacional/2021-10-31/boris-cyrulnik-os-adolescentes-mais-afetados-pela-pandemia-terao-depressao-cronica-quando-adultos.html

 

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Estupro de crianças


62 mil crianças foram estupradas nos últimos quatro anos no Brasil. Reportagem de Cristiane Noberto (22 out 2021) para o Correio Braziliense.

“No Brasil, 179.277 crianças e adolescentes, entre 0 a 19, foram vítimas de estupro entre 2017 e 2020. 

Do total, crianças de até 10 anos são 62 mil das vítimas, ou seja, um terço dos registros. 

Os dados fazem parte do Panorama da Violência Letal e Sexual contra Crianças e adolescentes no Brasil, levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em conjunto com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, lançado na manhã desta sexta-feira (22/10).

Uma média de 45 mil crianças e adolescentes foram estuprados nos quatro anos abordados no estudo. A maioria dos casos é contra meninas, quase 80% do total. A maioria foi abusada entre 10 e 14 anos, com prevalência aos 13 anos.

Já entre os meninos, os casos de violência sexual concentram-se especialmente entre 3 e 9 anos de idade. “Nos últimos quatro anos, foram estupradas no Brasil mais de 22 mil crianças de 0 a 4 anos, 40 mil de 5 a 9 anos, 74 mil crianças e adolescentes de 10 a 14 anos e 29 mil adolescentes de 15 a 19 anos”, diz trecho do estudo.

Mato Grosso do Sul tem pior taxa

Os dados de 2020 mostram que Mato Grosso do Sul tem a pior taxa de estupros do Brasil. Foram registrados no ano 186 a cada 100 mil habitantes. Os números são seguidos por Rondônia (146,2), Paraná (139,7), Mato Grosso (136,5) e Santa Catarina (135,2). Por outro lado, segundo o estudo, os estados do Centro-oeste mostraram redução dos casos ao longo dos anos.”

 

E agora, dizer o quê sobre isso tudo? Apenas indignação, dor, sofrimento. Mas também falta de políticas públicas, há séculos, para atacar o problema.


 

https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2021/10/4957297-62-mil-criancas-foram-estupradas-nos-ultimos-quatro-anos-no-brasil.html

 

 

 

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Do fanatismo





 

“Donald Trump foi vaiado por seus eleitores 

após recomendar a vacinação contra a covid-19 durante um comício em Cullman, no Alabama, ontem à noite (uol).”



 Esta notícia acaba de ser veiculada no Twitter pelo Blog do Noblat, nessa manhã de segunda feira (23 ago 2021). Penso que podemos aprender alguma coisa com ela.

            A notícia trata de dois polos distintos: do líder e de seus seguidores, e da maneira que eles muitas vezes interagem. Comecemos pelo líder, que movido pelo firme propósito de se eleger Presidente dos Estados Unidos, utilizou-se durante a campanha de todos os argumentos possíveis, os verdadeiros e os falsos, com ênfase nos últimos, pois percebeu que eles eram bem mais convincentes para uma boa parte da população de seu país. 

            O ex-presidente mentiu, mentiu diariamente, mentiu até não poder mais, e foi eleito. Depois de eleito, continuou mentindo, pois passou a creditar no método. Governou sob a égide da mentira, mas foram tantos os estragos durante seu mandato que não conseguiu se reeleger. Então pensou (ele não é completamente desprovido de inteligência), Preciso mudar de estratégia.

            O resultado da vacinação em massa nos EEUU é inconteste, até para o pior cego – aquele que não quer ver. O ex-presidente viu, pois deseja voltar ao poder, nunca se conformou em perdê-lo. Então, juntou seguidores em um comício e passou a recomendar a vacinação, como informa Noblat. 

            O novo ex-presidente foi vaiado. Suponho que tenha ficado surpreso com o gesto de seus seguidores. Como assim? Vocês não estão vendo os resultados da imunização? São fatos, e agora são verdadeiros! Por que não acreditar neles?

