terça-feira, 26 de junho de 2018

Tentativa de conversão


Em animada conversa com o amigo que crê, o ateu relata a interessante história da própria bisavó, que teve uma boa morte. Conta ele: 
– Ela, passada dos 80, e a filha, minha avó, cultivavam o sagrado hábito de rezar antes de dormir. A velha já deitada e bem protegida do frio acompanhava em silêncio a Ave Maria e o Pai Nosso recitados em voz alta pela filha ajoelhada à cabeceira. Ao terminar, Boa noite, Boa noite, mais um dia vencido.
Naquela noite especial, finda a ladainha, Boa noite... Boa noite... Não se ouviu resposta. A filha levantou-se, repetiu junto ao ouvido da mãe e com voz mais forte Boa noite, e como não houvesse resposta, balançou-lhe o braço inerte. A velha estava morta.
Aquele que crê ouve com a máxima atenção o relato do amigo ateu. Este agora passa a falar com certo entusiasmo da boa morte que teve a bisavó, diz que gostaria muito de morrer assim, morte melhor não poderia haver, aquilo é que era morrer em paz! 
E pergunta: 
– O que será preciso para que se desfrute de tamanha dádiva?
O amigo que crê responde:
– Não custa tentar, experimente rezar antes de dormir...

110 anos de Guimarães Rosa

Em discurso de posse na Academia Brasileira de Letras em 16 de novembro de 1967, João Guimarães Rosa começou descrevendo, com a maestria própria, sua terra natal:

“Cordisburgo era pequenina terra sertaneja, trás montanhas, no meio de Minas Gerais. Só quase lugar, mas tão de repente bonito: lá se desencerra a Gruta do Maquiné, milmaravilha, a das Fadas; e o próprio campo, com vasqueiros cochos de sal ao gado bravo, entre gentis morros ou sob o demais de estrelas.”

Três dias depois de ser empossado na Academia Brasileira de Letras, João Guimarães Rosa teve um ataque cardíaco e morreu. Ele havia sido indicado para o prêmio Nobel de Literatura.
Amanhã, dia 27 de junho, são comemorados 110 anos de seu nascimento. 


Capela São José, patrimônio da cidade
Foto: Atílio Avancini

O artigo de Leila Kiyomura (22 jun 2018) para o Jornal da USP, trata do acervo de Guimarães Rosa no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, que foi adquirido em 1972, cinco anos depois de sua morte. É a principal fonte para quem pesquisa o autor.”
Afirma Kiyomura: “É a essência do mundo mágico e do sertão de João Guimarães Rosa que os estudantes, professores e pesquisadores encontram no acervo do escritor no IEB. “Esse acervo é composto da biblioteca, com cerca de 3.500 volumes, com uma variedade ampla de assuntos, e há também o arquivo documental, com os seus cadernos de anotações, livros inacabados, fotos e uma infinidade de documentos”, conta a professora Sandra Guardini Vasconcelos, professora do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.” 
A professora fala sobre o escritor, sua obra e o acervo adquirido pela USP: “Guimarães Rosa começa sua carreira literária em 1946, com o livro de contos Sagarana, que foi muito elogiado pela crítica. Dez anos depois, lança duas obras monumentais: Corpo de Baile e Grande Sertão: Veredas. E se torna um escritor reconhecido, definitivamente incorporado na grande galeria dos escritores brasileiros.”


Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Escreve Kiyomura: “Emociona ver as primeiras páginas do diário da viagem que Rosa fez em 1952 (muitas dessas anotações serviriam posteriormente para a redação de Corpo de Baile), originais que revelam o escritor lapidando cada palavra, lendo e relendo. Um apuro de um escritor artesão e que tornou sua obra uma arte universal, como bem lembrava Antonio Cândido. O crítico e professor da USP afirmou: “A gente sentia que o regionalismo dele tinha universalidade dos temas, uma vibração espiritual sobre os grandes problemas que atormentam o homem. A linguagem dele não era documentária, na verdade ele estava criando, inventando uma linguagem plantada em Cordisburgo, mas estava ligada às raízes da língua portuguesa.” 

 

Cadernos contêm também desenhos de Guimarães Rosa
Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

            Ler-reler-ler-outra-vez-ler-sempre Grande Sertão – Veredas, eis o maior prazer que um livro pode nos proporcionar.



Imagens do futebol

A foto do dia

 

Foto: Rodrigo Villalba

Os jogadores da imagem são Sadio Mané, a estrela de Senegal e jogador do Liverpool, e Thiago Rangel Cionek, zagueiro da Polônia e jogador do SPAL da Itália. Ele nasceu no Brasil e se naturalizou polonês quando jogava no Jagiellonia Białystok. “Foi aos 35 minutos do segundo tempo. Mané caiu e Cionek o ajudou a se levantar. No momento em que vi como se davam as mãos sabia que tinha a foto que queria”, afirma Villalba.