segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Felipe Cohen, parte 3

O Estado publica a terceira e última parte do ensaio de Alberto Rocha Barros sobre a exposição “Ocidente”, de Felipe Cohen, sob o título Legado do Modernismo Brasileiro.
Afirma Rocha Barros:

 “Mencionei o imperativo do sistema geométrico ao qual estão submetidas todas as obras da exposição “Ocidente”. Isso decorre da dívida de Cohen com sua educação no modernismo brasileiro. E o modernismo nacional é, para nós, o que a arte clássica foi para a tradição artística europeia. É o nosso ponto de partida e paradigma identitário.
Mesmo não sendo um especialista na tradição de nosso modernismo, sei que posso afirmar, sem causar espécie,  que a heterogeneidade marca o movimento. Tendo a pensar parte do modernismo como decorrência de um problema artístico mais amplo: como inserir ordem dentro de um mundo que foi presenteado com a liberdade promovida pela revolução da abstração?”

            E fala de Cohen com entusiasmo:

“Cohen está claramente criando para si um sistema semelhante de regras, uma gramática por assim dizer. A partir de um conjunto restritíssimo de elementos – triângulos do mesmo tamanho e dimensão; um conjunto reduzido de cores – ele tenta engendrar um certo número de criações. Para os meus olhos, o trabalho de Felipe Cohen que mais presta homenagem a esse problema apresentado pela abstração é o seguinte:”


“Luz Partida”. Série de 2016, de Felipe Cohen.


“Tenho dificuldade de enxergar uma paisagem aqui, mas vejo uma tentativa de casar abstração minimalista com uma dinâmica viva de cores e formas. Um esforço paralelo aparece nos “espaços celestes” (skyspaces) de James Turrell:”


Skyspaces

            E Rocha Barros finaliza sua análise sobre a arte de Felipe Cohen:

“Eu disse que vejo na obra de Felipe Cohen uma reverência à tradição da história da arte e um esforço para deleitar o espectador, mas disse também que seu trabalho vive numa eterna tensão entre representação e abstração. Acredito que essa tensão perene seja sua herança modernista, que, em certo sentido, sai triunfante da exposição.”

           




Felipe Cohen, parte 2

O Estado da Arte publica a segunda parte do ensaio do psicanalista e doutor em filosofia Alberto Rocha Barros sobre a exposição “Ocidente”, do artista plástico Felipe Cohen. “A Questão do Belo” dá título ao artigo.
Depois de discutir a concepção do que é a Beleza, Rocha Barros analisa uma obra de Cohen:

“A referência renascentista permanece. Ele empresta das paisagens renascentistas três elementos: um gosto por ambientes geometrizados, de atmosfera quase surreal ou fantástica; um interesse pelo contraste entre montanhas, céu e mar; uma combinação de tons rosáceos, azulados e amarronzados. Poderíamos utilizar como referência o seguinte quadro de Andrea Mantegna:



Vejamos agora a criação de Cohen sobre o tema:
  
  
Série “Luz Partida”, Felipe Cohen, 2016.

            Afirma Rocha Barros:

“A violência da tradução de uma linguagem para a outra é evidente. Dificilmente identificaríamos a fonte de inspiração. Mas talvez isso seja próprio da tradução artística. É bem conhecida as dificuldades de verter um poema de sua língua original para qualquer outra. As transformações e transposições necessárias são altamente agressivas. Mas, quando bem sucedidas, um substrato e um conjunto de temas e ideias permanece. Em sua releitura das paisagens italianas dos séculos XV e XVI, Cohen preserva um conjunto mínimo de pontes de apoio.”

            Em seguida Barros nos oferece uma análise interessante sobre a percepção que o expectador pode obter da tela, vendo-a de distâncias diferentes, aproximando-se, distanciando-se, caminhando ao redor da tela.