            O discurso do ex-presidente, agora racional, fruto de observação científica, agora não surte mais efeito, e ele continua a receber vaias. Os seguidores explicam ao atônito ex-presidente: Certa feita o Senhor disse que vacina era bobagem, nos convenceu de que vacina era bobagem, acreditamos no Senhor, e Sua palavra continua valendo mais que tudo para nós, Sua palavra é a Verdade, portanto não pode ser negada: Vacina Não Presta

            Estupefacto, o ex-presidente volta para casa envolto em pensamentos – porque ele pensa, ao passo que os seguidores apenas creem. O que devo dizer para ser reeleito? – porque ele continua com o firme e bem definido propósito, o de se reeleger. Ao passo que os seguidores apenas repetem: Nosso Presidente – eles continuam acreditando que ele ainda é o Presidente dos EEUU – não está num bom dia hoje. Para os seguidores a vida é mais fácil, eles não precisam pensar.

            Não estou certo de que a notícia do jornalista seja verdadeira, nem fui investigar; isso não importa. Importa, se pudermos aprender alguma coisa com ela.

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Levantei as 6 horas.



“26 de fevereiro de 1961

 

Levantei as 6 horas. Fiz café, ensabôei as roupas e estendi os sacos que comprei para fazer lençol para os filhos. Fui fazer compras. Comprei açúcar 6 quilos, paes, carne e sabão, porque as vezes lavo roupas a noite. Vou limpar a cosinha. Ver se tem baratas. Pedi ao João para varrer a casa. Mas, ele prefere brincar do que auxiliar-me. Os filhos não dão valor as mâes quando estão vivas!”

 

                        Carolina Maria de Jesus

                        Casa de Alvenaria, Volume 2:

                        Santana

                        (Cadernos de Carolina)

                        Companhia das Letras, 2021

 

O que se pode aprender com Carolina de Jesus ainda hoje: lições de vida e o valor da escrita. Escrita terapêutica?

quarta-feira, 21 de julho de 2021

Deu no que deu 2...




 “O exemplo de cima era seguido pelos de baixo. A historiadora Maria Helena P.T. Machado observou que, em um Brasil onde todo mundo roubavae trapaceava, era natural que o comportamento fosse abraçado pelos escravos, frequentemente acusados de furtar produtos estocados ou sobras, que eram consumidos às escondidas nas senzalas ou vendidos a donos de vendas e outros atravessadores nas vizinhanças.A justificativa poderia ser encontrada nessa quadrinha popular entre os africanos e seus descendentes no Brasil colonial, citada pelo antropólogo Arthur Ramos”:

 

                        “Nosso preto fruta galinha,

                        Fruta saco de fuijão;

                        Sinhô baranco quando fruta,

             Fruta prata e patacão.”

 

 

In Escravidão, volume II

Laurentino Gomes

Globo Livros, 2021, p. 160. 

 

 

            Deu no que deu...

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Função do esquecimento


“Os cientistas cognitivos Steven Sloman e Philip Fernbach sustentam que nossos cérebros foram projetados para não guardar detalhes justamente para maximizar a capacidade de fazer generalizações.”

 

O trecho acima está na crônica de ontem (12 fev 2021) de Hélio Schwartsman: O esquecimento como virtude, para a Folha de S. Paulo. 

O ponto de partida para o tema foi a recente decisão do STF em não reconhecer o direito ao esquecimento. Ainda bem que foi assim. Porém, alerta o articulista: “Daí não decorre que o esquecimento não seja, tanto quanto a memória, um ingrediente importante para o bom funcionamento da sociedade e do próprio cérebro humano. A razão pela qual humanos não temos uma memória perfeita não é de bioengenharia. Existe uma síndrome rara, a hipertimesia, que faz com que seus portadores se lembrem de praticamente tudo — algo próximo ao que Jorge Luis Borges descreveu no conto "Funes, o Memorioso".”

            O mais interessante dessa história, e que destaco aqui como epígrafe, é a descoberta de que é preciso haver espaço no cérebro para as abstrações; inundado por fatos, resta ao cérebro apenas lidar com eles, perdendo a capacidade de construir generalizações. Isso me parece uma grande novidade. Costumamos dizer: é preciso haver tempo para pensar. Agora acrescentamos: é preciso haver espaço para pensar.

            (Conheci de perto uma pessoa que exibia memória espantosa. Guardava as placas de carros que via no estacionamento de onde trabalhávamos; cpfs para ele eram fichinha; os registros de prontuários milagrosamente guardados. Ao longo do tempo essa característica se agravou de tal modo que, quando não havia fatos para memorizar, ele os inventava, e a partir de então os tomava por verdade; surgiu daí um mitômano.)

