Com o sugestivo título “Não acabem com a caligrafia: escrever à mão
desenvolve o cérebro”, o pediatra Dr. Perri Klass (New York Times, 25/06/2016,
por Fernando Donasci
para UOL)
recomenda cuidado para que o mundo digital não anule experiências significativas para
o desenvolvimento das crianças.
Virginia
Berninger, professora de Psicologia Educacional da Universidade de Washington,
em artigo publicado este ano no The
Journal of Learning Disabilities, mostra como a linguagem oral e escrita se
relaciona com a atenção e com o que é chamado de habilidades de "função
executiva" (como planejamento) em crianças do quarto ao nono ano. As pesquisas
sugerem que "escrever à mão – formando letras – envolve a mente, e isso
pode ajudar as crianças a prestar atenção à linguagem escrita".
Em artigo no
Journal of Early Childhood Literacy,
Laura Dinehart, professora de Educação da Primeira Infância na Universidade
Internacional da Flórida, afirmou que “em uma população de crianças pobres, as
que possuíam boa coordenação motora fina antes mesmo do jardim da infância se
deram melhor mais tarde na escola. Esse
mito de que a caligrafia é apenas uma habilidade motora simplesmente está
errado. Usamos as partes motoras do nosso cérebro, o planejamento motor, o
controle motor, mas muito mais importante é a região do órgão onde o visual e a
linguagem se unem, os giros fusiformes, onde os estímulos visuais realmente se
tornam letras e palavras escritas.”
Parece,
portanto, que o processo cognitivo de ler pode estar conectado com o processo
motor de formar letras.
O artigo
acrescenta: “Larin James, professora de Ciências Psicológicas e do Cérebro na
Universidade de Indiana, escaneou o cérebro de crianças que ainda não sabiam
caligrafia. "Seus cérebros não distinguiam as letras; elas respondiam às
letras da mesma forma que respondiam a um triângulo", conta ela. Depois
que as crianças aprenderam a escrever à mão, os padrões de ativação do cérebro
em resposta às letras mostraram mais ativação daquela rede de leitura,
incluindo os giros fusiformes, junto com o giro inferior frontal e regiões
parietais posteriores do cérebro, que os adultos usam para processar a
linguagem escrita – mesmo que as crianças ainda estivessem em um estágio muito
inicial na caligrafia.”
Estudos
sobre anotações feitas à mão sugerem que "alunos de faculdade que escrevem
em teclados estão menos propensos a se lembrar e a saber do conteúdo do que se
anotassem à mão", conta Laura Dinehart.
O Louco acrescenta: escrever
à mão é terapêutico!
Em verdade, tenho afirmado que escrever é terapêutico. Escrever à mão, em vez de usar o teclado,
acrescenta alguns elementos. Em geral o manuscrito é mais lento em sua
execução, e consequentemente aquele que escreve tem mais tempo para pensar. Se
a escrita torna-se mais lenta e mais “pensada”, pode ter efeito tranquilizador.
Lamento profundamente que tenhamos perdido o hábito de
escrever cartas à mão.
Aproveito para relatar aqui uma experiência pessoal que
ainda me é grata, depois de tantos anos. Meu pai sempre teve uma bela
caligrafia. Já idoso, pedi-lhe que escrevesse meu próprio nome numa folha em
branco; escaneei-a e fiz dela meu cartão de visitas. Sempre que o apresento a
alguém (o que é raríssimo hoje em dia), recebo elogios, Que cartão lindo!, e
então explico que a letra é de meu pai.