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domingo, 6 de março de 2022

Eutanásia

 

Quem decide sobre aborto, eutanásia e drogas? Este o título do artigo de Hélio Schwarsman para a Folha hoje (4 mar 2022).

Tendo em vista que “A Suprema Corte da Colômbia determinou que o aborto não pode ser considerado crime quando realizado até a 24ª semana de gestação”, Schwartsman discute se aborto, eutanásia e uso de drogas devem ser decididos por legisladores ou juízes.

      Há um ponto que desejo destacar, no texto do articulista:

“Assim como você não consulta seu vizinho para saber o que pode cozinhar para o jantar, não penso que deva consultar a sociedade para saber se vai dar sequência a uma gravidez, se vai consumir cocaína, ou se vai abreviar sua passagem por esta Terra. Essas são questões tão indevassavelmente íntimas que nem o Estado tem legitimidade para regulá-las.”

E ele conclui:

“Manter uma gravidez, usar drogas e encurtar a própria vida são condutas cujas repercussões recaem primordialmente, ainda que não exclusivamente, sobre quem as pratica. E, de qualquer forma, parece estranho sustentar que pessoas, grávidas inclusive, podem se acabar com álcool, mas não com outra droga, que podem cometer suicídio, mas não solicitar apoio médico se não tiverem mais condições de tirar a própria vida.

Deveria haver limites para a hipocrisia social.”

 

            Sempre que na mídia vem à baila o tema eutanásia, talvez entre tantos o maior tabu existente em nossa sociedade – a palavra faz parte daquelas que não podem ser ditas ou escritas, muito menos pensadas – este blog se manifesta. Que seja apenas para chamar atenção ao incômodo dilema. Schwartsman foi mais enfático e chamou de hipocrisia social.

            Minha ideia é a de que o assunto precisa ser discutido. Grande número de países em todo o mundo já regulamentou a eutanásia, cada qual com suas peculiaridades, respeitando aspectos históricos e culturais de cada local. Por aqui, o mais profundo silêncio.

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2022/03/quem-decide-sobre-aborto-eutanasia-e-drogas.shtml

 

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Eutanásia aos 17 anos




“Adolescente de 17 anos, traumatizada por múltiplos estupros, morre após pedir eutanásia na Holanda.” Esta a manchete publicada hoje por El País, na reportagem de Isabel Ferrer, (Haya, 5 jun 2019).  Ainda não foi confirmado se ela recebeu ajuda médica para pôr fim à vida.
Noa Pothoven, adolescente holandesa de 17 anos vítima de transtorno de estresse pós-traumático, anorexia e depressão, morreu no último domingo em sua casa, em Arnhem, Holanda. 
Informa Ferrer: “A primeira agressão sexual contra Noa ocorreu quando ela tinha 11 anos, em uma festa escolar. Até então, tinha sido uma menina alegre e com boas notas na escola. Um ano depois, voltou a acontecer, desta vez em uma festa de adolescentes. Quando completou 14, foi estuprada por dois homens em um beco da sua cidade. Na época não contou a ninguém. Só depois denunciou, e sua mãe, Lisette, explicou que reviver o ataque foi demais para sua filha. Desde então, ela sofria de anorexia, e sua vida virou um entra-e-sai de hospitais e centros especializados. Ao comprovar seu estado emocional, os juízes a internaram à força em uma instituição durante seis meses: lá foi imobilizada e isolada para que não se lesionasse. “Nunca, nunca mais voltarei para um lugar assim. É desumano”, disse Noa, tempos depois.”
Ao sair dessa clínica, a anorexia piorou. Sua família denunciou a falta de lugares apropriados na Holanda para casos como o de sua filha, que acabou hospitalizada e com uma sonda nasogástrica.” 
Em 2018 ela publicou um livro, intitulado Ganhar ou Aprender, em que contava sua história. O livro ganhou um prêmio em março passado, e Noa, na época, comentou: “Não sei se continuarei escrevendo”.


 
Capa do livro de Noa Pothoven

“Noa solicitou a eutanásia porque não aguentava mais seu sofrimento. “Serei direta: dentro de dez dias terei morrido. Estou exausta após anos de luta, e parei de comer e beber. Depois de muitas conversas e de uma análise da minha situação, decidiram me deixar ir embora, porque minha dor é insuportável”. "Não vivo há muito tempo, sobrevivo, e nem isso", contou na sua mensagem final. “O amor é deixar ir embora. Neste caso é assim”, acrescentou, aproveitando seus últimos dias para se despedir da família e amigos.”

