sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Não me leves a mal, Francisco...

100 anos de José Saramago


“Não me leves a mal, Francisco, se te faltei. Foste pedir a pobres o que pobres não podem fazer: acabar com os ricos. Se tal fosse possível, crê que já estaria feito. Desde que o mundo é mundo que há pobreza e há riqueza. É certo que de vez em quando um pobre torna-se rico. Quando isso acontece, e é uma coisa que os ricos gostam que aconteça, o pobre esquece a pobreza. Nunca reparaste? Evidentemente, este rico não se esquece de que foi pobre, mas a pobreza deixou de existir para ele. Mesmo que a sua riqueza seja uma pobre riqueza, insignificante se comparada com outras, não importa, ele já é rico, pertence aos ricos, os ricos pertencem-lhe.”

 

 

            José Saramago

      A segunda vida de Francisco de Assis

 

https://blimunda.josesaramago.org/desde-que-o-mundo-e-mundo-que-ha-pobreza-e-ha-riqueza/

 

Mais uma trapalhada

Charge do dia 



MOR

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Fotoabstração N.80

 



Foto: AVianna, fev 2022

Pela Ucrânia

Política sem palavras 



A revisão é necessária!

 



Página original de Balzac, revisada!
Não havia o computador, uma tormenta.


Três vezes Pietà

As três versões da 'Pietà' de Michelangelo são exibidas juntas pela primeira vez (Gildas Le Roux, AFP, para O Estado de S. Paulo, 23 fev 2022).

 

 


A ‘Pietà do Vaticano’, como ficou conhecida a obra de Michelangelo Foto: Jennifer Lorenzini/ Reuters

 

 


'Pietà Rondanini', escultura de Michelangelo, do museu do Castelo Sforzesco em Milão Foto: Jennifer Lorenzini/ Reuters

 

 

‘Pietà Florentina’ ou ‘Bandini’, obra de Michelangelo, do museu Duomo de Florença Foto: Jennifer Lorenzini/ Reuters

 

 

“A Pietà de Michelangelo, escultura de mármore que simboliza o amor maternal admirada em todo o mundo na Basílica de São Pedro, no Vaticano, ofuscou duas outras versões comoventes do mesmo tema esculpidas pelo gênio renascentista. 

Por esta razão, o museu Duomo de Florença, a catedral, proprietária da chamada Pietà Florentina ou Bandini, que acaba de ser restaurada, decidiu expor as três obras juntas pela primeira vez, graças a empréstimos feitos pelo Museus do Vaticano e o museu do Castelo Sforzesco em Milão, onde está localizada a chamada Pietà Rondanini."

 



As três versões da 'Pietà' feitas por Michelangelo juntas em exposição em Florença - a 'Bandini', a do 'Vaticano' e a 'Rondanini' Foto: Jennifer Lorenzini/ Reuters

 

 

"Instaladas uma em frente a outra, em uma elegante sala cinzenta, essas variações sobre o mesmo tema (Maria abraçando seu filho falecido), foram realizadas em diferentes fases da vida do artista, que morreu aos 88 anos (1475-1564)." 

 

 

https://cultura.estadao.com.br/noticias/artes,as-tres-versoes-da-pieta-de-michelangelo-sao-exibidas-juntas-pela-primeira-vez,70003988640

 

 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Curta e grossa

 Imagem & microconto


– O patrão não está.




Foto: Helmut Newton (1929 - 2004), fotógrafo de moda alemão, naturalizado australiano.

Partir ou chegar

Imagem & microconto


Partir ou chegar, pouco importa. Ela só não pode permanecer muito tempo no mesmo lugar.

 

 

 

Foto: Carmen Spitznagel, fotógrafa alemã.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Felicidade

 Imagem & microconto


A noite escura, no silêncio dos canais desertos, ela voltou feliz para casa!



Foto: autor desconhecido.

Eternidade

Imagem & microconto

 



 

A noite escura, no silêncio das ruas vazias, ela esperou, esperou... Ele não veio.

 

 

 

Foto: autor desconhecido.

Conversa de Internet

Terceira charge do dia 





André Dahmer

Satélite

 



Fim de tarde.

No céu plúmbeo

A Lua baça

Paira

Muito cosmograficamente

Satélite.

 

Desmetaforizada,

Desmistificada,

Despojada do velho segredo de melancolia,

Não é agora o golfão de cismas,

O astro dos loucos e dos enamorados.

