Da série,
Na praia.
            Caminhávamos
pelo calçadão da Praia de Ipanema neste tórrido janeiro quando avistamos o
casal Ruy Castro e Heloisa Seixas, sentados numa mesinha, matando a sede com
água de coco. Fã de ambos, o primeiro impulso foi o de abordá-los, puxar
conversa fiada, só para depois poder contar aos amigos. Não tive coragem,
seguimos caminhando. Na cabeça, entretanto, surgiu uma historieta. 
Imaginei: chego perto dos dois, dirijo
meu olhar apenas para Heloisa e com ela começo a conversar. 
– Oi Heloisa, sou seu fã desde há muito
tempo, li a primeira edição do Pente de Vênus, li a segunda edição aumentada...
Você é uma excelente contista... E isso, e aquilo, eu me desfazendo em elogios
diante da escritora, e nem um olhar para o famoso Ruy Castro, que permanecia em
respeitoso silêncio. Terminada a melosa bajulação, me viro para o homem e
pergunto, com ar de inocente:
– E você, quem
é?
– Sou o marido
da Heloisa Seixas.
E caímos todos
numa estrondosa gargalhada.
***
Bem, a
historieta ficou na minha cabeça. Dois dias depois tornamos a encontrar o
casal, caminhando no calçadão do Arpoador. Emparelhamos com eles e não resisti.
– Oi, como vai
o ilustre casal?
– Bem,
obrigado, responderam, formais.
            –
Sabem, há dois dias vimos vocês tomando uma água de coco, mas não tive coragem
de importuná-los. Mas fiquei com uma historinha na cabeça. Eu chegava, dirigia
meu olhar apenas para a Heloisa, começava um elogio sem fim, que eu tinha lido
as duas edições do Pente de Vênus, adorado...
            Então
a escritora me interrompeu:
            –
Puxa, é mesmo?! Leram O oitavo selo?
            –
Lemos, e gostamos muito!
            –
De onde vocês são, Heloisa perguntou.
            –
De Brasília, mas não somos políticos...
            –
Então não deixem de ver o musical que estreia no domingo, Bilac vê estrelas!
            Com
algum esforço, que a conversa já ia animada, pude chegar ao final da minha
história, com a pretensa resposta do ilustre Ruy Castro diante da minha
desaforada pergunta, Sou o marido da Heloisa.
            Foi
então que o homem exclamou com entusiasmo, agora de verdade:
            –
Este é o meu sonho! Não quero mais trabalhar, quero que ela me sustente...
            Entre
risos cordiais nos despedimos, cada casal no seu passo. Ocorreu-me, mais uma
vez, a frase:
– Ficção e realidade são faces
de uma mesma moeda. 
Foto: A.Vianna, Ipanema, jan. 2015.
 