            Schwartsman conclui de modo brilhante: “A vida social também depende de esquecimentos, que às vezes chamamos de perdão.” Sob tal perspectiva, a palavra perdão aparece despida de qualquer conotação religiosa, significando tão somente uma certa função cerebral, a de oferecer espaço para o bom convívio social. 

            Em tempo, é preciso reconhecer a importância da ficção. Borges antecipou isso tudo no espantoso conto citado por Schwartsman! O final de Funes, o memorioso, foi trágico!

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2021/02/o-esquecimento-como-virtude.shtml

 

 

 

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Bibliotecas Humanas



Voluntários do projeto Bibliotecas Humanas
em Copenhagen, na Dinamarca - Divulgação


“Na biblioteca de Albertslund, em Copenhague, um estudante loiro escolhe o título “Solitário” entre dezenas de livros. Em alguns minutos, um homem de 38 anos e cabelos escuros vem caminhando ao encontro do jovem. Eles se sentam em torno de uma mesa e, então, a leitura começa. Nas Bibliotecas Humanas, pessoas são livros, e seus títulos, suas histórias.” A reportagem é de Marcelo Elizardo, de Copenhague, para a Folha de S.Paulo (15.fev.2020), com o título Para promover a tolerância, Biblioteca Humana transforma pessoas em livros na Dinamarca.
            A ideia central do projeto é que as pessoas se tornem mais tolerantes, ou “como diz Ronni Abergel, criador do programa, para que as pessoas “não julguem um livro pela capa”. 
“A primeira unidade das Bibliotecas Humanas criada em Copenhague completa 20 anos em junho. Hoje, o projeto já se expandiu para outros 84 países —em seis continentes—, entre eles o Brasil. Os eventos com livros humanos acontecem de duas a três vezes por mês em bibliotecas públicas, escolas e universidades na Dinamarca.” 
            Através dessa prática, pessoas homofóbicas, temerosas de portadores de HIV, com preconceitos raciais, religiosos ou de qualquer outra ordem podem entrar em contato com a realidade do outro e compartilhar histórias de vida.
“Zytnik sofreu bullying na escola por, segundo ele, ser calado e não ter talento para esportes. Aos 12 anos, foi amarrado sem roupas a um poste durante o inverno de cinco graus negativos da Dinamarca. Ficou uma hora com as mãos atadas, até ser encontrado por policiais, que ofereceram roupas para ele se aquecer. “Eu tinha amigos na infância, mas que também sofriam bullying apenas por serem meus amigos. Depois que eles se afastaram, fiquei ainda mais sozinho. É muito difícil saber em quem posso confiar, porque foi assim minha vida inteira”, diz ele, ao explicar o porquê de seu título (“Solitário”).”
“Entre as opções de livros humanos na lista do evento acompanhado pela reportagem da Folha, havia títulos como “Cego”, “Refugiado”, “Muçulmano”, “Perseguida pelo Marido” e “Autista”. “Nanna Juul-Olsen, 28, tem dois títulos na Biblioteca Humana de Copenhague. Em uma mesa de conversa, a voluntária dinamarquesa é o livro “Bipolar”. Minutos depois, em outra leitura, ela é “Bissexual”.
“O tema da conversa depende da escolha do leitor. Em alguns casos, quando os leitores perguntam relações e diferenças entre os livros, ela é, como em sua vida real, os dois títulos ao mesmo tempo.”
No Brasil, as Bibliotecas Humanas foram organizadas em Manaus, na Universidade Federal do Amazonas, no ano passado.
Deixo uma pergunta ao meu eventual leitor, diante dessa que me parece uma experiência interessantíssima: Se você participasse de uma dessas bibliotecas, que título daria a um “livro” seu?



terça-feira, 9 de abril de 2019

Prioridades


Alguns resultados da interessante pesquisa do Datafolha “Nós e as desigualdades”, feita em parceria com a ONG Oxfam Brasil.
Foram entrevistadas 2.086 pessoas para medir a percepção sobre a desigualdade no país. 

