quinta-feira, 2 de maio de 2019

La portugala tradukis

 
Poucos minutos antes da hora do almoço alguém toca a campainha. É o carteiro, diz Belarmina. O carteiro, hora dessas? interrogo. Será uma multa de trânsito?
Era o carteiro, e trazia com ele uma pequena encomenda, um embrulho caprichosamente feito à mão, de papelão, recoberto por papel branco, amarrado com fino barbante amarelo. Em letra manuscrita estavam meu nome, endereço completo com CEP e tudo, o carimbo da postagem de 24 de abril de 2019, e o bilhete Registrado dos Correios. Uma obra prima de embrulho! Tão bonito que tive a ideia de fotografá-lo, antes de abrir. O remetente, meu irmão Paulo Sergio.


Tomado por certa agitação – os dois ovos fritos quase queimaram na frigideira, não fosse Belarmina acudi-los – abri com uma faquinha o esmerado embrulho. O que encontrei ainda era mais precioso: uma caixinha medindo exatamente 7,5 x 5,0 x 3,8 cm, de cartão revestido de papel branco, lombada verde, com o título Dom Casmurro, de Machado de Assis. Ela continha um pequeno livro, uma verdadeira miniatura, pouco menor que as citadas dimensões, com as mesmas inscrições da caixa.


Ao abri-lo, depois da folha de guarda, na segunda folha, os dizeres:

DOM CASMURRO

el la portugala tradukis
Paulo Sergio Viana

Sanpaulo
2019



Há momentos que valem por uma vida inteira, e este foi um momento de felicidade plena. O significado do presente estava desde logo expresso no capricho do embrulho. 
            Paulo traduziu para o Esperanto a obra prima de Machado de Assis, agora publicado na delicada forma de uma miniatura, mas perfeitamente legível.
            Minha mulher perguntou, E você vai ler? ao que respondi, Além de ter o livro, ainda preciso lê-lo? Confesso, com certo constrangimento, não leio ou falo Esperanto. O constrangimento deve-se ao fato de que meu irmão é um ícone do Esperanto nacional, mundialmente conhecido. Já traduziu para o Esperanto até mesmo José Saramago, além de outros romances de Machado. Eu, rematado ignorante.
            Adorei o presente!

Machado era negro




(Clique na foto para ver melhor)


Machado de Assis era negro, informa Tiago Rogero para O Globo (1 mai 2019).
Muita gente não sabe disso, e as fotografias do escritor, como eram em preto e branco, foram sendo retocadas com o passar do tempo, foram embranquecendo.
Afirma Rogero: “Para reparar essa “injustiça histórica”, a Faculdade Zumbi dos Palmares e a agência Grey lançaram a campanha “Machado de Assis Real”. A partir desta imagem clássica à esquerda, que “muda a cor da sua pele, distorce seus traços e rejeita sua verdadeira origem”, a equipe da campanha criou a foto da direita, respeitando o tom de pele e os fenótipos negros do autor de, entre outros, “Dom Casmurro” (1899).”  
“A ideia é que cada um entre no site, imprima a foto nova e cole sobre a antiga em seus livros. Há também um abaixo-assinado para que as editoras e livrarias “deixem de imprimir, publicar e comercializar livros em que o escritor aparece embranquecido”. 
Informa a campanha: “Trata-se de uma “errata histórica feita para impedir que o racismo na literatura seja perpetuado e para encorajar novos escritores negros”.  
O leitor faça seu julgamento a respeito do assunto.


Paula premiada





Paula premiada em concurso internacional, em duas categorias!Única representante do Brasil. A Família está orgulhosa!