Marilia Neustein, em sua
crônica de ontem (17/1) no Estadão, “Cadê a empatia?”, chama a atenção para um fato frequente em
nosso cotidiano:
“Se
você é uma pessoa que trabalha muito – e é feliz fazendo isso – acredite: em
algum momento, lugar ou rede social, uma criatura vai lhe dizer que você tem
que diminuir o ritmo, prestar atenção mais em você, focar na sua vida afetiva
(como se fosse impossível conciliar uma vida laboral com relações pessoais).
O
contrário também existe. Caso você seja uma pessoa que optou por fazer seu
próprio horário, viver com menos e se dedicar a projetos menores… espere até
ouvir que você precisa tomar rumo, ter ambições, ralar na vida. Se você vai
casar tem sempre alguém que diz – com todo tom de autoridade – se você deve
fazer festa ou não, o que é adequado ou brega, qual é o segredo para fazer um
relacionamento durar. Se engravidar então, aí é o ápice: as pessoas te dizem
até que parto você deve fazer.”
E Marilia
conclui:
“Todos
esses exemplos para dizer o seguinte: quando perdemos a capacidade de nos
colocarmos no lugar do outro?”
Colocarmo-nos no lugar do outro
significa criar empatia. Dizer para
o outro como ele deve pensar ou o que ele deve fazer cria antipatia. Afasta, confunde, provoca aversão, não ajuda o outro,
por mais bem intencionados que estejamos.
Em algumas situações, com determinadas
pessoas, estabelecemos a empatia de forma natural, ela flui independente de
nossa vontade, surge espontânea, brota como uma fonte de água cristalina, e nos
sacia. Esta relação independe do nível sociocultural do outro ou de quaisquer
outras diferenças. Acontece, e pronto!
(Há poucos dias esteve aqui em casa uma
moça para ajudar no trabalho doméstico e que nos cativou a todos. Pobre, de
origem humilde, cinco filhos para criar, realizou seu trabalho com alegria, perguntando
sempre, querendo aprender tudo, falando da vida sem maiores reclamações. De
nossa parte, fizemos o possível para ajudá-la. Ao despedir-se, chorou. Essa
relação interferiu claramente no ambiente familiar, para melhor, exemplo de
consequência da empatia natural.)
E quando isso não ocorre de forma
espontânea? Então temos duas opções: ou agimos como exemplifica Neustein, ou
calçamos o sapato do outro. A primeira alternativa é “mais fácil”, para alguns
ela parece até natural, não é preciso
pensar para dar conselhos ou dizer o que o outro deve fazer, basta repetir a
própria experiência, sem perguntar se esta vale para o outro.
Se não ocorre de maneira espontânea,
para vestir o calçado alheio, além de sentir, é preciso
pensar. E pensar dá muito trabalho.