quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Salvo pelo gongo


Ameaçado de expulsão pela Diretora, por permanecer calado durante a execução do hino, foi salvo pela professora:
– Ele é surdo-mudo!

O hino


Hélio Schwartsman, articulista da Folha de S. Paulo, por quem não escondo minha admiração, publicou ontem (27.fev.2019) artigo sob o título Eu me orgulho de não saber o hino.
            Ele justifica este ponto de vista: “Cresci nos anos 70. Uma das escolas que frequentei obrigava a garotada a hastear a bandeira e entoar o hino diariamente. Meus pais, quando souberam disso, fizeram questão de me dizer que o governo militar era uma porcaria, mas acrescentaram que eu não deveria repetir isso na escola.” 
            Daí a “sentir orgulho” por não saber o hino, vai uma diferença muito grande. Também eu não sei cantar o hino, mas não me orgulho por isso. A letra é complicadíssima, cheia de palavras rebuscadas, pernósticas, em completo desuso, verdadeira perda de tempo. Já a música é belíssima, um dos hinos mais bonitos do mundo.
            Tudo isso tem pouca importância. Volto à crônica do Schwartsman, para tratar do que realmente importa:

“O nacionalismo é um negócio complicado. Em doses baixas, é um elemento valioso para dar a grupos populacionais cultural e economicamente heterogêneos um senso de comunidade, o que facilita a cooperação. Em doses altas, porém, ele se torna um produto tóxico.
Ambição, sadismo e excesso de autoestima explicam a grande maioria dos atos de violência no planeta. Mas, para chegar aos grandes massacres da história, é necessário introduzir um quarto ingrediente, a ideologia, que costuma aparecer como nacionalismo ou religião.”

            Eis o que sempre faz a diferença, e para pior: a ideologia.


Menstruação, ainda um tabu




Interessantíssimo o vencedor da categoria Melhor Documentário Curta-Metragem: Absorvendo o Tabu (em inglês, Period. End of Sentence.), uma produção Netflix . O documentário de 26 minutos fala sobre um assunto que ainda é tabu em muitos lugares: a menstruação.
Rayka Zehtabchi, cineasta americana descendente de iranianos, mostra a realidade de uma pequena vila rural em Delhi, na Índia, onde muitas mulheres ainda não sabem o que é a menstruação e a consideram algo pecaminoso.  
Para algumas meninas, menstruação é apenas um sangue ruim dentro da mulher e que precisa ser expelido. Para outras, “só Deus sabe o que é”. Há quem diga que tem algo a ver com o nascimento das crianças. Elas sentem muita vergonha ao falar do assunto e têm tanta dificuldade para lidar com o período menstrual que muitas abandonam a escola.
Já os homens, simplesmente o ignoram e não podem proferir a palavra menstruação. Quando perguntados sobre o assunto, permanecem em constrangedor silêncio. Um menino arriscou a resposta: “é uma doença das mulheres”.
A produção de um absorvente “caseiro” muda a vida de muitas mulheres, que experimentam pela primeira vez a possibilidade de serem autossuficientes.
Um ótimo documentário, na Netflix!