terça-feira, 30 de julho de 2019

O encontro - Parte I


André e Suzete não se viam desde os tempos em que ela frequentava a oficina de escrita coordenada por ele e destinada a um grupo de psicanalistas em formação, ela, cabeleireira, convidada especial. Depois de tantos anos, se encontraram na cidade de ***.
            Para aqueles que não se lembram, eles se conheceram em um salão de beleza, onde André fora cortar cabelo em momento delicado de sua vida. Lá estava Suzete, que só cortava cabelo de homem, embora trabalhasse em salão feminino. O episódio está belamente relatado em Folhetim
http://loucoporcachorros.blogspot.com/search/label/Folhetim.
            Ambos gostam de literatura, adoram escrever cartas, gênero fora de moda, diga-se de passagem; a correspondência entre ambos prosperou, já são perto de 40 cartas, e a amizade também. De repente surgiu o desejo de se encontrarem, de falar um ao outro, de ouvir a voz do outro, de calar e apenas ouvir, de rir, até de chorar se fosse o caso. Daí o tão esperado encontro, tanta coisa para conversar.
            Abraçaram-se longamente na pequena rodoviária da cidade, trocaram palavras de carinho mútuo e saudade, hospedaram-se em modesto hotel na serra da Mantiqueira, em quartos separados. Jantaram no próprio hotel, beberam uma garrafa de vinho tinto de qualidade mediana, conversaram até tarde. 
            – Bom dia, Suzete! Dormiu bem?
            – Como uma santa, André. E você?
            – Acordei apenas uma vez durante a noite, espantado com o que acabava de sonhar. Antes de dormir, peguei a ler o Amós Oz, livrinho gostoso com o título Do que é feita a maçã, uma conversa com a editora Shira Hadad. Vou ler para você o trechinho que me interessou:

“Quando foram publicadas minhas primeiras histórias, há mais de cinquenta anos, fui até a secretaria do kibutz e disse: peço um dia por semana para escrever. Irrompeu ali uma discussão muito grande e muito dura. Não foi uma discussão entre pessoas ruins e pessoas boas, ou entre pessoas esclarecidas e pessoas obtusas. Os que se opuseram ao meu pedido tinham dois argumentos: um, todo mundo pode dizer que é artista. E quem vai ordenhar as vacas? Um vai querer fotografar, outra vai querer dançar, outro mais vai querer esculpir, e outra mais vai querer fazer filmes de cinema, e quem vai ordenhar as vacas?”
            
            – Suzete, adorei a pergunta “quem vai ordenhar as vacas?”
            – Também gostei, André. Quando uma menina começar a fazer corpo-mole no salão, agora vou logo dizendo, E quem vai ordenhar as vacas?
            A paixão de ambos pela literatura fez com que ela surgisse logo no café da manhã. Começou bem, com Amós Oz.
            – Suzete, você não sabe o mais interessante da história.
            – Me conte.
            – Dormi com o livro do Amós nas mãos, e sonhei com ele. Sonhei que ele estava deitado em uma cama muito simples, dessas de hospital, encostada na parede. Embora doente, mostrava largo sorriso, alegre, amável, gentil para comigo. Ajudei-o a vestir uma blusa de lã vermelha, ele sentado na cama. Acordei feliz, Suzete. Fechei o livro e voltei a dormir.
            – Que sonho lindo, André. A blusa era vermelha!
            – Isso mesmo, havia cor no sonho, havia vida no sonho. Sinto profundo afeto por Amós Oz, e vou lamentar sempre que ele não tivesse ganhado o Nobel.
            Terminado o café da manhã tomaram um taxi e foram conhecer o belo parque no limite da cidade, no alto da serra, com linda vista para todo o Vale do Paraíba. A impressionante cachoeira com o tradicional nome Véu de noiva não podia faltar.
            Suzete contou algumas novidades sobre seu novo salão – agora era proprietária –, falou das dificuldades em lidar com empregados, do aperto financeiro; mantinha, é claro, o hábito de só cortar cabelo de homem. André ouvia tudo com muita atenção. 
Demorou pouco e a conversa recaiu sobre a escrita. Suzete reclamou da dificuldade para melhorar a própria escrita.
– Sabe, André, não posso mais continuar copiando seu estilo, que gosto muito, mas é o seu estilo. Preciso adquirir o meu próprio estilo, e isso é difícil pra caramba. Meu sonho era publicar um livrinho com histórias acontecidas no salão de beleza. O que você acha? Muita pretensão para uma cabeleireira?
– Acho ótima ideia! O fato de ser cabeleireira conta a seu favor, Suzete, as experiências são suas e ninguém melhor para relatar elas. Sossegue, ajudo você na empreitada. Se tem o desejo, é o que basta: escrever é preciso. Faça como o nosso Amós Oz, peça um dia para escrever!

