quinta-feira, 1 de março de 2018

Fotoabstração N.35






Fotoabstração N.34





flores no telhado




a buganvília
 cobre de flores
a nossa casa

Foto: AVianna, mar 2018

A cidade dorme




Luiz Ruffato, autor do monumental Inferno Provisório – “a pentalogia dos anos 2000, um panorama literário sem igual da classe trabalhadora brasileira”, (reeditado pela Companhia das Letras, 2016), lança agora A Cidade Dorme, seu primeiro livro de contos (também pela Companhia das Letras).
São vinte textos escritos ao longo dos últimos 15 anos, publicados em revistas, sites diversos, contendo os temas preferidos do mineiro de Cataguases, as relações familiares e sociais do brasileiro pobre ou remediado.
O estilo de Ruffato vai da escrita comportada de 15 anos atrás, ligada à infância interiorana, até escrita inventiva, originalíssima, ousada, presente, por exemplo, no conto que dá nome ao livro, A cidade dorme. Reproduzo aqui o primeiro parágrafo do conto:

“Xuxa despertou, golpes de cassetete na cabeça no tronco nos membros, assustado o grupo espalhou-se sacos de aniagem pendurados nos ombros Ai ai caralho! Que isso porra?! O Zé imaginou interpor-se ao peeme, latiu preventivo, um coturno arremessou-o contra as grades do parque 

            Bem diferente do primeiro parágrafo do conto que abre o livro, Minha vida:

“Agora tem um ano que mudamos para a nossa casa no Paraíso. Ela não está pronta ainda. Falta emboçar as paredes de fora e pintar as de dentro, mas, orgulhoso, meu pai fala que pelo menos não precisamos mais ter medo de ficar sem dinheiro no fim do mês para pagar o aluguel.”

            Interessante observar tais mudanças de estilo; mais interessante ainda é constatar a progressiva liberdade do autor para infringir “regras” de escrita. (Algum crítico pedante haverá de dizer que o livro é irregular...)
            Não posso deixar de dar destaque à capa do livro, belíssima espetacular sensacional, de autoria de Kiko Farcas e Felipe Sabatini, inspirada em foto de Cristiano Mascaro.
            O livro é bom, mas deve ser difícil escrever algo muito bom! depois do Inferno provisório.