domingo, 18 de agosto de 2019

3 microcontos caninos




– Lila, não vê que este abacate está podre?
– É por isso que estou comendo.


– Lila, não beba desta água suja.
– Está deliciosa!


– Lila, cuidado, tem um rato morto ali na frente!
– Onde, onde, onde?

***

Observação interessante:

A  ideia de juntar três microcontos em uma única postagem, todos versando sobre um tema comum, foi de meu irmão Paulo, tempos atrás. Gostei.
            O leitor tanto pode lê-los como contos independentes, ou juntá-los numa única história, contada em três minicapítulos. A intensão do autor, esta pertence tão somente ao autor.
            No caso dos 3 microcontos caninos, depreende-se que Lila é um cadelinha levada e cheira e come tudo que encontra pela frente. De resto, alguém já viu um cão parar para cheirar uma rosa? Muito menos para comê-la. Já um rato morto...

Quem é o rei?


...

– Hoje, 42 anos da morte do Rei!

– Ray Charles?

– NÃO, Elvis!

– Ah...

– Pelo menos não pensou no Roberto.

– Pensei...

– Desisto.

...

Aldravia N.85










canta
o
sabiá-laranjeira
rei
do
jardim


Fotos: AVianna, ago 2019

Segundas-e-sábados


“Amigo? Aí foi isso que eu entendi? Ah não, amigo, para mim, é diferente. Não é um ajuste de dar um serviço ao outro, e receber, e saírem por este mundo, barganhando ajudas, ainda que sendo com o fazer a injustiça aos demais. Amigo, para mim, é só isso: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isso, quase; e os todos sacrifícios. Ou – amigo – é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é. Amigo meu era Diadorim; era o Fafafa, o Alaripe, Sesfrêdo. Ele não quis me escutar. Voltei da raiva.
            Digo ao senhor: nem em Diadorim mesmo eu não firmava o pensar. Naqueles dias, então, eu não gostava dele? Em pardo. Gostava e não gostava. Sei, sei que, no meu, eu gostava, permanecente. Mas a natureza da gente é muito segundas-e-sábados. Tem dia e tem noite, versáveis, em amizade de amor.”



Guimarães Rosa, Grande Sertão Veredas, Edição Comemorativa, Nova Fronteira, 2006, pg. 164.