Fim da Parte I

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Caryota mitis, flor-borboleta


Nome Científico: Caryota mitis
Sinonímia: Caryota furfuracea, Caryota griffithii, Caryota javanica, Caryota nana, Caryota propinqua, Caryota sobolifera, Caryota speciosa, Drymophloeus zippellii, Thuessinkia speciosa
Nomes Populares: Palmeira-rabo-de-peixe, Cariota-de-touceira , Palmeira-rabo-de-peixe-de-touceira
Família: Arecaceae
Categoria: Árvores, Palmeiras
Clima: Equatorial, Mediterrâneo, Oceânico, Subtropical, Tropical
Origem: Ásia, Birmânia, Bornéu, China, Filipinas, Java, Malásia, Oceania, Sri Lanka, Tailândia, Vietnã


***

No dia 7 de julho iniciamos o registro fotográfico da abertura da flor da nossa cariota. Ela aparece parcialmente envolta pela capa protetora, resistente, e seu desabrochar começa pela parte média; ela permanece fortemente presa nas extremidades. O processo iniciou-se já a alguns dias.



Cinco dias depois, acentua-se o desabrochar. Os pendões estão presos ainda nas extremidades, aparentemente prontos a se desfazerem.



Após 6 dias temos a impressão de que a flor estará livre a qualquer momento.



A foto mostra em detalhe a interessante amarração inferior.



Nove dias depois a flor ainda permanece atada nas extremidades. 



Visão do lado oposto, 18 dias depois do primeiro registro, mostra pequena parte dos pendões já soltos. A amarração prossegue.



Vinte e três dias depois a flor está prestes a se libertar.

 


Após 24 dias – um longo período de tempo – desfaz-se a amarração superior, abre-se a flor, o casulo fibroso ainda pendurado.  



E o processo termina, com um mês de duração. Por que é tão lento? Penso em uma borboleta que sai lentamente de seu casulo. Maturação?



Fotos: AVianna, jul 2019, jardim.
iPhone8, sem qualquer edição.

domingo, 28 de julho de 2019

jade azul




efêmera flor
capricho da natureza
jade deslumbrante



Foto: AVianna, jul 2019, jardim

Realidade e literatura


Ao voltar de reunião familiar, onde fora apaziguar ânimos, a esposa perguntou:
– Como foi lá?
– Nada que Dostoiévski já não tenha descrito.

sábado, 27 de julho de 2019

Exercício cotidiano


Exercício cotidiano e permanente: abro Grande Sertão: Veredas em uma página qualquer, encontro trecho interessantíssimo, sempre, leio com enorme prazer, que desejo repartir neste blog.


(Clique para ampliar) 

            O demônio é motivo de frequentes especulações em todo o livro, desde a primeira página, segundo parágrafo:

“Do demo? Não gloso. Senhor pergunte aos moradores. Em falso receio, desfalam no nome dele – dizem só: o Que-Diga. Vote! não... Quem muito se evita, se convive.”

