Há dois ou três dias a notícia não saí das mais
diferentes mídias, martela martela martela nossas consciências, parece que
exigindo tomada de posição de cada um dos brasileiros. A expectativa é enorme,
por um desfecho que recomponha a dignidade do país. Mas até agora, nada.
Exceto pelo grupo de políticos da
denominada base governista, com interesses comuns, o resto do mundo tem a mesma
opinião. Esta rara quase unanimidade tem uma razão de ser: é escandaloso o
episódio do ministro que deseja porque deseja seu apartamento em prédio
embargado pelo Iphan.
Acusado
publicamente pelo colega de pressão para a liberação da irregularidade, o
achacado demite-se e o achacador permanece.
A
autoridade máxima, a quem pertence o cargo do ministro, permanece impávida.
A
coisa piora ainda mais: o achacador admite o ato, porém nada vê de tão
importante nele que justifique deixar o ministério.
Pior
não pode ficar, pensamos todos. Pois piora: os líderes dos partidos políticos
da tal base governista colocam suas assinaturas em apoio explícito ao
achacador. Este recebe, emocionado, o documento. E chora.
A
Comissão de Ética da Presidência abre processo, imagino que em meio a
constrangimento geral. Desde logo a comissão anuncia que há indícios de quebra
dos princípios éticos em administração pública.
A
autoridade máxima e o achacador permanecem impávidos.
A mídia martela martela martela. Nada!
O novo ministro, o que assume a pasta
do achacado demitido, repete que cargo de ministro é cargo político, e defende
o diálogo. O que desejará ele dizer com isso? Não demonstra qualquer pudor em
substituir o achacado em tais circunstâncias, nem comenta o assunto.
Dos funcionários do ministério atingido,
nem uma palavra de apoio ao achacado.
A indagação que me vem à mente é qual
seria a repercussão de fato idêntico em países como a Suécia e Japão. No
primeiro, renúncia imediata do achacador. No segundo, suicídio.
Mas não vivo em nenhum desses dois
países e a mídia nacional martela martela martela minha consciência, em busca
de um sentido para essa história. Logo agora que eu pensava que meu país poderia
mudar.
Ao findar a manhã, antes de terminar
esta crônica, corro ao Twitter na esperança de uma boa notícia. Encontro o
mesmo martelar, jornalistas protestando, o mundo inteiro protestando, nenhuma
novidade. Ah!, duas novidades: primeira, a comissão da Câmara dos Deputados não aceita convocar o achacador para esclarecer as denúncias; segunda, familiares do achacador envolvidos na tertúlia com o Iphan. Enlouqueço?
O homem não desprega mesmo a bunda da
cadeira.