terça-feira, 26 de setembro de 2017

O sonho de Chagall



              Enorme rebanho de cabras tomava conta da estrada, impedindo a passagem de Chagall. Ele precisava chegar com urgência à igreja onde iria se casar, no pequeno povoado de Liozna, onde nasceu. Tamanho o seu desejo de chegar a tempo para o casamento que, de repente, as cabras começaram a voar, o dia virou noite porque o céu ficou encoberto pelas cabras, Chagall montou em uma delas, colocou-lhe no pescoço uma guirlanda de flores, e chegou à igreja dois minutos antes da noiva.

De repente, nas profundezas do bosque



“A professora Emanuela explicou à classe como é um urso, como os peixes respiram e que sons a hiena produz à noite. Ela também pendurou na sala gravuras de animais e aves. Quase todos os alunos debocharam dela, porque nunca na vida tinham visto um animal sequer. E muitos deles não acreditaram que existissem no mundo tais criaturas. Pelo menos nas redondezas. Sem contar, disseram, sem contar que a professora não tinha conseguido encontrar na aldeia alguém que topasse ser seu marido, e por isso, disseram, a cabeça dela estava cheia de raposas, pardais, todo tipo de invencionice que as pessoas sozinhas criam devido à solidão.”

Assim tem início De repente, nas profundezas do bosque, de Amós Oz (Companhia das Letras, 2007, 12a impressão, tradução do hebraico Tova Sender). Há uma vaga alusão de que o livro pertence à classe infanto-juvenil, daí o selo jovem SEGUINTE, da editora. Que seja, mas interessa a todas as idades.
Trata-se de uma fábula estranha. À medida que a trama se desenrola, o livro ganha em ação, em capacidade imaginativa e ainda em maior estranheza.
No primeiro parágrafo apresentado acima surge uma palavra que se repete ao longo de toda a história: deboche. Gostaria muito de conhecer a palavra original, em hebraico, utilizada pelo autor. Trata-se de um misto de desprezo, pouco caso, agressão, ódio, bullying, discriminação, intolerância, praticados pelos alunos da escola e por quase toda a comunidade contra aqueles que são diferentes.
Oz termina a fábula de forma surpreendente, como quem não se dobra às injustiças desse mundo.
A escrita é mesmo encantadora, poética em muitos momentos, elegante sempre, digna do grande escritor que é Amós Oz.
Um ótimo livro.

            

Estética no ar

A foto do dia



Bombardeios americanos B-1BA, caças F15 e Stealth sulcoreanos. Há uma certa estética na imagem desses terríveis aparelhos de guerra.

Foto: New York Times

O sonho (1927)

Meus quadros favoritos


Marc Chagall