A eutanásia é legal na Holanda desde 2002, e maiores de 12 anos podem solicitá-la se sofrerem de enfermidades sem cura e padecimentos insuportáveis. Até os 16 anos, é necessária a autorização dos pais. Na Holanda a eutanásia não costuma ser solicitada por adolescentes ou jovens com dores psíquicas, como é o caso aqui relatado. 



quinta-feira, 23 de maio de 2019

Destino cruel de Emma





Cadela saudável foi submetida à eutanásia para atender ao último pedido da tutora, que queria ser enterrada ao lado de seu animal de estimação. 
Aconteceu nos Estados Unidos, informa Lívia Marra para a Folha de S.Paulo (22 mai 2019). “A shih tzu Emma foi levada a um abrigo na Virgínia no começo de março, após a morte da tutora. Durante as duas semanas que ficou ali, os protetores tentaram reverter a decisão e colocar a cadela para adoção.”
Emma acabou submetida a eutanásia, seu corpo cremado, e as cinzas colocadas em uma urna e devolvidas ao representante da mulher.
Nos Estados Unidos, a lei considera animais de estimação como propriedade pessoal. A eutanásia sem necessidade não é aprovada por muitos veterinários, que consideram a decisão cruel e recusam o procedimento.
            No Antigo Egito, quando morria o faraó ou pessoa da alta hierarquia, os escravos, cavalos, animais de estimação eram enterrados junto com o ilustre morto. Parece que a prática perdura, milênios após. 
Que barbarismo! Como é lento o processo civilizatório. 
A homenagem deste blogueiro a Emma.


(Foto: Adobe Stock)

domingo, 27 de janeiro de 2019

Suicídio assistido




24 novembro 2015: “O cientista que ajudou a mãe a morrer foi preso e virou voz pró-suicídio assistido” (BBC Brasil).
"Houve grande alívio depois que ela bebeu (a mistura  [18 comprimidos de morfina diluídos num copo dágua]). Então sentei ao lado dela e conversei sobre minhas memórias de infância. Uma hora depois ela perdeu a habilidade para falar e caiu no sono. Eu também dormi, e quando acordei ela tinha morrido", conta Sean Davison, que escreveu um livro para contar a experiência.
Em 2011, Davison foi condenado por homicídio doloso na Nova Zelândia, onde morava a mãe do cientista; a pena foi revertida para crime de incentivo de suicídio, com punição bem mais branda: cinco meses de prisão domiciliar.
Os eventos levaram Davison a se tornar um ativista pró-eutanásia. Ele fundou a Dignity SA, ONG que faz lobby na África do Sul para a criação de uma lei permitindo o suicídio assistido. 
Afirma Davison: "Quando minha mãe estava doente, minha cabeça estava voltada para mantê-la viva, mesmo com sua saúde se deteriorando na minha frente. O dia em que ela me pediu que a ajudasse a morrer foi um choque. Passei dias refletindo sobre o pedido, até que finalmente percebi que a decisão não era minha, e sim de minha mãe. Quem era eu para dizer para minha mãe que ela não poderia morrer e que teria de continuar apodrecendo em uma cama?"
Patricia, a mãe de Davison, era médica, e durante sua agonia recusou tratamento. Ficou paralítica e perdeu o paladar, o que a levou a fazer uma greve de fome para tentar acelerar sua morte. "Ela não conseguia mais ler e pintar, que eram seus principais hobbies, porque também perdeu a habilidade de mover os braços. Quando ela parou de se alimentar e pediu que não a levássemos para um hospital, achei que sua morte seria rápida. Mas cinco semanas se passaram e ela ainda continuou viva." 
“O cientista escreveu um diário relatando a experiência, que enviou para uma irmã. "Ela me disse: 'você tem que publicar isso'. Era um documento do que tinha passado, foi uma forma de lidar com o estresse de tudo o que aconteceu. Minha irmã é assistente social e várias vezes tinha se deparado com casos em que parentes ajudaram entes queridos a morrer. Ela achava que tornar minha experiência pública poderia ajudá-los a ver que não estavam sozinhos".
Porém, outra irmã do cientista não apenas foi contra a publicação como entregou uma cópia do diário para a polícia neozelandesa. 
Afirma Davison: "Não fui julgado apenas pela Justiça, mas pela mídia e pela sociedade. Para aqueles que me criticam, só peço que se coloquem no meu lugar antes de emitir opiniões." 
"A Nova Zelândia é um país muito religioso e o suicídio assistido é uma questão delicada. As pessoas não param para pensar na morte, a não ser na hora em que precisam lidar com ela. Não acho que ninguém precisa deixar de ser preocupar com a vida, mas ter consciência de questões relacionadas à morte é importante", finaliza. 
Mesmo em tempos de fundamentalismo religioso, este blogueiro voltará sempre a este tema.


sexta-feira, 28 de julho de 2017

Adeus a Cena

A foto do dia



Por Lívia Marra, para a Folha de S.Paulo, hoje:
  
“Uma cerimônia emocionada marcou o adeus ao labrador Cena, 10, que, ao lado do veterano de guerra Jeff DeYoung serviu na Marinha americana. O cachorro, especialista em detectar bombas, esteve em três missões  no Afeganistão e se aposentou em 2014. Depois, foi adotado por seu companheiro de trabalho. Recentemente, teve diagnosticado um tipo agressivo de câncer nos ossos e precisou ser submetido à eutanásia.”




