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segunda-feira, 13 de março de 2017

Resposta ao Sr. Manoel

Prezado Manoel,

recebi com satisfação sua carta e imediatamente publiquei-a no blog, grato pela surpresa. Tardo a responder e peço desculpas.
            O Louco tem enorme interesse em todo o tipo de crítica, em especial à crítica de arte, e coloca-se ao seu inteiro dispor.
Antes de tudo, desejo salientar que muito apreciei a citação da piada sobre o “outro” Manoel, apresentada de modo invertido, daquele que não mora em Niterói. Temo que algum leitor deste blog não conheça a piada original, e como gosto muito dela, a ponto de citá-la nas minhas sessões de psicanálise, reproduzo-a aqui.
            Quando o analisando chegava agitado, apressado em conclusões impensadas, eu perguntava, Você conhece a piada do Manoel? Não? Então ouça:

“Alguns amigos chegam para o rapaz distraído e, aos berros, dizem: Manoel, corre que sua casa em Niterói está pegando fogo, sua mulher e seus filhos correm risco de vida, uma tragédia.
O rapaz corre para a Praça XV, pega a primeira barca para Niterói, e no trajeto, lento, apenas o monótono ruído do motor da barcaça e a bela vista da Baía da Guanabara, ele pensa, Não me chamo Manoel, não moro em Niterói, não sou casado nem tenho filhos, minha casa não está pegando fogo, o que estou fazendo aqui?”

            Alguns pacientes, os que ainda podiam pensar, acalmavam-se, e a sessão prosseguia.
            Caro Manoel, voltemos à resposta a sua cartinha. Desde já, preciso advertir meus leitores que este blogueiro não se responsabiliza pelas opiniões emitidas por terceiros, quando aqui publicadas. O espaço está aberto, pois a democracia ainda é o remédio menos amargo.
            Confesso, Manoel, que Miró não é dos pintores que mais aprecio, mas chamá-lo de preguiçoso, isso me parece julgamento moral, coisa que o Louco é completamente avesso. Respeito sua tese, que tem lá razão de ser, mas não a endosso.
            Mais uma vez, coloco-me à sua disposição, com prazer e honra.
            Seu criado,

                                                            André




PS: Detesto o politicamente correto, Manoel. Portanto, fico com a forma antiga, “risco de vida”, e não aquela que se usa agora, “risco de morte”. Que bobagem!

quarta-feira, 8 de março de 2017

Manoel, crítico de arte

Onde já se viu, criticar Joan Miró? Só mesmo Manoel.
            Porém, diante das reclamações indignadas recebidas por este blog, com a publicação do microconto ilustrado Mulher olhando para a lua, encaminhei-as ao Manoel, que me respondeu com interessante carta, que agora torno pública.


Prezado Dr. André,
(mais conhecido como o Louco),

tomo a liberdade de lhe escrever, antes de tudo para me apresentar. Eu me chamo Manoel (não aquele que não morava em Niterói, não era casado nem tinha filhos e, portanto, impossível que a casa incendiada fosse dele, do outro Manoel). Sou Manoel Azevedo de Queiroz Ayres e Ayres (oportunamente explico essa pequena idiossincrasia, a repetição de meu último sobrenome), gerado e nascido em Lisboa, onde caminho pelas mesmas ruas por onde caminhava Fernando Pessoa, no centro antigo desta bela cidade. Morei muitos anos no Brasil, no Rio da Janeiro, de modo que falo e escrevo mais para o brasileiro que para o português.
                   Sou um crítico de Arte.
            Permita-me que apresente minhas credenciais. Fiz o curso de História da Arte na Universidade de Lisboa, o que de nada me adiantou, ora pois pois, as aulas eram ministradas por um padre, Professor Emérito em Arte, mas que nunca exibia um nu feminino, fosse ele de que época fosse, pintura ou escultura, ora pois, e os alunos permaneciam na chamada Santa Ignorância. Uma maçada!, diria seu avô, Dr. André. Certa feita fomos ao Louvre, na magnífica Paris, em visita coletiva guiada pelo padre, que carregava um mapa com clara orientação para que não passássemos em determinados corredores, por exemplo, onde estacionava a Vênus de Milo, que não pôde acenar para nós, pois braços já não os tinha.
            Minha capacidade crítica advém de incansáveis estudos sobre Arte em geral – sou um autodidata –, e de um senso crítico nato, intuição aprimorada pelos estudos, verdadeiro dom que Deus me deu. (Ao contrário do senhor, sou um crente, Católico Apostólico Romano, defensor ferrenho da contribuição inestimável prestada pela Igreja no desenvolvimento da Arte. Acredito também em sua tolerância, de modo a não vir a ser um obstáculo nossa diferença nesse particular modo de pensar.)
            Olho para uma obra de arte e imediatamente inunda-me a alma de sentimento inexplicável, que procuro traduzir em palavras nas minhas críticas sobre pintura, escultura, literatura, poesia em particular, gastronomia, arquitetura, enologia, música, particularmente a erudita, psicologia, psicanálise, cinema, fotografia, anatomia humana e comparada, antropologia, arqueologia, história, geografia, e havendo alguma omissão, esta será corrigida oportunamente, pois não.
Sou um crítico antes de tudo, por natureza.
Tanto que não me desculpo pela opinião expressa no miniconto Mulher olhando para a lua, publicado no Louco por cachorros. O Joan Miró (1893-1983) era mesmo preguiçoso! Ilustro minha assertiva com dois exemplos:


Nord-Sud, 1917



Mulher e pássaros ao amanhecer, 1949


           Preciso explicar mais? Ao longo dos anos (de 1917 a 1949, veja o senhor!) bateu-lhe uma preguiça incurável, e o homem passou a fazer apenas risquinhos, cobrinhas, bolinhas, pontinhos, etc. e o expectador que se dane. Bem, é o que me vem à alma, ora pois.
            Prezado Dr. André (como temos a mesma idade, com sua permissão, no futuro passarei a tratá-lo pelo nome, que é o que interessa, títulos não interessam, penso eu), vai longa esta carta e ainda não falei da sua razão de ser.
Escrevo para pedir-lhe que eu possa contribuir com alguma crítica para o seu blog. (En passant, gostei muito do que escreveu sobre Machado, de Silviano Santiago!) Seria uma honra para mim ver algum texto meu publicado no Louco por cachorros. Se o senhor julgar-me digo de tal expediente (é como se diz aqui em Portugal).
            Sem mais, com admiração pela sua pessoa, despeço-me.
            Seu desde já amigo,

                                                                                    Manoel