segunda-feira, 19 de março de 2018

Nacos de nuvem



No céu flutuam trapos
de nuvem - quatro farrapos:

do primeiro ao terceiro - gente;
o quarto - um camelo errante.

A ele, levado pelo instinto,
no caminho junta-se um quinto.

Do seio azul do céu, pé ante
pé, se desgarra um elefante.

Um sexto salta - parece.
Susto; o grupo desaparece.

E em seu rasto agora se estafa
o sol - amarela girafa.

                                Vladimir Maiakóvski


In: Maiakóvski, Poemas.
Perspectiva, 2017.
Tradução Boris Schnaiderman, Haroldo de Campos, Augusto de Campos


(Se alguém deseja escrever poesia, antes de tudo é preciso ler poesia.)

Fórum Mundial da Água

A foto do dia


Lago Paranoá vai sediar programação do 8º Fórum Mundial da Água


Primeira Foto: Pedro Ventura / Ag. Brasília





O braço do nadador é o terceiro arco da ponte!


Segunda Foto: Paula Vianna, que faz a cobertura do evento: grande fotógrafa, fora e dentro dágua.

Inimigos da Literatura



“... o que me deixa mais desmoralizado ultimamente é a suspeita de que, no ritmo em que as coisas vão, não é impossível que a literatura, o que melhor me protegeu nesta vida contra o pessimismo, possa desaparecer. Ela sempre teve inimigos. A religião foi, no passado, a mais decidida a liquidá-la estabelecendo censuras severíssimas e armando fogueiras para queimar os escritores e editores que desafiavam a moral e a ortodoxia. Depois foram os sistemas totalitários, o comunismo e o fascismo, que mantiveram viva aquela sinistra tradição. E também o foram as democracias, por razões morais e legais, que proibiam livros, mas nelas era possível resistir, brigar nos tribunais, e pouco a pouco aquela guerra foi sendo ganha –isso acreditávamos–, convencendo juízes e governantes de que, se um país quer ter uma literatura – e, em última instância, uma cultura – realmente criativa, de alto nível, tem de tolerar, no campo das ideias e das formas, dissidências, dissonâncias e excessos de toda índole.”

            O parágrafo publicado por Mario Vargas Llosa em El País (17 Mar 2018), em artigo que traz o título  Novas inquisições – O feminismo é hoje o mais o mais resoluto inimigo da literatura, que pretende depurá-la do machismo, dos preconceitos múltiplos e das imoralidades, é tão elucidativo, que o reproduzo aqui integralmente.
            Em seguida o autor complementa:

“Agora o mais resoluto inimigo da literatura, que pretende depurá-la do machismo, dos preconceitos múltiplos e das imoralidades, é o feminismo. Não todas as feministas, claro, mas as mais radicais, e por trás delas amplos setores que, paralisados pelo temor de serem considerados reacionários, extremistas e falocratas, apoiam abertamente essa ofensiva antiliterária e anticultural. Por isso quase ninguém se atreveu a protestar aqui na Espanha contra o “decálogo feminista” de sindicalistas que pede a eliminação das salas de aula de autores tão raivosamente machistas como Pablo Neruda, Javier Marías e Arturo Pérez-Reverte.”

Llosa cita ainda a análise da escritora Laura Freixas sobre Lolita, de Nabokov, onde ela afirma que o protagonista era um pedófilo incestuoso, estuprador de uma menina que era filha da sua própria esposa. Completa Llosa, mordaz: “Esqueceu-se de dizer que era também um dos melhores romances do século XX.”
            E Llosa conclui: “...graças aos incêndios e ferocidades dos livros a vida é menos truculenta e terrível, mais sossegada, e nela os humanos convivem com menos traumas e com mais liberdade. Aqueles que se empenham em que a literatura se torne inofensiva trabalham na verdade para tornar a vida invivível, um território onde, segundo Bataille, os demônios terminariam exterminando os anjos. Queremos isso?”
            Os que amamos a Literatura não queremos isso!
 O que Llosa esqueceu-se de dizer (está perdoado, pois não vive entre nós) é que o maior inimigo da Literatura é o não-leitor, aquele que não lê. Podemos dizer que o Brasil ainda é um país inimigo da Literatura. As estatísticas são alarmantes sobre os índices de analfabetismo funcional – este sim, poderoso inimigo da Literatura.
Impensável, pois, a vida sem a Literatura.
           






Fase azul

Meus quadros favoritos


Pablo Picasso