uma bela capa
a flor rubra no
jardim
chamariz de
abelhas
Vendem-se livros
principalmente por causa do autor, do conteúdo, do gênero, do título, mas
também pela capa. A imagem da capa funciona como um chamariz, palavra oriunda do
latim clamare, chamar, convocar, daí
chamariz (1813), coisa que chama, que atrai, segundo Antônio Geraldo da Cunha,
em seu Dicionário etimológico da língua portuguesa (Lexicon, 2007).
Não desejo tratar aqui de
livros medievais feitos à mão, cujas capas eram verdadeiras obras de arte,
compostas em marfim, ouro, prata ou madeira de lei. Quero falar mesmo é do
chamariz, aquilo que atrai e prende o comprador ao primeiro olhar, pois a capa
é o primeiro contato do possível leitor com a obra.
Existe já a figura do
capista, designer profissional especializado na elaboração de capas de livros.
(Confesso aqui uma ponta de inveja por esse tipo de gente! Eu bem que gostaria
de ser um capista... Certa feita me vi às voltas com a elaboração da capa do
ótimo livro de Paulo Sergio Viana, Fica
limpo! – quase heresias (Perse, 2012), e perdi o sono durante noites
seguidas. Informou-me o autor que o resultado não foi dos piores, segundo a
reação dos leitores.)
A capa mais simples, e às
vezes a mais charmosa, é aquela impressa numa única cor, gravados o nome do
autor e o título do livro. Se o primeiro é famoso, os tipos têm formato maior e
costumam ocupar a parte superior da capa; o nome do livro vem abaixo. Se se
trata de um best seller, o título do
livro ganha destaque. O nome da editora e seu logotipo podem vir ainda mais
abaixo, em letras pequenas. Não é preciso mais nada para se vender e comprar um
livro de Shakespeare ou José Saramago.
As edições em capa dura,
infelizmente incomuns em nosso país, costumam ser monocromáticas, apresentando
muitas vezes uma sobrecapa colorida, esta sim, do tipo chamariz.
Uma boa fotografia, de
preferência em preto e branco, também pode fazer uma ótima capa. Um bom exemplo
está em Malagueta, perus e bacanaço,
de João Antônio, da Cosacnaify (2004), capa de Rodrigo Lacerda e Luciana
Facchini.
Mas às vezes os editores
(ou serão os próprios autores?) complicam. É o caso do excelente O romance morreu, recente livro de
crônicas de Rubem Fonseca (veja neste blog, http://loucoporcachorros.blogspot.com.br/2014/12/a-arte-da-cronica.html),
cuja capa pareceu-me horrorosa: uma flor murcha ou um velho repolho roxo?
Colocar na capa uma
reprodução de obra de arte é covardia. O melhor exemplo pode ser encontrado no
belíssimo Caravaggio, de Roberto
Longhi (Cosacnaify, 2012).
Alguém podia até pensar num
livro intitulado As melhores e piores
capas de livros no Brasil. Porque as piores também chamam nossa atenção!
Não foi à toa que Umberto Eco publicou a História da Beleza (Record, 2012) e a
História da Feiura (Idem, 2014), e, acredite o leitor, o segundo é bem mais
interessante.
Recentemente a Edições de
Janeiro (2014) publicou o belo livro Haicai do Brasil, organização e
ilustrações de Adriana Calcanhotto, e capa de Raquel Matsushita, que merece
destaque ao final desta crônica. Comprei-o primeiro pela capa, o conteúdo veio depois.