segunda-feira, 12 de setembro de 2016

A hora de Marieke Vervoort



Marieke Vervoort, atleta belga de 37 anos, ganhou neste fim de semana a medalha de prata na prova de 400 metros de ciclismo de pista em cadeira de rodas, nos Jogos Paraolímpicos do Rio 2016. Ela já ganhou outras duas medalhas olímpicas.
Até aí nada demais, não fosse o fato de que Vervoort tem a metade inferior do corpo paralisada, a visão limitada a 20%, sente dores que a impedem de dormir noites a fio, além de ataques epiléticos. É portadora de doença degenerativa incurável e progressiva, sofrimento que se iniciou aos 14 anos de idade.
Vervoort informou que esta será a sua última participação nos Jogos Paraolímpicos. “Depois desta edição, quando eu sair daqui, irei desfrutar cada pequeno instante. Vou me voltar mais para a minha família e amigos, a quem não pude dedicar muito tempo, pois, sendo um esporte de competição, eu tinha de treinar todos os dias”.
Afirma Vervoort: “Já assinei a documentação [da eutanásia], mas ainda desfruto cada momento. Quando chegar a hora, quando os dias ruins foram em maior número do que os bons, para esse dia, já tenho a documentação para a eutanásia. Mas a hora ainda não chegou”.
Ela acrescenta: “Se eu não tivesse a documentação da eutanásia, creio que já teria me suicidado, porque é muito difícil viver com tanta dor e tanto sofrimento e sob essa incerteza”.
A eutanásia é reconhecida legalmente na Bélgica e a atleta tem a autorização para este ato desde 2008.
            Em meu ponto de vista, não se trata de algo que devamos considerar certo ou errado, pois o terrível sofrimento, é Marieke que o conhece e experimenta a cada dia, por longos anos. Em tais circunstâncias, é um direito da pessoa dispor sobre a própria vida.
            Também não se trata de mera opinião pessoal, o que é irrelevante diante da tragédia vivida por milhares de seres humanos mundo afora. A Bélgica, bem como outros tantos países, reconhecem este direito.


Foto: Mauro Pimentel /AP

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Processo civilizatório



Hélio Schwartsman inicia sua crônica de hoje na Folha (4/11) com uma pergunta direta e surpreendente: “Qual a melhor coisa que aconteceu à humanidade?
            Cada leitor haverá de buscar sua própria resposta, em função de uma série de fatores que influenciam as convicções de cada um, sejam morais, religiosas, filosóficas, científicas, e outras tantas de origem ignorada pelo próprio sujeito, porque inconscientes. Haverá lugar também para uma resposta negativa, dada a abrangência da questão: Não sei!
            Eis como respondeu o nosso articulista:

“Embora eu padeça de simpatias anarquistas, não hesito em responder que, historicamente, a maior bênção que caiu sobre nós foi o surgimento de Estados fortes, com aparelhos repressivos. Foi isso que fez com que as pessoas contivessem drasticamente o pouco civilizado hábito de matar umas às outras.”

Schwartsman cita como referência a obra do sociólogo Norbert Elias, "O Processo Civilizatório" (1939), que afirma:

“...à medida que o Estado passou a exercer o monopólio da violência, indivíduos foram se autodomesticando. Aos poucos, foi deixando de ser uma reação normal assassinar o rival por causa de um insulto, por exemplo. Esse processo de autocontrole não se limitou à violência, atingindo também outros aspectos da vida, como o comportamento sexual, as funções corporais e até as maneiras à mesa.”

Schwartsman baseia-se ainda em taxas de homicídio ao longo da evolução da humanidade. Em sítios arqueológicos pré-históricos, 60% das ossadas são de pessoas assassinadas. Na Idade da Pedra, 10% a 20%. Nos grandes impérios da Antiguidade, 2% a 5%. No século 20, 1% a 2%, incluindo as duas guerras mundiais e genocídios. Na Dinamarca a taxa hoje é de 0,027%.
            Surpreendentemente, Schwartsman, cujos textos apresentam sempre argumentação poderosa, não cita o outro grande fator responsável pelo chamado processo civilizatório, em meu ponto de vista: a Religião. Sobre a questão em pauta, mais explícito e categórico que um dos Dez Mandamentos da Lei de Deus, impossível: Não matarás.
            Schwartsman conclui sua crônica criticando a bancada conservadora do Congresso Nacional, ao tentar modificar para pior o Estatuto do Desarmamento, e que “esboça um movimento contrário àquele que possibilitou a mais importante conquista da civilização”. Este, o ponto central do texto do articulista da Folha.
            Acrescento que esta mesma bancada conservadora, paradoxalmente, toma ao pé-da-letra o mandamento citado acima e coloca-se contrária ao aborto (até mesmo quando a gestação é resultado de estupro) e à eutanásia.
            Em meu ponto de vista, são movimentos contrários à civilização.