quinta-feira, 27 de novembro de 2014

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Homenagem a Laerte Coutinho




              Impressiona a naturalidade com que Laerte, o cartunista, se apresenta perante o público, vestido, penteado, produzido como ele se sente: uma mulher. Lembro-me da primeira vez que o vi vestido assim, do espanto que me causou, pois já o conhecia vestido de homem, quadrinista famoso que é, há muito tempo.
             Hoje, confesso que ele desperta em mim enorme simpatia, pela coragem, sinceridade, pela pessoa autêntica que revela ser. Laerte me emociona.
            Ele me ajuda a pensar – e aceitar – as diferenças, coisa difícil para qualquer ser humano, desde tempos imemoriais. Em se tratando de sexualidade, a intransigência, o preconceito, o fundamentalismo acarretam reações muitas vezes violentas, diante das diferenças.
            Mais inofensivo que Laerte, impossível. Ele é apenas um artista, excelente cartunista, que não deseja convencer ninguém de coisa alguma. Deseja tão somente desfrutar da liberdade de exercer sua sexualidade do modo que melhor lhe convier. E o faz sem espalhafatos, sem exibicionismo ou maneirismo, com absoluta espontaneidade.
            Numa entrevista para a televisão eu o vi relatar episódio engraçado, porém de grande significado, que reproduzo aqui a meu modo, próximo ao que foi o original. Ele gostava de se vestir de mulher e tinha dificuldade de dizer isso à mãe. Criou coragem e contou, ao que ela retrucou, Eu tenho umas roupas que não uso mais, você pode pegá-las, Laerte.
            A instantânea compreensão da mãe, o carinho que dispensou ao filho naquele momento, ajudaram-no em muito a superar as próprias dificuldades.
Textos e mais textos, sermões, pregações raivosas ou não, quase sempre de cunho religioso e fundamentalista, tentando convencer as pessoas disso ou daquilo, do “certo” ou “errado”, não têm a força do exemplo vivo – a melhor pedagogia! – exibida por Laerte.
Perguntado se gostaria de ser tratado por “ele” ou “ela”, disse que lhe era indiferente. Ao final desta crônica, percebo que chamei-o de Ele.
            Fica aqui meu agradecimento a ele, por me ajudar a pensar as diferenças.

Foto: https://twitter.com/laertecoutinho1 

Isso sim, é um escândalo!




A reportagem é de Isabel Filgueiras(1), especial para o jornal O Estado de São Paulo, publicada hoje, e os números são estarrecedores.
O número de pontos de possível exploração sexual de crianças e adolescentes nas estradas do Sudeste cresceu 38% entre 2011 e 2014, informa o “Mapeamento dos Pontos Vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Federais Brasileiras”. O total desses locais passou de 358 para 494, com crescimento de 9%, sendo identificados 1.969 pontos vulneráveis em todo o Brasil, apenas nas rodovias federais.
Informa ainda a reportagem: “A cada 27,8 quilômetros há um ponto vulnerável à exploração nas rodovias do Sudeste. No Sul, a concentração é ainda maior, com um ponto a cada 23 quilômetros.”
São pequenas casas de comércio, quase sempre ligadas à venda de alimentos e bebidas, botequins, quando não, locais especificamente destinados à prostituição, que dão guarida às crianças e adolescentes, todos analfabetos, distantes das suas famílias, fugindo da miséria e da fome. O tráfico de drogas está presente, é claro.
          Este Brasil sequer foi mencionado nas campanhas eleitorais. Não dá voto.


Diabo negro do mar

A foto do dia.


“Cientistas do Instituto de Pesquisa do Aquário da Baía de Monterrey, na Califórnia, conseguiram filmar um exemplar do misterioso "diabo negro do mar", uma espécie de peixe abissal conhecida pelo nome científico Melanocetus johnsonii.
O exemplar filmado é uma fêmea de 9 centímetros que se encontrava a cerca de 600 metros da profundidade no cânion submarino de Monterrey, na costa californiana.

O "diabo negro do mar" tem uma antena que se ilumina graças a bactérias bioluminescentes, o que o ajuda a atrair suas presas. Elas acabam atraídas para suas temidas mandíbulas, repletas de dentes afiados.”


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Flying dogs

As fotos do dia.





Os cães são jogados por seus donos e caem em um colchão, enquanto são fotografados em pleno ar!

jardim florido



jorra a poesia
assim que o jardim floresce
– fonte de haicais

Foto: A.Vianna, manacá no jardim, nov. 2014.

O passeio e o passeante




“É pena que não haja em Português uma palavra que equivalha, com a leveza que a caracteriza, à francesa “flaneur”: o que passeia, sem rumo, vadio. É pena, mas se estamos constrangidos de empregá-la  por demasiado requintada para nossos propósitos – acaso pedante – nada nos impede de nos apropriarmos de seu espírito. É ele que nos impele ao passeio, levados por pés de sossego, pernas de lentos passos, olhos acesos, atentos. Com tal espírito, dispensamos a finura francesa e acatamos nossa modesta simplicidade vernácula, que nada deixa a desejar em apuro de significado: doravante, chamaremos ao ignoto e misterioso personagem o “Passeante”.

            Assim tem início  O Passeio – um giro pelas esculturas de Lorena, de Paulo Sergio Viana, editado pelo Instituto Santa Teresa (2014). Aos menos avisados, Lorena localiza-se no Vale do Paraíba, a meio caminho entre Rio de Janeiro e São Paulo.
            A pequena amostra que aqui transcrevo demonstra bem que se trata de prosa poética da melhor qualidade. Cada crônica – são quatorze ao todo – é acompanhada de uma fotografia alusiva à escultura em questão, apreciada pelo “Passeante” com extrema sensibilidade.
            Ao lê-lo, lembrei-me da epígrafe do Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago:

             “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.” (Livro dos conselhos)

            Paulo repara: num livro que lê, na música que ouve, num quadro, numa escultura, e, mais que tudo – característica raríssima –, repara no outro. Por isso exerce a Medicina com a mesma sensibilidade, daquele que olha, vê e repara. (Não sei se é necessário alertar o leitor, mas quando se trata da Medicina, “reparar” pode ter o sentido de curar...)
            Findo o passeio e o livro, o Passeante volta para casa:

“Recosta-se numa poltrona, ouve o silêncio discreto das paredes altas. Um cão ladra, longe.”