sábado, 3 de setembro de 2016

O grande Rubem Braga

              Mais um lançamento a ser saudado pelo Louco com o entusiasmo de sempre: Crônicas de Rubem Braga!
            Para ser preciso, uma caixa com três volumes, e os correspondentes  subtítulos:
     1) “Os segredos todos de Djanira & outras crônicas sobre Arte e Artistas”;
     2) “Os moços cantam & outras crônicas sobre Música”;
     3) e “Bilhete a um candidato & outras crônicas sobre Política Brasileira”.
Os organizadores, respectivamente, são André Seffrin, Carlos Didier e Bernardo Buarque de Holanda.
            Um encanto de edição, da Ed. Autêntica!
            O que encanta mesmo em Rubem Braga, considerado por muitos o maior cronista brasileiro, é a simplicidade com que escreve. Vejamos um trecho de uma crônica escrita em 1953, publicado na revista Manchete:

“Nasceu em 1907 no bairro de Laranjeiras, um dos seis filhos de um casal folgado financeiramente, e fez curso primário e secundário no Colégio Santo Antônio Maria Zacarias, dos padres barnabitas, no catete onde também estudavam – um ano mais adiantados – Octavio de Faria, Marcelo Roberto e Paulo Werneck. Aluno medíocre, deixou a escola aos 16 anos mas sempre ficou dependurado por um exame de História Universal; dedicou-se à sinuca, ao futebol (meia-direita do Juvenil do Fluminense, teve grande emoção em 1925 atuando na preliminar de um jogo Cariocas  x  Paulistas), ao remo (voga no Guanabara, fechou a raia em sua única séria competição) e à meia vagabundagem de um rapazola filho de pai abonado. [...] O mau estudante formou-se afinal na Escola de Belas Artes, para onde entrara contra a vontade paterna...”

            A crônica revela então o nome do aluno medíocre, para surpresa do leitor, e comenta a trajetória profissional do homem: Oscar Niemeyer!
            (Em tempo, e espero que isso não seja frequente na presente edição, o texto original traz “rapazola filho de pai abandonado”. Corrigi para “abonado” e espero que eu esteja certo.)
            A simplicidade encantadora a que me referi pode ser constatada na expressão “...um casal folgado financeiramente”. Não é mesmo deliciosa?
            Outra: “...ficou dependurado por um exame de História Universal”.
            Ainda: “...dedicou-se à sinuca”. A ironia grita nos ouvidos do leitor.
Algumas palavras e expressões estão fora de uso, mas não perderam sua poesia. Imperdíveis as crônicas de Rubem Braga!

            

Análise de uma Aldravia

            Pedro Cardoso (de Brasília, ele mesmo gosta de enfatizar, para diferenciá-lo do homônimo famoso), poeta, escritor de múltiplas habilidades, meu amigo e leitor deste blog, enviou-me esta crítica que publico no Louco com muito gosto e sem falsa modéstia.


Análise de uma Aldravia


            Este tema é relativamente novo para mim, ainda não consigo decifrar suas amarras com segurança, mas vou tentando aqui, acolá. Quem sabe me tornarei, futuramente, um poeta Aldravianista por excelência. Vontade, não me falta.
            A interpretação será diretamente relacionada ao conhecimento que tenho do mundo poético e do gênero Aldravia, por isso minha análise será única, este é um dos mais belos trunfos da poesia.

            Como exercício, farei uma análise breve de uma Aldravia que li no blog “Louco por Cachorros” do escritor e poeta, André Luiz Vianna. Médico, radicado em Brasília. O poema diz o seguinte:

ipê
branco
neve
em
pleno
cerrado

            Sem dúvida uma bela Aldravia. São seis palavras que fluem como se fossem brisa, suavemente, quando as lemos.
            É preciso apreciarmos o texto para entendermos o sentido de cada uma de suas palavras, dentro do contexto. Não é necessário que sejam feitas releituras para termos certeza de que não deixamos escapar nenhum detalhe significativo, que pudesse nos impedir de ouvir o que a Aldravia nos diz.
           
            Ao abrir o olhar para o poema, deparei-me de imediato com a palavra IPÊ. Nesse momento me vieram à mente outras variedades da espécie, tais como: amarelo, roxo e verde. Porém o autor destacou o branco para fazer contraponto com a palavra neve e, para solidificar sua ideia, completou com os seguintes versos: “em/pleno/cerrado”.
            A imagem que se cria, com a leitura do texto, é a de que o cerrado, como se fosse possível, está tomado pelo frio intenso e que as pétalas brancas penduradas nas extremidades das galhas, desprovidas de quaisquer folhas, vão se soltando lentamente para compor a camada de “gelo” que se esparrama pelo chão, reforçando a ideia de neve.
            Outro aspecto que gostaria de ressaltar é que o texto não traz, em sua configuração, nenhuma rima, o que, a meu ver, fortalece o poema. Além de que o torna mais moderno e atual.
            O texto tem ainda uma conotação ambientalista que nos leva a refletir que é preciso proteger o cerrado. Só assim, teremos este esplendor todos os anos, nos meses de agosto e setembro, não só  no nosso imaginário poético.

            E viva a poesia!!!

Paraolimpíada




    Nunca me conformei com a tal de Paralimpíada. Não com os jogos, é claro, mas com a nova palavra, ou palavrão.
            Parece que a orientação partiu do COI, que passou a chamar o evento de Paralympics, e daí a tradução direta, Paralimpíada. Subserviência que a língua falada pelo povo nem sempre aceita.
Para”, radical grego, significa “ao lado de”; antecede o termo principal, Olimpíada. Como quer o COI, o principal passa a chamar-se Limpíadas!
            Que bobagem.
            Ou se diz Parolimpíadas, ou prevalecerá o forma adotada pela maioria da população, que não gosta de complicar: Paraolimpíadas. A Folha de S. Paulo, corajosamente, também já passou a grafar esta última forma.
            E vamos aos jogos!

Foto: Danilo Verpa / Folhapress (treino de Aline Rocha).
           

primeira florada



primeira florada
encanta o ipê amarelo
com delicadeza



Foto: A.Vianna, set 2016, jardim.