            No trecho em destaque o narrador começa a reparar no cão; aos poucos; não tira mais a ideia da cabeça; e de repente percebe que o demo era digno de pena e medo. Mas então ele recobra a lucidez: “Do demônio não se pode ter pena”; porque ele chega “manso mansinho”; mas logo vira o que realmente é, “dôido sem cura”, muito perigoso.
            Lembro-me muito bem de uma jovem que certo dia me perguntou, provocadora, O senhor acredita no demônio?, ao que respondi de pronto, peremptório, Não, e ela estremeceu, e perguntou, O senhor não tem medo de dizer isso em voz alta, Não, respondi, Não acredito nele nem nos poderes dele, e ela estremeceu novamente, e calou-se. Anos depois, percebi que o temor pelo demônio havia diminuído nela. Desaparecido, não.
            Abrir o grande sertão aleatoriamente pode tornar-se exercício diário para quem gosta de literatura e de pensar a vida.



Referência: Edição Comemorativa, Ed. Nova Fronteira, 2006, pg. 214.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Parabéns a Suzete


Querida Suzete,

releve meu silêncio. Ainda abatido com a morte de minhas amadas Falena e Juliette, ando sem ânimo para escrever, remoendo o luto. Porém, escrever a você me ajuda a recuperar a alma, é terapêutico – repito sempre. (Procuro outro cão de guarda, pessoa que imponha respeito, que meta medo e afaste malfeitores. Mais que isso, que seja meu amigo.)
            Preciso comentar sua última carta. (http://loucoporcachorros.blogspot.com/2019/05/suzete-vai-outro-mundo-e-volta.html)  Foi a mais bem escrita que jamais me enviou, Suzete! E o mote – Estamos A Falar De Outro Mundo – nem era tão bom assim, mas você foi longe. Você é uma escritora e merece meus parabéns pelo dia de hoje, Dia do Escritor. Continue escrevendo, faz bem à saúde.
            Procuro cuidar da minha saúde mental, PRECISO cuidar da minha saúde mental. Outro dia um grande amigo, irmão mesmo, disse que estou ficando intolerante. Aquilo me abalou, me abalou porque eu já sabia disso, mas ouvir assim na lata foi uma porrada, custei a digerir, porque sei que se trata da reafirmação inequívoca do processo de envelhecimento cerebral, a acentuação de traços preexitentes. O traço intensificado, ampliado, surge sem que eu possa controlá-lo. Pedir desculpas não resolve. Às vezes penso que o silêncio é a solução, porém até manter-se em silêncio é difícil em determinadas situações, especialmente quando tenho alguma opinião formada sobre o assunto, como: Crianças Precisam Ir À Escola. Melhor não ter opiniões formadas...
            O que, de certa forma, sugere que estou vivo, isso de me abalar com uma porrada. (Sem que tenha o desejo de retribuí-la.)
            Manter o Loucoporcachorros sempre atualizado é outra forma de me sentir vivo. Notícias comentadas, meus quadros favoritos, mais recentemente a Galeria de Família, com pequenos textos a ilustrar as fotografias antigas, as fotografias do jardim acompanhadas de sofríveis haicais (que, penalizado, meu irmão elogia), e suas cartas, Suzete, que fazem sempre enorme sucesso.
            E la nave va.
            De repente, uma surpresa. Encontrei um novo amigo! Conversamos conversamos conversamos, sobre tudo, às vezes sobre nada, passa o tempo, o tempo voa, anoitece, nem damos conta, Moisés é de uma docilidade ímpar, e nem um pouco intolerante, um espírito superior. Faz-me bem.
            Pronto, aqui está minha resposta, querida Suzete, na expectativa de uma sempre adorável resposta sua.
            Do amigo de sempre, com saudade,

                                                           andré

Tenryu Riverbed

Meus quadros favoritos





Toshi Yoshida (1915-1995)