“A tela acima perde um pouco de sua vivacidade na reprodução fotográfica. Ela depende da e demanda a incidência de luz e o movimento do expectador. Caminhando ao redor dela, aproximando-nos ou distanciando, a luz ativa a tela: a geometria dura dos triângulos amolece, movimentos sutis tornam-se perceptíveis. Um feixe de sol, representado pelo triângulo “amarelado” no alto à esquerda incide sobre as montanhas e a água. Uma das faces de uma das montanhas banha-se em rosa. Uma ilusão de profundidade começa a transparecer. Notamos a sombra na qual a face do monte mais próximo de nós ainda está envolvido. As águas fluem e tremulam. Essa tentativa de vencer o próprio pendor pelo imperativo do sistema geométrico e presentear o espectador leigo com uma paisagem apaziguante nada mais é do que uma humilde tentativa de satisfazer nossos anseios pelo belo.”

      Porém, nossos "anseios pelo belo" permanecem.




A arte de Felipe Cohen

Alberto Rocha Barros, psicanalista e doutor em filosofia, publica no Estadão a primeira das três partes de seu ensaio sobre a exposição Ocidente, de Felipe Cohen (reportagem de Eduardo Wolf, 14/12/2016). O título é Felipe Cohen: do modernismo brasileiro à pintura italiana – Parte 1.
            Interessantíssimo o ensaio, uma aula para se compreender melhor a arte contemporânea, que tem início com a seguinte pergunta:

“A arte contemporânea vive um momento singular de sua trajetória? Duas tendências sugerem que sim. Primeiro, o rompimento com o passado, sobretudo com os mestres canônicos da tradição, fez com que a arte clássica, medieval ou renascentista, deixasse de ser referência ou inspiração aos artistas. Além disso, a busca pelo “belo” não é mais o elemento norteador para muitos artistas visuais: mais urgentes são batalhas conceituais, pautas sócio-políticas ou o estímulo de efeitos específicos no espectador. Nelas mesmas, essas tendências não merecem aplauso ou repúdio, pois assim como nunca teríamos aprendido apreciar formas artísticas variadas sem as vanguardas, é inegável que o coro “abaixo o cânone!”, quando em uníssono, é empobrecedor.”

       A primeira peça da exposição de Felipe Cohen (todas pinturas são em madeira) é a seguinte:


“Sem Título”, 2016.


“E é sobre a morte que trata esse quadro, tendo por inspiração a sepultura aberta que aparece em várias pinturas a respeito da ressureição de Cristo durante o período medieval e renascentista, como nesta de Fra Angélico, utilizada por Cohen como modelo:


“A Ressurreição de Cristo e as Mulheres na Tumba” (1440-41)

            Vejamos a análise de Alberto Rocha Barros:

“Cohen preserva e até aprofunda a ilusão de “vazio” do túmulo, mas drena o quadro de suas cores e personagens, criando uma atmosfera modernizante que remete àquelas paisagens ermas e severamente geométricas de outro pintor italiano, Giorgio de Chirico. Ou às composições estilizadas de Giorgio Morandi. É um quadro extremamente minimalista, o que convida o expectador à reflexão.
Tendo a morte por tema, a opção não é descabida e, ao reduzir o Fra Angélico ao essencial – o túmulo vazio do Cristo renascido –, Cohen alude também a uma de suas obsessões visuais: o interesse recorrente pelos “fundos de quadro”, algo muito presente em toda a exposição, e que acaba por dominar essa tela. Afinal, não sobra nela outra coisa a não ser túmulo e fundo.”
  
A escultura também está presente na exposição de Cohen:

  
Ocaso #3, 2016.


“O que vemos é um sol se pondo no mar. Há um reflexo na água, criado por um jogo natural de luz e sombra. Novamente, as cores e tonalidades são brandas e contidas, e o espaço narrativo é límpido e abstrato. Não é um sol fulgurante e reluzente, mas uma criação geométrica.”

            É preciso educar-se para apreciar melhor a arte contemporânea.


Vale a pena ler o artigo integral:



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