Registro de duas postagens anteriores:
Em março do corrente ano (2015) este blog registrou o que denominou O renascimento de José J. Veiga, com o relançamento de Os cavalinhos de Platiplanto, pela Companhia das Letras (2015). (http://loucoporcachorros.blogspot.com.br/2015/03/o-renascimento-de-jose-j-veiga.html)
Depois veio A hora dos ruminantes,
pela mesma editora. E agora surge o excelente romance Sombras de reis barbudos.
Redescobrir um autor como J. J. Veiga nos dias de hoje é uma felicidade
inspiradora para a literatura brasileira contemporânea.
Pois
agora o blogueiro retorna ao mesmo autor, para saudar De jogos e festas – Novelas (Companhia das Letras, 2016).
O volume de Veiga traz
três “novelas”, intituladas De jogos e
festas, Quando a Terra era redonda
e O trono no morro.
O
livro traz ainda um belo Posfácio de José Castelo (J. J. Veiga detestava
prefácios...).
Os
três textos são maravilhosos. Quando a
terra era redonda, com apenas 8 páginas, é um conto do mais puro realismo
fantástico, que poderia fazer parte das melhores antologias do gênero. ( Não é o caso de entrarmos na polêmica diferença entre novela e conto. Há quem diga que a novela não passa de conto mais extenso.)
Mas
gostei mesmo de O trono no morro, história comovente de um bando de matadores.
Às
tantas, o chefe do bando interroga um novato, considerado por ele muito
magrinho:
“ –
Eu comia sim senhor.
– Comia o que?
– Arroz. Feijão. Mandioca. Essas coisas.
– Não comia carne?
– Asveis.
– Com a gente você vai comer carne todo dia.
Não tendo de vaca, a gente come de porco. Não tendo porco, come queixada. Não
tendo queixada, come tatu. Isso no normal. Quando está correndo dos bodes a
gente come o que achar, até bunda de tanajura.”
De jogos e festas é o sétimo livro de
Veiga, lançado em 1980. Nessa época o autor já era considerado pertencente à
escola do realismo fantástico. Ele mesmo não aceitava esse rótulo, e segundo
Castelo, dizia “não passar de uma invenção da crítica literária francesa, sem
outros recursos conceituais para classificar os novos escritores
latino-americanos que chegavam às livrarias parisienses”.
Castelo
termina seu Posfácio revelando antiga entrevista de Veiga a Edla van Steen, em
que o autor fala dos ”elementos fantásticos que constituem a escrita”, tema
recorrente neste blog. Segundo ele, “Um escritor nunca escreve o que quer –
alguma coisa se interpõe entre ele e as palavras e toma o controle da ação. A coincidência
entre o pretendido e o conseguido é impossível.”
O
Louco arremata: não temos mesmo controle sobre nosso inconsciente.