Mas tão-somente

Satélite.

 

Ah Lua deste fim de tarde,

Demissionária de atribuições românticas,

Sem show para as disponibilidades sentimentais!

 

Fatigado de mais-valia,

Gosto de ti assim:

Coisa em si,

– Satélite.

 

 

                        Manuel Bandeira

                        Estrela da tarde

                        Poesia completa e prosa

                        Ed. Nova Aguilar, 1990

Dor

Meus quadros favoritos

 

Eduardo Chicharro Agüera

Madri, Espanha, 1873 - 1949 

Data: 1912 (Ávila)

 

Mentir virou moda

Segunda charge do dia 


Laerte Coutinho

Troca-troca

Charge do dia 


Claudio de Oliveira para a Folha hoje

Agora já não eram precisas contradanças...

100 anos de José Saramago


 

“Agora já não eram precisas contradanças de quem vai dormir com quem, Joaquim Sassa abriu o sofá-cama ajudado por Pedro Orce, Joana Carda retirou-se discretamente, e José Anaiço ficou uns momentos ainda, sem jeito, fingindo que não era nada consigo, mas o coração batia-lhe dentro do peito como um rufo de alarme, ressoava na boca do estômago, fazia abalar todo o prédio até aos alicerces, embora esta tremura não se pareça nada com a outra, enfim disse, Boas noites até amanhã, e retirou-se, é bem certo que as palavras nunca estão à altura da grandeza dos momentos.”

 

            José Saramago

      A Jangada de Pedra

 

 

https://blimunda.josesaramago.org/contradancas/

 

Porquinho-da-índia

 


 

Quando eu tinha seis anos

Ganhei um porquinho-da-índia.

Que dor de coração me dava

Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!

Levava ele pra sala

Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos

Ele não gostava:

Queria era estar debaixo do fogão.

Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...

 

– O meu porquinho-da-índia foi a minha 

                                       [primeira namorada.



           

           Manuel Bandeira

           Libertinagem

           Poesia e prosa completa

           Ed. Nova Aguilar, 1990




Aprendi pouca coisa, quase nada, nessa vida tão curta. Pois foi no domingo passado, aos 75 anos, que ouvi pela primeira vez, na voz de minha mulher, este poema de Manuel Bandeira. Logo eu, que passei toda minha vida lendo Bandeira, interessado na relação dele com a morte, de como enfrentou a terrível tuberculose, e venceu com a ajuda da Poesia.

 

Hoje prefiro o humor e a ironia de Bandeira, tão bem expressos nesse poema. Mercêdes foi apresentada ao porquinho-da-índia ainda menina, estudante de escola pública no interior de Minas Gerais. Conheci Bandeira na escola pública no interior de São Paulo.

 

Como eram excelentes as escolas públicas de antigamente!  

           

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Da morte de um animal de estimação

 


Blimunda



A morte de um animal de estimação, cadelinha querida, pessoa especial que me acompanhou nos últimos sete anos, me fragiliza de tal maneira que faz aflorar em mim sentimentos ancestrais, do tempo em que a vida do homem era permanentemente ameaçada pela natureza bruta, agressiva, cruel, nada menos que ameaça de morte, de aniquilação. E este homem primitivo, desde os tempos imemoriais, implora por dois tipos de ajuda.

          A primeira e mais imediata solicitação é a presença do ser que se encontra mais próximo, humano ou mesmo animal, alguém que ao menos possa emprestar o calor do corpo e, se possível, alguma manifestação de afeto. Nada mais, nada menos, que a indispensável presença do outro, algo fundamental desde o nascimento.

          O outro apoio, há milênios, vem daquele de ser imaginário, superior e onipotente, capaz de proteger o homem da tenebrosa escuridão da noite, do rugir da tempestade, da devastação dos vulcões e terremotos, da besta-fera que também busca sobreviver. 

          Esse apelo por proteção e sobrevivência ressurge agora em mim, com a morte de um pequenino animal de estimação. Uma frase emerge súbita e intensa, inesperadamente pronta, acabada, vinda de algum lugar desconhecido – talvez do inconsciente mais antigo e profundo –, em forma de oração dodecassilábica:

          – O murmurar de uma fonte é a prece do ateu.

