terça-feira, 14 de abril de 2015

O Estado Islâmico é islâmico



A excelente crônica de José Eduardo Agualusa em O Globo, intitulada “É urgente reabilitar o sonho” (1) (6/4/2015), tem início com o relato do jornalista canadense Graeme Wood que publicou interessante ensaio sobre o autoproclamado Estado Islâmico (EI). Wood, diferentemente de muitos analistas,  afirma que o EI é realmente islâmico, e não é um movimento do século XXI, porque, na realidade, o EI vive no século VII.

Mais importante que isso, as atitudes do EI não são fruto de uma interpretação perversa do Corão, e sim do Corão tomado ao pé da letra.

Se o Corão fala em golpear o inimigo no pescoço, o EI os degola; se fala em crucificar os infiéis, o EI deixa-os na cruz até morrerem; se o Corão fala em escravizar, o EI sequestra e escraviza. Vivem mesmo no século VII.

Com uma diferença importante, que nem Agualusa nem Wood consideraram: O EI usa armas de destruição do século XXI. Utilizam-se de metralhadoras e fuzis modernos, andam de caminhonetes equipadas com armas de grosso calibre, usam explosivos e escavadeiras para destruir sítios arqueológicos preciosos, como o de Nimrud, no Iraque, do século XIII a.C.. E mais, fazem vídeos de suas atrocidades, como propaganda ideológica, se é que há alguma ideologia em suas atitudes.

Se vivem no século VII, e tudo que existiu antes do Corão não tem valor (eles alegam que as imagens que destroem são de culturas pagãs), hoje deveriam andar de carroça puxada a burro e destruir monumentos pertencentes à humanidade com as próprias mãos. Não é isso que ocorre.
           
A sociedade moderna falha no combate ao EI. A ONU falha, a União Europeia falha, países do chamado primeiro mundo falham, todos falham. E os bárbaros continuam praticando seus atos de irremediável destruição, vivendo o delírio de que estão em pleno século VII.


Vista de Toledo, de El Greco




Doménikos Theotokópoulos, conhecido como El Greco, (Fodele, 1541 – Toledo,1614): pintor, escultor e arquiteto grego que desenvolveu a maior parte da sua carreira na Espanha.

“Nasceu em Creta, que naquela época pertencia à República de Veneza, e era um centro artístico pós-bizantino. Treinou ali e tornou-se um mestre dentro dessa tradição artística, antes de viajar, aos vinte e seis anos, para Veneza, como já tinham feito outros artistas gregos.1 Em 1570 mudou-se para Roma, onde abriu um ateliê e executou algumas séries de trabalhos. Durante sua permanência na Itália, enriqueceu seu estilo com elementos do maneirismo e da renascença veneziana. Mudou-se finalmente em 1577 para Toledo, na Espanha, onde viveu e trabalhou até sua morte. Ali, El Greco recebeu diversas encomendas e produziu suas melhores pinturas conhecidas.”


A morte do poeta



A morte

E o Poeta morreu.
A sombra do cipreste pôde enfim
Abraçar o cipreste.
O torrão
Caiu desfeito ao chão
Da aventura celeste.

Nenhum tormento mais, nenhuma imagem
(No caixão, ninguém pode
Fantasiar).
Pronto para a viagem
De acabar.

Só no ouvido dos versos,
Onde a seiva não corre,
Uma rima perdura
A dizer com brandura
Que um Poeta não morre.

                                                Miguel Torga