Visita de João Gilberto




Trecho do conto que dá nome ao livro de Sérgio Rodrigues, A visita de João Gilberto aos Novos Baianos (Companhia das Letras, 2019).
No dia do Escritor, minha homenagem a Sérgio Rodrigues.



quarta-feira, 24 de julho de 2019

Hiato


A ansiedade o fez chegar antes da hora marcada. Algumas décadas se passaram desde que esteve naquele ateliê pela última vez. A recepcionista o deixou à vontade no salão principal, enquanto a antiga professora terminava a última aula do dia. O encontro havia sido agendado por uma querida amiga. Somente ela ainda era capaz de convencê-lo a sair de casa nos últimos tempos.
Andou lentamente entre as estantes, observando as mesmas caixas de plástico, organizadas alfabeticamente e identificadas por etiquetas: cartolinas, lápis coloridos, papel machê, origamis, pinceis, telas, tintas. Lembrou-se da escada de mármore. Reconheceu os quadros e os leques espanhóis. Sentiu-se observado pelas bonecas e máscaras vienenses. Estava mudado.
Portador de um talento inquestionável e inovador, conquistou sucesso e fama de forma muito rápida. Suas linhas e cores fluíam de maneira harmoniosa, praticamente sem necessidade de retoques. Sua obra parecia já estar pronta dentro dele. Quebrou paradigmas sagrados e seculares. Era como se o tempo estivesse a sua espera. 
 Produziu incansavelmente, viajou o mundo, expôs nas mais prestigiadas galerias. Dominou todas as técnicas para em seguida transformá-las. Criou estilos e influenciou tendências por mais de uma década, no que pode se definir como um autêntico estado de arte. Parecia ser a verdadeira encarnação do espírito do seu tempo. 
Sentou-se em uma das mesas próximas à varanda, de frente para o gramado, logo abaixo do grande vitral colorido. Algumas lembranças voltaram a sua consciência. Olhares brilhantes, conversas sem entrelinhas, sorrisos fáceis, inseguranças, vida pela frente. Teve dúvidas se essas memórias eram mesmo agradáveis. Sua percepção atual  já contaminava o passado.  
Ninguém entendeu quando os contratos foram rescindidos, as viagens canceladas e os cavaletes desmontados. O recolhimento foi respeitado, mas nunca compreendido. Nem a família nem os amigos mais próximos conseguiam alcançá-lo. Nunca havia passado por isso. Semanas, meses e anos de completa infertilidade.
 Era como se toda a mensagem já tivesse sido dada e nada mais houvesse para ser dito. Parecia já ter cumprido sua missão. Não se desesperou, fez pior. Resignou-se ao que entendeu como destino. Sua arte não amadureceria. Porém, lentamente a ausência de vontade começou a afetar tudo. Perdia o tônus do corpo e da alma.
A professora entrou pelo ateliê silenciosamente. Escondeu toda preocupação sorrindo apenas com os olhos, como sempre fez. Já o esperava. Sentou-se ao seu lado. Permaneceram olhando para o gramado, sob os últimos raios de sol, juntos. Nenhuma conversa. Teriam um longo e incerto caminho pela frente.

                                             Moisés Lobo Furtado     26/06/2019

Nota do blogueiro: É com enorme satisfação que publico os textos do meu amigo Moisés neste blog. Uma honra!

terça-feira, 23 de julho de 2019

Ondina faz o pastel da Maria

Galeria de Família

Ondina era ótima cozinheira, conhecedora dos princípios da economia doméstica e do valor nutritivo dos alimentos, de modo que preparava refeições saborosas, saudáveis e baratas. Bem, segundo os princípios dela... (Não podia faltar doce ao final das refeições, mesmo que fosse um pedaço de goiabada cascão.)
            As fotos que se seguem, tiradas no apartamento dela em Lorena, onde residiu nos últimos anos de vida, mostram Ondina fazendo pastel, mas não qualquer pastel, é o pastel da Maria. Não é a primeira vez que ele, o pastel da Maria, é citado neste blog. 
            Para quem ainda não conhece a Maria, veja: http://loucoporcachorros.blogspot.com/2019/06/a-bondade-de-maria.html

            O lado triste da história é que Ondina foi a única pessoa a replicar o tal pastel, e o fazia com perfeição. Antes de morrer, “consta que” – expressão muito usada por ela – deixou a receita do pastel com a neta Flora e o filho Paulo. Tragédia: ambos perderam a   receita. 
            Quem comeu, comeu, quem não comeu não come mais!

