terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Emoghyphs



Uma das peças da exposição. Foto: Isabel Kershner


“Exposição no Museu de Israel, em Jerusalém, Emoglyphs: Picture-Writing From Hieroglyphs to Emoji (Emóglifos: a escrita pictórica, do hieróglifo ao emoji, em tradução livre), mostra a aparentemente óbvia, e ao mesmo tempo complexa, relação entre o sistema icônico de comunicação da Antiguidade e a língua franca da era cibernética.” É o que revela a reportagem de Isabel Kershner, do New York Times / Jerusalém, para O Estado de S.Paulo (27 jan 2020). (Tradução de Roberto Muniz.)

“Sempre foi difícil explicar como se leem hieróglifos”, disse Shirly Ben Dor Evian, egiptóloga e curadora da mostra. “Mas hoje ficou mais fácil porque as pessoas estão escrevendo com desenhos. Por isso comecei a prestar atenção em emojis.” 
Evian notou que alguns emojis parecem hieróglifos. “Um cartaz na entrada da exposição contrapõe uma coluna de hieróglifos a uma de emojis. As similaridades são indiscutíveis e não há necessidade de tradução.” “A representação egípcia de um cão genérico tem uma semelhança muito próxima com um cão de emoji mostrado de perfil. Um pato, imagem frequentemente usada nos hieróglifos para simbolizar uma criatura alada, reaparece milhares de anos depois como um pato de emoji. E um homem dançando num emoji faz uma pose semelhante à de um dançarino de hieróglifo de 3 mil anos.”
“Hoje é mais fácil clicar num emoji que escrever uma palavra inteira”, afirmou Ben Dor Evian, que tem um aplicativo de hieróglifo no celular. Emojis são uma taquigrafia emocional. Pense no poder de um coração mandando um beijo, ou de uma cara cínica significando sarcasmo, quando ilustram um sentimento que uma inexpressiva mensagem de texto não consegue expressar.”
Em 2015, os Dicionários Oxford elegeram o emoji de um rosto com lágrimas de alegria como sua palavra do ano, dizendo que ele expressava “o comportamento, os sentimentos e as preocupações” do período.   
Há quem discorde: “Chaim Noy, professor de comunicações da Universidade Bar Ilan, em Tel-Aviv, considera simplista e populista falar em emoji como nova linguagem. Ele vê os símbolos apenas como uma espécie de linguagem corporal que suplementa o texto.”

Este blogueiro, que nada entende do assunto, como sempre, mas é mestre na arte de palpitar, fica com o ponto de vista do Prof. Chaim! Quando acessamos o Facebook, fica evidente que a generalizada utilização dos emojis empobrece a comunicação. Perco um bom tempo da manhã para escrever um texto de interesse geral, sobre ciência, por exemplo, publico no blog, e quem o acessa via Facebook coloca apenas uma mãozinha amarela com o polegar virado para cima. (Talvez por educação o polegar não está para baixo...)
O valor da escrita tem sido enaltecido ad nauseam neste blog. Enfatizo, sempre que posso, o que denomino Escrita terapêutica, que tem o poder de organizar nossos pensamentos, abrir a mente para novas perspectivas, pensar alternativas, utilizar realidade e ficção para expandir o “aparelho de pensar” (Bion) , acalmar o espírito. Não posso imaginar os emojis cumprindo tal tarefa. (O que pensaria Machado de Assis sobre isso tudo?)
Há uma agravante: quanto mais se usa o emoji, menos se escreve, até que um dia todos serão analfabetos.
Mesmo assim, gostaria muito de visitar a exposição em Jerusalém, e continuar pensando no assunto.


Ateliê de Helena Lopes


Arte de Helena Lopes já apareceu neste blog (30 dez 2018), a enaltecer a produção da artista plástica radicada em Brasília.  (https://loucoporcachorros.blogspot.com/2018/12/a-arte-de-helena-lopes.html)
            Agora voltamos a nossa amiga, para magnífica visita ao seu ateliê, na sua própria residência no Lago Sul, Brasília, em companhia de meu amigo Moisés. A casa em si mesma é uma obra de arte, decorada com enorme bom gosto, naturalmente. 
            


            Helena nos recebe em amplo salão, belíssimo, as paredes cobertas por obras da autora, em diversos momentos de sua produção. Ao fundo, Helena e Moisés.



Algumas obras em detalhe.


  

            Do mezanino podemos ver o ateliê propriamente dito, com três grandes quadros na parte mais alta da parede. Abaixo, a mesa de trabalho.



Mesa de trabalho.



Materiais de pintura cuidadosamente armazenados.



Bela criação despojadamente exposta.



A artista e o feliz blogueiro.

             Atualmente Helena está envolvida com interessantíssimo projeto, após sua recente visita ao campo de Auschwitz. Não estou autorizado a prestar maiores informações.
              Obrigado, Helena, por nos receber.


            

CAPES na mão de um criacionista




Sede da CAPES em Brasília

Para quem não sabe, a sigla CAPES significa Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. A entidade trata da formação de professores e da pós-graduação, elementos indispensáveis para a manutenção de um bom ensino superior no país.
            Pois agora a CAPES está na berlinda, não por alguma ação de destaque na área a que se destina, mas porque o ministro da educação nomeou para dirigi-la um adepto do criacionismo.
O Sr. Benedito Aguiar é ex-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, instituição confessional onde seria aceitável o ensino da doutrina religiosa segundo a qual todas as espécies são obra de Deus, não tanto da seleção natural neodarwiniana.
Mas a coisa é ainda pior. O Sr. Aguiar é adepto do design inteligente, ou “criacionismo científico”, teoria que postula que uma inteligência superior rege a existência dos seres vivos. Cada um tem o direito de acreditar no que bem entende, mas isso não faz da teoria algo que segue o método científico.
Afirma Paulo Saldaña para a Folha de S.Paulo (24 jan 2010): “A mera possibilidade de que o presidente da Capes carreie recursos da instituição para fomentar estudos de inspiração religiosa e incompatíveis com a ciência contemporânea já seria motivo para não o indicar ao cargo.”
E se a CAPES  agora começa a barrar pesquisas que de algum modo possam contrariar as convicções religiosas de seu chefe? O país vai na contra mão do avanço científico apresentado pelas nações mais desenvolvidas hoje. Caminhamos em direção ao atraso.