          Aqui estou eu, frágil desprotegido ameaçado pela ideia originária da morte, os sentimentos mais primitivos desencadeados por outra morte, a atestar minha permanente vulnerabilidade. Entretanto, posso pensar. Sofro, mas o sofrimento não mata. Posso então analisar a ideia que me vem como um presente. 

            O murmurejar da fonte é ouvido e sentido como carícia, afeto, calor de gente ou de animal. Em forma de prece, porque vem da pessoa que pede socorro. Porém, ela está intimamente ligada à palavra ateu, inexorável e definitiva, de alguém que já pode re-conhecer a própria fragilidade, admitir a finitude, dispensar – sem arrogância! – a proteção do onipotente e, por fim, admitir que está só no mundo, fator inerente à condição humana. 

            Sofro, posso sentir. A memória que me resta vem em meu auxílio e me informa que não há apenas dor. Permanecem em mim os momentos de felicidade propiciados pela convivência junto ao pequeno animal, que nada pedia além do alimento para a própria subsistência, e tudo ofertava. Essas preciosas lembranças estarão comigo enquanto eu viver. 

            Aos poucos, muito devagar, na medida do tempo geológico, o homem caminha, prossegue na saga da evolução das espécies.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Na guerra, no campo de batalha...

100 anos de José Saramago



 

“Na guerra, no campo de batalha, vemos cair um companheiro, parece às vezes a ferida ligeira, e se o queremos ajudar a erguer-se, os membros desfalecem-lhe, é um corpo morto que mais tarde teremos de enterrar. Outras vezes julgamos que é mortal o golpe, que não há esperança, passamos adiante e contamo-nos um a menos, mas olhamos para o lado e vemos que ele se levantou por suas próprias forças e continua o combate, mesmo deixando atrás de si o sangue. Assim são os amores. Julgamo-los vivos e estão mortos, julgamo-los mortos e estão vivos.”

 

            José Saramago

 

      Que farei com este livro?

 

https://blimunda.josesaramago.org/assim-sao-os-amores/

O último exorcista


 

 

Padre Vanilson da Silva, o último exorcista do Distrito Federal

Foto: Reprodução/Redes sociais

 

 

“Fiéis católicos fazem abaixo-assinado após afastamento de padre exorcista em Brasília” (O Globo, hoje). 

Em Brasília, fiéis católicos fazem abaixo-assinado para que o pe. Vanilson da Silva volte a realizar missas e sessões de exorcismo na capital federal. 

Ele é o último exorcista do Distrito Federal e foi afastado de suas funções pela Arquidiocese de Brasília.

“Na noite desta terça-feira, 1.264 pessoas tinham assinado o documento”, informa a reportagem.

Nota de esclarecimento assinada pelo Gabinete Episcopal informa que "em breve será oportunamente nomeado outro sacerdote para a função de exorcista".

 

Ou seja, o Demônio continua solto em Brasília! E eu nem sabia que ele ainda existia.

 

 

https://oglobo.globo.com/brasil/fieis-catolicos-fazem-abaixo-assinado-apos-afastamento-de-padre-exorcista-em-brasilia-25396283?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Globo

Na Rússia

Charge do dia 


Amarildo

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Um pouco de teoria

100 anos de Semana de Arte Moderna

 



 

“Um pouco de teoria?

Acredito que o lirismo, nascido no

subconsciente, acrisolado num pensamento claro

ou confuso, cria frases que são versos inteiros,

sem prejuízo de medir tantas sílabas, com

acentuação determinada.

entroncamento é sueto para os condenados da

prisão alexandrina. Há porém raro exemplo dele

este livro. Uso de cachimbo...

 

A inspiração é fugaz, violenta. Qualquer

empecilho a perturba e mesmo emudece. Arte,

que, somada a Lirismo, dá Poesia, não

consiste em prejudicar a doida carreira do

estado lírico para avisá-lo das pedras e cercas

de arame no caminho. Deixe que tropece, caia

e se fira. Arte é montar mais tarde o poema de

repetições fastientas, de sentimentalidades

românticas, de pormenores inúteis ou

inexpressivos.”

 

            Mário de Andrade

            Pauliceia desvairada

            In Prefácio interessantíssimo, p. 39-40

            De Pauliceia desvairada a lira paulistana

            Ed. Martin Claret, 2016

 

 

A ponte

 

Quatro vezes ao dia ela cruza a ponte que separa o bairro onde mora do centro da cidade. O movimento de automóveis é sempre intenso nas seis faixas de rolamento, três em cada sentido, a qualquer hora do dia, da noite e mesmo da madrugada. 