P.S.: Se alguém souber de um programa de computador que, diante da foto do pastel, seja capaz de reproduzir a receita, avise imediatamente, por favor.




 




Fotos: AVianna, Lorena, SP





Cavalo-marinho em Búzios

A foto do dia




"Cavalo-marinho fêmea encontrado na Laje do Criminoso, em Búzios, Rio de Janeiro. Todas as espécies de cavalos-marinhos estão em perigo de extinção. As principais causas são a pesca predatória, a destruição do seu habitat e a captura frequente desses belos animais para serem vendidos como peça de decoração. Eduque seus conhecidos a nunca comprarem cavalo-marinho como souvenir!"
                     
Paula Vianna

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Visitas prolongadas em UTI




Foto:Folhapress

De modo geral, as visitas em uma UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) são restritas a cerca de duas horas diárias, o que pode causar impacto na saúde de quem não está doente, ou seja, nos familiares. O estudo em questão resolveu testar os efeitos da ampliação do tempo de visita dos familiares para 12 horas por dia. A reportagem é de Paula Sperb para a Folha de S. Paulo (22.jul.2019).
            “Resultado: a mudança reduziu em 50% os sintomas de ansiedade e depressão que os parentes desenvolvem no período em que alguém da família está na UTI sem aumentar o risco de infecções para os pacientes.”
            “É tão efetivo quanto um antidepressivo, mas sem os efeitos adversos. Sabe-se que aproximadamente a metade dos familiares desenvolve níveis patológicos de depressão. Ter uma estratégia para reduzi-los é muito importante”, explica o médico pesquisador Regis Goulart Rosa, que coordenou a pesquisa UTI Visitas, publicada na edição mais recente do Jornal da Associação Americana de Medicina (Jama).”
“O estudo foi conduzido pelo Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, dentro do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS) do Ministério da Saúde, e realizado em 36 UTIs de hospitais públicos e filantrópicos do Brasil. Em São Paulo, o estudo foi feito no HCor (Hospital do Coração) e no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. No total, 1.685 pacientes e 1.295 familiares participaram do estudo.
O tempo reduzido de visitas à UTI advém da ideia de que o contato com mais pessoas por mais horas resulta em maior risco de infecções aos pacientes e maior estresse para as equipes médicas. O estudo, porém, desmente o risco ampliado de infecções e conseguiu minimizar a possível sobrecarga dos profissionais educando os familiares sobre o funcionamento de uma UTI. Acompanhantes receberam as devidas instruções e aprenderam sobre o que faz cada profissional, como enfermeiros intensivistas, médicos e técnicos de enfermagem. 
O estudo avaliou ainda se a presença prolongada dos visitantes poderia diminuir a confusão mental dos pacientes, mas os resultados mostraram não houve diferença.
Pareceu-me ótima iniciativa; talvez haja necessidade de novos estudos, em diferentes instituições, para uma conclusão definitiva.
                        


Dois amigos


...
– tem conversa amanhã?
– oba! – por mim, tem.
– lá em casa?
– ou na minha...
– dessa vez lá em casa.
– está bem, a que horas?
– 4 horas está bom?
– 3 e meia, mais tempo pra conversar.
– ótimo!
– vou de Uber, a gente bebe tranquilo.
– “vai que anoitece...”
– e a gente conversando...
...