Os entrevistados tiveram de elencar também, em ordem de importância, 8 aspectos pré-definidos que levariam a uma melhoria de vida. Os resultados estão no quadro abaixo.



A religião vem à frente da educação, o que explica vários aspectos da vida nacional atual, incluindo a política. E terceiro lugar, saúde. Se somarmos os itens relacionados ao dinheiro (4o, 5o, 6o   7itens), chegamos a 30%, de fato a prioridade entre os entrevistados; comer é preciso. Cultura e lazer não constituem prioridade, o que também explica a deseducação geral da população. 
Os resultados falam por si. Enquanto a Educação não for a prioridade máxima não haverá solução, (quase) todos sabemos disso. 
Penso que a religião, quando assume caráter fundamentalista (como aquela que nega a evolução das espécies e prega o criacionismo), torna-se um obstáculo para a educação plena do indivíduo.
Interessante pesquisa, e triste.  







segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Adolescência ganha 5 anos


Adolescência ganha 5 anos: agora vai até os 24, e não só até os 19 anos de idade. É o que informa reportagem de Katie Silver, da BBC News (19/01/2018).  
            De fato, os jovens estão optando por estudar por um período de tempo mais longo; a decisão de adiar o casamento e a maternidade ou paternidade é cada vez mais frequente.
Pesquisadores australianos, em artigo publicado esta semana na Lancet Child & Adolescent Health, afirmam que a percepção das pessoas quando ao início da vida adulta está mudando, o que seria importante para assegurar que  leis que dizem respeito a esses jovens continuem sendo asseguradas.Outros especialistas, no entanto, dizem que postergar o fim da adolescência pode infantilizar os jovens.
A duração da adolescência já foi alterada antes, quando se concluiu que a puberdade iniciava antes dos 14 anos; caiu gradualmente no mundo desenvolvido nas últimas décadas até os 10 anos. Em países industrializados como o Reino Unido a idade média para a primeira menstruação de uma garota caiu quatro anos nos últimos 150 anos.
A biologia é usada como argumento por aqueles que defendem que a adolescência termina mais tarde, pois o corpo continua a se desenvolver. “O cérebro continua se desenvolvendo depois dos 20 anos, trabalhando de maneira mais rápida e eficiente. E para muitos os dentes do siso não nascem até que complete 25 anos.”
Susan Sawyer, diretora do Centro para a Saúde do Adolescente do Hospital Royal Children's em Melbourne, na Austrália, escreve: "Apesar de muitos privilégios legais da vida adulta começarem aos 18 anos, a adoção das responsabilidades e do papel de adulto geralmente acontece mais tarde. Postergar o casamento, o momento de ter filhos e a independência financeira significa "semidependência", o que caracteriza que a adolescência foi estendida.”
No Brasil, surgiu a chamada "geração canguru" (a permanência por cada vez mais tempo dos jovens na casa dos pais), nome dado pelo IBGE em 2013 ao “fenômeno que engloba pessoas de 25 a 34 anos e que vem crescendo no país”.
Sawyer afirma que esta mudança precisa ser levada em consideração pelos políticos, para que as leis e benefícios voltados a esse público sejam alterados. Russell Viner, presidente da associação Royal College de pediatria e saúde infantil, diz que no Reino Unido a idade média para um jovem sair de casa é 25 anos. Ele apoia a ideia de que a adolescência seja estendida até os 24 anos, para que o governo possa “garantir a provisão de serviços para crianças e adolescentes que precisam de atendimento especial (seja por abandono ou outro motivo) e que têm necessidades especiais em termos educacionais”.
Para Jan Macvarish, socióloga da Universidade de Kent, há um perigo em estender o conceito de adolescência. "Crianças mais velhas e jovens são moldados de maneira mais significativa pelas expectativas da sociedade sobre eles com o seu intrínseco crescimento biológico. Não há nada necessariamente infantil em passar o início dos seus 20 anos no ensino superior ou tendo experiências no mundo do trabalho. E não deveríamos arriscar transformar o desejo deles por independência em uma patologia.”
            Trata-se apenas do estabelecimento de um parâmetro teórico, portanto sem qualquer importância na vida dos jovens, ou a mudança pode trazer sérias consequências psíquicas e sociais? É esperar para ver.