A excelente crônica de José Eduardo
Agualusa em O Globo, intitulada “É urgente reabilitar o sonho” (1)
(6/4/2015), tem início com o relato do jornalista
canadense Graeme Wood que publicou interessante ensaio sobre o autoproclamado
Estado Islâmico (EI). Wood, diferentemente de muitos analistas, afirma que o EI é realmente islâmico, e não é
um movimento do século XXI, porque, na realidade, o EI vive no século VII.
Mais importante que isso, as atitudes do EI não são
fruto de uma interpretação perversa do Corão, e sim do Corão tomado ao pé da
letra.
Se o Corão fala em golpear o inimigo no pescoço, o EI
os degola; se fala em crucificar os infiéis, o EI deixa-os na cruz até
morrerem; se o Corão fala em escravizar, o EI sequestra e escraviza. Vivem
mesmo no século VII.
Com uma diferença importante, que nem Agualusa nem
Wood consideraram: O EI usa armas de destruição do século XXI. Utilizam-se de
metralhadoras e fuzis modernos, andam de caminhonetes equipadas com armas de
grosso calibre, usam explosivos e escavadeiras para destruir sítios
arqueológicos preciosos, como o de Nimrud, no Iraque, do século XIII a.C.. E
mais, fazem vídeos de suas atrocidades, como propaganda ideológica, se é que há
alguma ideologia em suas atitudes.
Se vivem no século VII, e tudo que existiu antes do
Corão não tem valor (eles alegam que as imagens que destroem são de culturas pagãs),
hoje deveriam andar de carroça puxada a burro e destruir monumentos
pertencentes à humanidade com as próprias mãos. Não é isso que ocorre.
A sociedade moderna falha no combate ao EI. A ONU
falha, a União Europeia falha, países do chamado primeiro mundo falham, todos
falham. E os bárbaros continuam praticando seus atos de irremediável destruição,
vivendo o delírio de que estão em pleno século VII.