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Mundo estranho


Em crônica dominical muito doida para a Folha de S. Paulo (14 jul 2019), Fernanda Torres escreveu: “Envelhecer é estranhar o mundo, é se irritar e lamentar. Deve ser um artífice da natureza , um jeito de você não desejar estar mais vivo, não aqui, não agora, nesta festa estranha com gente esquisita.”
            Doravante – só um velho usaria uma palavra dessas –, esta será minha definição definitiva do que significa envelhecer. Envelhecer é estranhar o mundo. O vocábulo estranho é no mínimo estranho, porque não precisa nada, deixa tudo no ar, informa apenas que algo está fora do lugar mas não diz onde. 
            Aquilo que é estranho incomoda. Incomoda porque é diferente, fora do comum, anormal mesmo. Tudo que é misterioso, enigmático, desconhecido, novo enfim, incomoda muito. 
            Quando não sabemos definir algo novo, e principalmente que causa algum mal-estar, dizemos que é estranho. Quando dizemos isso do mundo é porque estamos velhos, disse-o bem Fernanda Torres. Esse mundo já não é o nosso, aquele onde nascemos, crescemos, aprendemos a reconhecer como nosso habitat.
            Tal estranheza nos causa irritação. É claro! Porque então somos nós que nos tornamos estranhos a esse mundo. Já não reconhecemos o mundo como nosso, nem o mundo nos reconhece como pertencentes a ele. Somos verdadeiros ETs. A que mundo pertencemos então? Uma grande dose de irritação está entranhada nessa pergunta, dá para perceber? A que mundo pertencemos, porra?
            Resta-nos apenas lamentar, porque não há nada que se possa fazer sobre isso.
            O corolário dessa afirmação peremptória de Fernanda Torres, a de que envelhecer é estranhar o mundo, é ainda mais interessante: é um jeito de não desejarmos mais estar vivos! E isso é natural, ou seja, nos é oferecido pela própria natureza, verdadeira dádiva, diante do estranhamento causado pela velhice.
            A tal gente esquisita que agora nos cerca nos irrita e lamentamos o tempo todo por isso. Coisa de velho.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Paulo Henriques Brito poeta




BALANÇOS

II

Como saber sem tentar?
Como tentar se é tão fácil
conformar-se de saída
com a ideia de fracasso?

Pois fracassar justifica
o não se ter nem sequer
admitido não querer-se
aquilo que mais se quer.

É um beco sem saída,
mas sempre é melhor que a rua:
mais estreito. Acolhedor.
Vem, entra. A casa é sua.

                                          Paulo Henriques Brito
                                          In: Tarde, Companhia das Letras, 2007

Djokovic campeão

A foto do dia



Djokovic bate Federer e vence Wimbledon

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Visita a Lorena

Galeria de Família

Ondina, a idade avançada, mora em Lorena, junto ao filho Paulo Sergio. Além da mãe, estão presentes os dois filhos e o sobrinho querido, Camilo. Todos parecem bastante felizes.
          Na segunda fotografia está presente Mercêdes Fabiana, em visita à sogra. A sogra tem um olhar de espanto ou enfado, a nora faz força para sorrir. Ou tudo é delírio meu...






Estrutura social dos gorilas



Os gorilas vivem em pequenas unidades familiares,
com um macho dominante, várias fêmeas e filhotes.
Foto: REUTERS/Thomas Mukoya