Nas laterais há uma espécie de calçada para pedestres, que atravessam a ponte em suas caminhadas ou corridas diárias, pela manhã e à tarde. Ciclistas, em menor número, fazem o mesmo percurso. Alguns poucos turistas podem ser vistos na área, descendo de enormes ônibus coloridos.

            Além dos que se exercitam, facilmente identificados pelos trajes esportivos, ela observa quando cruza a ponte ao final da tarde ou começo da noite um outro tipo de gente a perambular pelas calçadas, também identificável com facilidade, por duas particularidades. Essas pessoas se cobrem de trajes pobres, às vezes esfarrapados; e carregam trouxas ou empurram carrinhos de supermercado entulhados de bugigangas. Às vezes apenas suas enigmáticas silhuetas se tornam visíveis à motorista, nas calçadas pouco iluminadas.

            A ponte foi construída para o deslocamento de pessoas em automóveis, ônibus e caminhões, para gente que mora na populosa periferia e que trabalha no centro da cidade. Ela não foi construída para pedestres, não há bairros pobres nas proximidades da ponte, a justificar que os mais desvalidos necessitem percorrê-la a pé, se deslocando de um lugar a outro.

            O que fazem na ponte essas pessoas carregando trouxas ou empurrando carrinhos de supermercado ao final da tarde? De onde vêm? Para onde vão com o cair da noite? O que pretendem com este anônimo caminhar?

            Ela sente o desejo de parar o carro e se informar, porém não há local próprio para estacionamento, o que de fato é proibido, para evitar acidentes; o movimento de veículos é intenso, é hora do rush; uma temeridade descer do veículo.

            Restam as perguntas, o estranhamento diário. 

            

Soberano

jequitibá-rosa

o gigante soberano

resguarda o jardim






Fotos: AVianna, fev 2022
iPhone 11 Pro Max


Máscara alimentado

Galeria de família 



Pela manhã, antes de sair para o trabalho, Mercêdes alimenta os gatos da rua que orbitam nossa casa.


Foto: AVianna, fev 2022.

Oriente médio

Eu amo mapas 


Topografia do Oriente Médio



Clique na imagem para ampliar.

Densidade populacional africana

 Eu amo mapas



Clique sobre a imagem para ver melhor.

Discurso pronunciado a 7 de Dezembro de 1998 na Academia Sueca

100 anos de José Saramago 


Prêmio Nobel


De como a personagem foi mestre e o autor seu aprendiz 


“A Pilar” 

 

“O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. Às quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia. Azinhaga de seu nome, na província do Ribatejo. Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram analfabetos um e outro. No Inverno, quando o frio da noite apertava ao ponto de a água dos cântaros gelar dentro da casa, iam buscar às pocilgas os bácoros mais débeis e levavam-nos para a sua cama. Debaixo das mantas grosseiras, o calor dos humanos livrava os animaizinhos do enregelamento e salvava-os de uma morte certa. Ainda que fossem gente de bom carácter, não era por primores de alma compassiva que os dois velhos assim procediam: o que os preocupava, sem sentimentalismos nem retóricas, era proteger o seu ganha- pão, com a naturalidade de quem, para manter a vida, não aprendeu a pensar mais do que o indispensável. Ajudei muitas vezes este meu avô Jerónimo nas suas andanças de pastor, cavei muitas vezes a terra do quintal anexo à casa e cortei lenha para o lume, muitas vezes, dando voltas e voltas à grande roda de ferro que accionava a bomba, fiz subir a água do poço comunitário e a transportei ao ombro, muitas vezes, às escondidas dos guardas das searas, fui com a minha avó, também pela madrugada, munidos de ancinho, panal e corda, a recolher nos restolhos a palha solta que depois haveria de servir para a cama do gado. E algumas vezes, em noites quentes de Verão, depois da ceia, meu avô me disse: «José, hoje vamos dormir os dois debaixo da figueira.» Havia outras duas figueiras, mas aquela, certamente por ser a maior, por ser a mais antiga, por ser a de sempre, era, para todas as pessoas da casa, a figueira. Mais ou menos por 

antonomásia, palavra erudita que só muitos anos depois viria a conhecer e a saber o que significava... No meio da paz nocturna, entre os ramos altos da árvore, uma estrela aparecia-me, e depois, lentamente, escondia-se por trás de uma folha, e, olhando eu noutra direcção, tal como um rio correndo em silêncio pelo céu côncavo, surgia a claridade opalescente da Via Láctea, o Caminho de Santiago, como ainda lhe chamávamos na aldeia.” ...

