Folhetim
Décimo quinto encontro
Alguns dos senhores haverão de perguntar por que não chamei Conclusão ao nosso último encontro e preferi Em Resumo. Formulada a questão, torna-se óbvia a resposta. O processo de aprendizagem e o aperfeiçoamento da escrita não terminam nunca, não se concluem.
Recebi dos senhores 286 textos, e os devolvi todos com minhas observações; aqueles entregues hoje, os comentários serão enviados por e-mail. Em cada texto coloquei uma das seguintes letras: MB, B e P. Agora, ao final da oficina, revelo o significado delas: Muito Bom, Bom e Persevere. Releiam seus textos, por favor, com o apurado senso crítico que demonstraram durante nossos encontros. Espero ter sido útil em pequena porção que seja, mas não se iludam, será com esforço e tenacidade, a escrever diariamente, se possível, que os progressos virão.
Façam isso com alegria! É preciso sentir prazer em escrever. E cuidem da forma. Lembrem-se, não há fôrma; não se prendam a regras, a padrões ou estilos pré-estabelecidos, exerçam a liberdade de criar, cuidando da forma.
Portanto, em resumo, o que os senhores puderam aprender nesses 15 encontros?
Ana Paula foi a primeira a se manifestar, Professor, desculpe, mas esperava mais da sua Oficina, esperava dicas, orientação, ideias, macetes, alertas, para melhorar a minha escrita. Tobias curto e grosso, Você escolheu a oficina errada, minha filha; digo mais, NINGUÉM ENSINA NADA PARA NINGUÉM, A PESSOA APRENDE! E o silêncio voltou à sala.
Pois eu adorei, sapecou Suzete, alegrinha, convencida de que voltava para casa cheia de ideias.
Eu só tenho a agradecer, acrescentou Tina, pela oportunidade de contar uma historinha; a idade me ensinou que, de fato, a responsabilidade de aprender é só minha.
Josíres não poderia ser mais enfático: amei amei amei! Obrigado, Professor.
Vejam os senhores como está arraigada na cabeça da gente este binômio Professor/Aluno, ou seja, AQUELE QUE SABE/AQUELE QUE NÃO SABE. Ao lhes dar total liberdade para escrever, sem entraves e estorvos, pretendi lhes oferecer a autoridade DE QUEM SABE.
Agora é Clarice quem pede a palavra, Tobias, você podia sugerir algumas leituras que acha fundamentais para quem deseja escrever, Boa pergunta, menina, pois nela está implícita a ideia de que é preciso ler, antes de tudo. Sugiro que não passem um dia de suas vidas sem que não tenham um livro nas mãos. Sugiro ainda que alternem um clássico e um autor contemporâneo. Um clássico, porque é preciso ler os clássicos, e um contemporâneo, para que se familiarizem com a literatura de nosso tempo e para que novos autores possam vender seus livros e comprar comida. As risadas voltaram ao salão, que o clima era de muita severidade até então.
Devo acrescentar uma última sugestão, completa Tobias, Leiam Machado de Assis, sempre, leiam e releiam, não apenas os romances mais afamados, leiam os contos, as crônicas, leiam tudo de Machado, para se entranharem na intimidade da língua portuguesa. Mas também não deixem de ler Grande Sertão: Veredas, do nosso querido Rosa, pois ali a intimidade com a língua será consumada.
E chega de conselhos. Tornou-se hábito no último encontro de nossa oficina, que alguém, por um motivo ou por outro, tenha se destacado, não que seja o melhor, ou a melhor, nada disso, é apenas um mimo meu, que essa pessoa receba uma lembrança, certamente um livro. Nesse seleto grupo, escolhi Suzete, que leva de brinde o livro de poemas chamado Esmo, de autoria de Paulo Sergio Viana.
Os estrondosos aplausos sugerem quase que a unanimidade em favor da escolhida. Digo quase, vocês sabem, Ana Paula...
Bom que terminamos, senhores, arremata Tobias, porque vem aí gravíssima pandemia, um novo vírus talvez surgido na China e que se espalhou pela Itália e certamente chegará por aqui. Havendo quarentena, aproveitem o tempo para ler e escrever. Felicidades a todos. Foi um enorme prazer conhecê-los. Ah!, o almoço hoje é por minha conta.
A oficina termina com ruidosa e prolongada salva de palmas. Uns poucos enxugam uma lágrima que ameaça cair.