“Os gorilas têm uma estrutura social mais complexa do que se imaginava e muito similar à das sociedades humanas, revela novo estudo. As descobertas sugerem que os nossos sistemas sociais remontam ao ancestral comum entre humanos e macacos e não teriam se originado do “cérebro social” dos hominídeos surgido depois de se separarem dos outros primatas.” A reportagem é de  Roberta Jansen, para O Estado de S.Paulo (11 jul 2019).
O estudo foi baseado em  dados coletados na República Democrática do Congo ao longo de quase vinte anos. “Estudar a vida social dos gorilas não é fácil”, afirmou a principal autora do estudo, Robin Morrison, uma bioantropóloga da Universidade de Cambridge. “Os gorilas passam a maior parte do tempo em florestas densas, e pode levar anos até que se habituem à presença de humanos.” 
Os gorilas costumam se reunir para se alimentar da vegetação aquática em clarões na floresta. A maior parte das informações vem da clareira Mbeji Bai, onde cientistas trabalham há mais de vinte anos. 
“Os gorilas vivem em pequenas unidades familiares, com um macho dominante, várias fêmeas e filhotes. Alguns machos vivem isolados, como “solteirões”. 
“Além da família imediata, existem indivíduos com quem são mantidas interações regulares – um grupo de aproximadamente 13 gorilas. Nas sociedades humanas tradicionais, esse grupo poderia ser comparado ao da “família estendida”, ou seja, tios, avós, primos.” 
“Para além desse grupo, há um outro que envolve, em média 40 gorilas, e que seria similar ao de agregados entre os humanos, gente que passa muito tempo junto sem necessariamente ter alguma relação de parentesco. “Fazendo uma analogia com os primeiros assentamentos humanos, seria como uma tribo ou pequeno assentamento, um vilarejo”, disse Morrison.” 
“Quando os machos dominantes (os de costas prateadas) são aparentados, as chances de conviverem na mesma “tribo” é maior.” 
“Ao longo da vida, as fêmeas frequentam vários grupos ao mesmo tempo, o que torna possível que machos não aparentados cresçam nos mesmos ambientes, como se fossem irmãos postiços. E os laços que eles criam levam a essas associações que vemos quando estão adultos.”
“Às vezes, explica a pesquisadora, quando os jovens machos deixam suas famílias originais, mas, ao mesmo tempo, ainda não estão preparados para formar o seu próprio núcleo familiar, eles formam grupos somente de machos solteiros. Soa familiar?”
“Essa estrutura social que constatamos entre os gorilas provavelmente já estava presente entre os primatas antes de a nossa espécie divergir das demais; uma estrutura que se adapta muito bem ao modelo de evolução social humana”, explicou Morrison. “Nossas descobertas oferecem ainda mais indícios de que esses animais ameaçados são profundamente inteligentes e sofisticados e que nós, humanos, talvez não sejamos tão especiais quanto gostamos de acreditar.” 
Desejo acrescentar apenas: talvez, não; não somos tão especiais quanto gostamos de acreditar.
Dito de outra maneira: somos especiais na medida em que a evolução das espécies, inicialmente descrita por Darwin, é um processo especialíssimo, fantástico, maravilhoso, de tal modo que todos os seres vivos desenvolvidos a partir dele são verdadeiramente especiais.





terça-feira, 9 de julho de 2019

escândalo




manhã de sol
as orquídeas brilham
escandalosamente


Foto: AVianna, abr 2019, jardim
IPhone8

Tiro de guerra

Galeria de Família




Estranhas fotografias! É o registro de nosso pai fardado para o Tiro de Guerra. Eu não sabia o que era o Tiro de Guerra. Então fui à wikipedia.

“O Tiro de Guerra (TG) é uma instituição militar do Exército Brasileiro encarregada de formar atiradores e ou cabos de segunda categoria (reservistas) para o exército. Os TGs são estruturados de modo que o convocado possa conciliar a instrução militar com o trabalho ou estudo, proporcionando a milhares de jovens brasileiros, principalmente os que residem em cidades do interior do país, a oportunidade de atenderem a Lei e prestarem o Serviço Militar Inicial. 
A organização de um TG ocorre em acordo firmado com os Municípios e o Comando da Região Militar. O exército fornece os instrutores (normalmente sargentos ou subtenentes), fardamento e equipamentos, enquanto a administração municipal disponibiliza as instalações. Por isto, geralmente, o prefeito se torna o diretor do tiro de guerra.”


segunda-feira, 8 de julho de 2019

Charge de inverno

Charge do dia




Artista de cinema

Galeria de Família



Esta Galeria de Família não é composta apenas de registros do passado. Algumas fotos de hoje, de tão memoráveis, passam a figurar com destaque.
            É o caso ocorrido neste rigorosíssimo inverno lorenense, quando o poeta Paulo Sergio foi flagrado tiritando de frio, usando meias, enrolado em um cachecol. Mais parece um artista de cinema!

