segunda-feira, 28 de maio de 2018

Resposta à sorrelfa


Querida Suzete,

acabo de receber sua correspondência e respondo imediatamente... antes que algum aventureiro tenha a mesma ideia.
            Adorei o uso que fez da palavra sorrelfa! Nada mais apropriado para a lápide de um misantropo.
            Gostei tanto que peço licença, desde já, para empregá-la em meu túmulo, pois desejo morrer assim, à sorrelfa.
            Com minha admiração e eterna amizade,

andré

À sorrelfa


Querido André,

saudade!
            O salão e o mercadinho, este bem abastecido pela produção local, ficam a dois quarteirões de minha casa, de modo que a falta de gasolina pouco ou nada me afetou. Fiz pequeno estoque de cebola, alho, tomate, carne no frízer (acho chique escrever assim), verduras da minha horta, alface, agrião, rúcula, couve, funcho, sálvia, salsa, cebolinha, coentro (os escritores modernos adoram enumerar palavras afins, numa fieira interminável, e eu gosto de copiá-los), e assim posso me dedicar às leituras e ainda sobra tempo para lhe escrever.
            Pois escrevo hoje por causa de uma palavra. Uma única palavra, que encontrei numa crônica lida em algum jornal, a palavra sorrelfa, e como vem acompanhada de um a craseado, melhor dizer a expressão à sorrelfa! 
            Achei lindo demais e fui direto ao Caldas Aulete: 

1. Dissimulação silenciosa para ocultar os verdadeiros sentimentos e intenções; DISFARCE; MÁSCARA
2. Pessoa manhosa, dissimulada, sonsa
3. Pessoa avarenta, sovina [ Antôn.: pródigo. ]

            Sorrelfa com ê fechado!

           No Dicionário Informal, que eu gsto muito, encontrei esses sinônimos de sorrelfa: sovina acanhado sórdido cainho vilão mofino casca ávido miserável esganado tacanho cauíla manicurto somítico iliberal avaro escasseado pelintra escasso cauíra pão-duro tenaz avarento mísero mesquinho socancra.

         Assim a expressão à sorrelfa é usada para descrever um ato praticado de forma furtiva, escondida.
         Bem, agora que estou informada sobre o significado da palavra e uso da expressão, meu problema é criar uma frase onde a mesma seja empregada de forma apropriada. Pensei pensei pensei e acabei num epitáfio, perfeito para o túmulo de um misantropo (palavra que aprendi com Machado de Assis!):

Morreu à sorrelfa

          O que você acha, André? Está bem aplicada a expressão?
          Por hoje é só, esperando que venha breve sua resposta.

Da sempre sua,
                                                Suzete.


Pesadelo continua

A foto do dia



Foto: Felipe Rau / Estadão

Dedo-de-moça

fotominimalismo





Foto: AVianna, mai 2018.

Aldravia N. 74




flor
e
abelha
em
domingo
luminoso



Favor ampliar a foto.
Foto: AVianna, mai 2018, jardim

Eutanásia para doentes mentais

Holanda tem aumento de eutanásia em pacientes com doenças mentais, é o título da matéria publicada na Folha de S.Paulo (28.mai.2018) por João Perassolo (Amsterdã).
O documentário “A Dignified Death”vem sendo exibido na Holanda, estimulando ainda mais a discussão sobre eutanásia no país.
Cada vez mais pacientes com transtornos mentais como depressão, bipolaridade, psicose, transtorno obsessivo compulsivo e estresse pós-traumático solicitam o suicídio assistido. 
Segundo dados do RTE, órgão que regula a prática, a Holanda registrou 83 eutanásias em pacientes psiquiátricos em 2017, um crescimento em relação aos 60 casos de 2016 e mais que o dobro em comparação a 2010. Os números parecem pequenos em relação ao total de mortes por eutanásia na Holanda –6.585 em 2017 –, mas o crescimento chama a atenção.
“Para o psiquiatra Johan Huisman, membro do Conselho Médico da ONG NVVE (Sociedade Holandesa pelo Direito de Morrer, na sigla em holandês), dois fatores são responsáveis pelo aumento. Primeiro, a comunidade médica está cada vez mais aberta em relação ao suicídio assistido de pacientes com distúrbios mentais. O segundo fator é de ordem prática. “Há mais psiquiatras trabalhando para a Clínica do Fim da Vida”, afirma Huisman. Fundada em 2012, a instituição é a responsável pela maioria das eutanásias aplicadas em doentes mentais na Holanda – ano passado, levou a cabo 78% das mortes desse tipo.”
Em vigor desde 2002, a lei do Término da Vida Sob Pedido e Ato de Suicídio Assistido estabelece que um paciente pode solicitar a eutanásia a seu médico desde que passe por sofrimento insuportável e que sua enfermidade não tenha prospecto de melhora, uma vez esgotados os tratamentos possíveis. São os “critérios do devido cuidado”, segundo o site do governo. 
“A legislação não restringe sofrimento insuportável a doenças fisiológicas –como câncer terminal e problemas cardiovasculares, por exemplo. Isso abriu caminho para que, a partir de 2008, pessoas com distúrbios mentais começassem a exigir os mesmos direitos dos outros pacientes.”
Ponto de vista importante é expresso pelo professor Theo Boer, professor de ética na Universidades de Kampen e ex-membro do comitê revisor de eutanásia, que vê essa permissividade da lei como uma “falha legal”. Ele explica que, em alguns casos, o “desejo de morte de um paciente psiquiátrico é um sintoma da doença, e pode desaparecer com o tempo”. Além disso, diz que a opção do suicídio assistido pode desencorajar os pacientes a se engajaram em um processo terapêutico.
Recentemente, Boer publicou um artigo defendendo que a legislação seja revista e se torne mais restritiva, incluindo critérios objetivos para a aplicação de eutanásia –como a proximidade da morte, a exigência de cidadania holandesa e o pedido para que o paciente administre as drogas letais em si próprio. 
         O assunto é extremamente polêmico, e por isso precisa ser debatido.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/05/holanda-tem-aumento-de-eutanasia-em-pacientes-com-doencas-mentais.shtml