domingo, 27 de setembro de 2015

Comparação...

Tudo na vida a gente tem que comparar. Mania humana!

Atualizando, pois, nosso escore de filmes em cartaz:


A hora e a vez de Augusto Matraga ★★★★★

Tristeza e alegria ★★★★

Que horas ela volta? ★★★★

Homem irracional ★★

Ricki and The Flash ★★★

Infância ★★★★

Pequeno dicionário amoroso 2 ★★

Adeus à linguagem (Godard) o

Diário de uma camareira o


Liberdade perigosa

Gosto de afirmar que a velhice tem uma única vantagem: o velho tem liberdade para dizer o pensa, e quase sempre é ouvido com respeito, com tolerância, mesmo que não concordem com ele. O velho vê uma menina bonita na rua, no shopping, no cinema, olha para ela, mesmo que esteja acompanhada, e diz, Mas você é linda! Se está acompanhada, diz ao namorado, Parabéns, sua namorada é linda! E ninguém se ofende, ninguém fica bravo, ninguém pensa em tirar satisfação com o velho. É apenas a opinião de um velho! Condescendentes, as pessoas riem da inofensiva franqueza do velho. A opinião dele não pode fazer mal a ninguém.
Mas cuidado, há um grande perigo nessa prerrogativa, a de dizer bobagem da grossa, pensando que está abafando!
            Não será este o caso do nosso queridíssimo Carlos Heitor Cony, em sua crônica de hoje (27/9) –  O poema e a poesiana Folha de S. Paulo?
            Vejamos o que escreve Cony:

“Não gosto dos poemas. Do ângulo em que me coloquei na vida e no mundo, nada do que vejo, sinto, recebo ou dou tem alguma coisa a ver com aquilo que, à falta de nome melhor, chamamos de poesia. A poesia existe e não precisa de poema. Qualquer veículo (até mesmo a carroça de boi) pode transmitir a poesia: a pesca, a filatelia, o futebol, o pôr do sol da folhinha do armazém.”

E arremata o cronista, de forma definitiva:

“Prefiro o nada, por isso nunca fiz um verso.”

Confesso que aprecio a liberdade (e a coragem) de Cony para dizer o que pensa. Haveremos de concordar com ele que há poesia no ranger de um carro-de-bois, no voo de um colibri, até mesmo num gol-de-placa numa tarde de domingo. Porém, chamamos isso de poesia por causa do poema. É o poema que nos oferece a ideia da poesia, e não o contrário, como sugere Cony.
            Uma pedra no meio do caminho sempre foi apenas uma pedra no meio do caminho, não havia poesia nisso, até que o poeta afirma que “No meio do caminho tinha uma pedra”. Pronto, o poema transforma a pedra no meio do caminho em poesia!
            Gosto de pensar que são infinitas as manifestações do Belo expressas na Natureza, mas a isso não chamamos Arte. Apenas o homem produz Arte. Portanto, sem dúvida são infinitas as manifestações de poesia na Natureza, mas é por causa do poema – uma construção humana – que as denominamos Poesia.
            Entretanto, é preciso considerar que faço tais afirmações destemidamente, irresponsavelmente, levianamente, apenas porque sou velho!




A hora e a vez do Cinema Nacional



“Matraga não é Matraga, não é nada.”
Assim Guimarães Rosa inicia seu famoso conto A hora e a vez de Augusto Matraga. Com estas mesmas palavras tem início o monumental filme de Vinícius Coimbra, homônimo ao conto, que acaba de ser lançado em poucos cinemas por falta de verbas, o mesmo motivo que retardou sua apresentação, desde que foi premiado no Festival do Rio em 2011.
Digo que o filme é monumental para não perder tempo com mais adjetivos. É épico! As interpretações de João Miguel e José Wilker entram para a história do Cinema Nacional.
A locação, Diamantina, é belíssima. Muitas das falas dos atores são fieis ao texto rosiano, o que valoriza em muito os diálogos.
Como toda a obra de Rosa, o tema central é universal; porém, resumi-lo à eterna luta entre o Bem e o Mal é empobrecê-lo. Há muito mais na conversão de Augusto Estêves, de codinome Matraga.
Para os que já conhecem a história, o filme de Coimbra acrescenta em emoção, beleza, ação, relações humanas, amor e ódio. Para os que não a conhecem, o filme será uma grande surpresa, e a motivação que faltava para a leitura do conto, uma das histórias de Sagarana, obra seminal de Guimarães Rosa, cuja primeira publicação ocorreu em 1946.

Cinco estrelas é pouco para A hora e a vez de Augusto Matraga, do diretor Vinícius Coimbra!