 

 

Trecho inicial do discurso de Saramago na Academia Sueca.

 

https://www.josesaramago.org/wp-content/uploads/2021/06/discursos_estocolmo_portugues.pdf

 

Às ordens!

Charge do dia 


Nando Motta e fr@nk

Dia da língua materna



INFORMATIVO DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE ESPERANTO


http://easp.org.br – Redação: Paulo S.Viana 

 

 

 

Em 21 de fevereiro comemora-se o Dia da Língua Materna. Esperantistas de todo o mundo expressam, na ocasião, seu apoio a um dos direitos universais do homem: o direito à preservação de sua cultura de origem, em que o idioma representa algo de valor inestimável. 

A Associação Universal de Esperanto, em nome de toda a comunidade Esperantista, enviou à Unesco a sua manifestação de apoio à preservação das culturas minoritárias que compõem o amplo espectro da Humanidade. 

Ao contrário do que se poderia pensar, o Esperanto não visa ser o único idioma da Humanidade, mas o segundo idioma de cada povo. Com a adoção da Língua Internacional neutra, as línguas maternas podem ser mantidas e cultivadas. Nesse sentido, é importante que as crianças possam ser educadas em sua língua materna, base para posterior aquisição de conhecimento. 




segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Tudo dominado

Segunda charge do dia


 André Dahmer

Progresso?




 

O processo de demenciação avança em ritmo acelerado. O progresso – ou se trata de retrocesso? – do distúrbio ganhou novo ímpeto, talvez seja sua evolução natural, ou ando abusando da costelinha-de-porco criado em Coromandel.

            Filme que vi ontem.

            Livro que estou lendo.

            Notícias mais recentes.

            Tudo se escoa por um ralo invisível, as imagens desaparecem na escuridão da memória, as palavras voam céleres para o mundo do nada.

            Os nomes próprios, para onde foram? Eu não sabia que era tão difícil conversar quando não lembramos dos nomes próprios. Aquele cara que fez aquele filme em que trabalha aquela atriz famosa lindíssima... como é meeeesmo o nome dele? Que filme?, pergunta minha mulher com cara de espanto.

            Outro dia aconteceu numa livraria:

– Moça, eu queria muito um livro, mas esqueci o nome.

– Lembra o autor?

– Não.

– A editora?

– Também não.

– Qual o assunto?

– Perda de memória.

            Ainda bem que me lembrei do assunto, não era nome próprio.

            Há vantagens! Estou revendo filmes ótimos no streaming (como é que consigo lembrar com facilidade dessa palavra que nem é do português?). Revendo pela primeira vez! Explico melhor: estou revendo com absoluta certeza que assisto pela primeira vez. Filmes ótimos! Outro dia assisti Um homem de sorte, com 2 h 47 min de duração!; à noite, com minha mulher, Vi um filme excelente hoje, a história se passa na Escandinávia (tenho me utilizado desse expediente com frequência: não me lembrava se era na Finlândia, Dinamarca ou Noruega, então mandei Escandinávia).  Ao reproduzir o título (escrito num pedacinho de papel), ela sapecou, Mas já vimos esse filme antes, é bom mesmo! E eu, Como assim?

            Estou pensando em pendurar no pescoço uma pequena lousa, um punhado de giz num bolso, um apagador no outro. Só para voltar a conversar.

            Enquanto isso, o terapêutico Diário da Demenciação prossegue firme.

 

Na livraria

 

– Moça, eu queria muito um livro, mas esqueci o nome.

– Lembra o autor?

– Não.

– A editora?

– Também não.

– Qual o assunto?

– Perda de memória.

Vaso com íris

Meus quadros favoritos 


Vincent van Gogh, 1890

Herança macabra

Charge do dia 



Laerte, tira de 2010, atualíssima!

Felicidade

Imagem & microconto 



– Mãe, quero tomar banho de piscina.

– Então senta aí nessa bacia, menino enjoado!



Foto: autor desconhecido.