“Se
houver um único paciente para o qual a droga possa trazer benefícios, já é
moralmente errado proibi-la.”
A frase é de Hélio Schwartsman, na
crônica Cada macaco no seu galho,
para a Folha de S.Paulo (24 jun 2017). O tema central era a controvérsia sobre
a liberação de medicamentos emagrecedores, anteriormente banidos pela ANVISA.
Schwrtsman admite que os resultados do
uso de tais drogas não são animadores, que há “elevado risco de efeitos
adversos”, e que “é sempre perigoso utilizá-los”. Mesmo assim, afirma que “Se
houver um único paciente para o qual a droga possa trazer benefícios, já é
moralmente errado proibi-la”, repito.
Aqui, não estou interessado nos tais
medicamentos, em sua proibição ou liberação. O que me interessa é como o grande
pensador Hélio Schwartsman formula suas ideias, em que bases ele as erige,
filósofo que é, apoiado no bom funcionamento de seu aparelho de pensar, a ponto
de afirmar, categórico, que é
moralmente errado proibir se houver um único paciente para o qual a droga possa
trazer benefícios.
Como médico que fui, no exercício da
Medicina, teria dificuldade em prescrever uma droga amparado no fato de que,
moralmente, se beneficiasse um único paciente, e prejudicasse centenas ou
milhares deles, esta droga deveria ser utilizada. Há casos de morte registrados
com o uso de tais drogas. Seria então
lícito dizer, segundo a lógica de Schwartsman, que bastasse a morte de uma
pessoa para que tais medicamentos fossem proscritos?
Tenho profunda admiração por Hélio
Schwartsman, sou leitor assíduo das crônicas dele, reconheço nele uma
capacidade de pensar extraordinária, quase sempre de modo consequencialista.
Será então que, em certas situações, surge uma dicotomia entre a filosofia e a
prática, entre o modo de pensar e o modo de fazer? Gostaria muito de saber o
Schwartsman acha disso.
Por
ora, vamos pensar sobre isso.