Foto: Marion Brasil Viana, jul 2019, Lorena, SP.

O ano de 1963


O ano de 1963, quando cursava o segundo científico no Instituto de Educação Conselheiro Rodrigues Alves, foi de plena felicidade. A camaradagem entre os colegas – a fotografia revela bem aquela convivência –, o futebol todas as tardes, o passeio na praça central à noite, os namoricos, tudo isso e muito mais no auge da adolescência. 
            A ruptura foi violenta, quando toda a família mudou-se para o Rio de Janeiro, no início de 1964. 


Futebol de mulher


...
– e as americanas ganharam a Copa!
– a copa e a cozinha
–  o que é isso, rapaz!
– detesto futebol feminino
– meu deus, por que?
– não é futebol
– por que não?
– falta técnica e a mínima força necessária
– são mulheres
–  pois é, há limitações físicas
– preconceito machista?
– conceito sobre o esporte
– definitivo?
– pode ser que melhore
...

domingo, 7 de julho de 2019

Infecção pela ideologia


Em seu artigo Partos ideológicos, para a Folha de S.Paulo (28.jun.2019), Hélio Schwartsman pergunta se a “cesariana sem indicação médica é, afinal, um direito da mulher ou um crime contra a saúde pública?” O texto é interessantíssimo, como quase tudo que o articulista escreve. Mas o que me interessou mesmo foram algumas análises sobre ideologia.
            Afirma Schwartsman: “Ideologia é um troço esquisito. Ela está sempre em busca de novos temas, que levem as pessoas a posicionar-se mais em razão de lealdades de grupo do que de uma análise objetiva do problema.
Um caso bem documentado é o do aquecimento global. Até o fim dos anos 90, essa não era uma questão ideológica. Pesquisa Gallup nos EUA mostra que, em 1998, 47% dos eleitores republicanos e 46% dos democratas concordavam com a afirmação de que os efeitos do aquecimento global já se faziam sentir. Em 2018, os números eram 34% para os republicanos e 82% para os democratas.
Algo parecido está ocorrendo com outros temas científicos, como a vacinação e as cesarianas. ...Tomadas de decisão envolvem sempre um juízo de valor, que vai além das descrições oferecidas pela ciência.” 
            O que Schwartsman não escreveu, e que me interessa pensar sobre ideologias, é que, uma vez assumida determinada posição, o sujeito não muda mais. Ele é republicano para a vida toda, ou é democrata para a vida toda. É pior que torcedor de futebol: de time não se muda, o menino aprende na infância. Uma vez Flamengo, sempre Flamengo; o que serve para o Corinthians, Palmeiras, Vasco, etc.
            Se o sujeito advoga certa crença religiosa, isso pode determinar sua aceitação ou ferrenha rejeição às vacinas, e não muda mais. (Quem sofrerá serão os filhos.)
            Uma vez PT, sempre PT, por pior que seja o estrago, a corrupção, a desgovernança. 
            Muda o governo; a família imperial lança uma pedrada em nossa porta a cada dia; declarações disparatadas caem diariamente nas redes sociais; o fundamentalismo religioso assola o país; o Brasil torna-se motivo de escárnio aqui e no exterior. Porém, uma vez bolsonarista, sempre bolsonarista.
            Trata-se de doença nacional, infecção pela ideologia.



Morre João Gilberto

Homenagem


Foto: Eduardo Nicolau / Estadão