terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Copinha segue brilhando


Luan abriu o placar na vitória de 2 a 0 sobre o Vasco da Gama hoje
Foto: Fábio Menotti / Ag. Palmeiras


            Após exaustivas disputas, para dizer o mínimo, onde os jogadores empenham-se quase que à morte, chega às quartas de final a Copinha – Copa São Paulo de Futebol Júnior 2018 – iniciada em 2 de janeiro último, com a final prevista para o dia 25 deste mês, aniversário da Cidade de são Paulo.
            Na próxima rodada enfrentar-se-ão:

Palmeiras x Portuguesa de Desportos
Flamengo x Avaí
São Paulo X Vitória da Bahia
Santos x Internacional

            São estes os 8 finalistas (dentre 128 times que iniciaram a disputa), dignos de todo elogio, jogando dia-sim-dia-não, debaixo-de-sol-debaixo-de-chuva, em bons e maus gramados, com invejável disposição, enfrentando o terrível mata-mata da segunda fase do campeonato.
            As duas maiores surpresas até agora foram as eliminações do Fluminense, ainda na primeira fase, e do Corinthians, nas oitavas, quando foi derrotado pelo Avaí por 2 a 0.
Os jogos que pude assistir foram realmente muito bons, inclusive no aspecto técnico. O toque de bola esteve presente nos melhores times, em especial no Palmeiras, responsável pelo placar mais dilatado até agora – 7 a 0 sobre o Taubaté.  
As finalizações a gol é que deixaram a desejar, em todos eles. Na hora de arrematar, quer pela pontaria, quer pela ansiedade, a bola desviava-se do gol. Mesmo assim, vi jogar bons goleiros, um deles com mais de 2 metros de altura (com menos de 20 anos de idade) e muita agilidade.
Sob o aspecto tático, os técnicos imitam inteiramente aqueles dos profissionais, com ênfase na linha de 4 ou 5 defensores. Por causa da correria, a média de gols é bem superior na copinha, em comparação aos times principais.
            Interessante também ver em campo árbitros e bandeirinhas novos, alguns com a idade dos jogadores, aproveitando a Copinha para se aprimorarem.
            Até o fim desta semana teremos os 4 finalistas.




Cartas brasileiras




            A organização é do prolífico Sérgio Rodrigues: as CARTAS BRASIEIRAS têm como subtítulo Correspondências históricas, políticas, célebres, hilárias e inesquecíveis que marcaram o país. (Edição Companhia das Letras, 2017.)
            A capa, de autoria de Raul Loureiro é belíssima, valorizada pelo grande formato do livro (21 x 27,5 cm), que traz 80 cartas de Olga Benário, Chico Buarque, Lampião, Hilda Hilst, Leminski, Ana Cristina Cesar, Olavo Bilac, Clarice Lispector, Drummond, Tarsila do Amaral, e outros tantos famosos.
            Tocou-me particularmente a carta escrita por José Freire Silva, pai do hoje mundialmente conhecido Nelson Freire, enviada ao filho quando este tinha apenas seis anos, e já “assombrava professores com seu prodigioso talento ao piano”, assinala Rodrigues.
            Assim José Freire da Silva conclui sua carta:

             “Em junho de 1950, portanto, uma decisão embaraçosa se apoderou de mim e de tua mãe, colocando-nos diante de um dilema de difícil solução. Devemos dar razão ao nosso coração? Permanecer em nossa querida terra? Criando-te como o fizemos com os nossos outros filhos, no ambiente de paz e de concórdia onde se acham localizados os nossos interesses materiais e onde nos prendem os laços mais caros do sentimento familiar? Ou, por outro lado, rumaremos para o Rio, onde o custo da vida é muitíssimo mais dispendioso e o ambiente meio padrasto em infusões afetivas, mas onde as tuas aptidões poderão desenvolver-se ilimitadamente? Depois de muito meditar, resolvemos seguir esta última vereda, entregando nosso futuro a Deus. Cumprindo a nossa obrigação, deslocamo-nos do interior de Minas para a capital da República, com a finalidade primordial de acompanhar-te os passos, porque ainda não prescindias de nossa companhia e de nossa assistência, mas o teu destino, este nós o colocamos na mão de Deus.
           Afetuosamente,

                                                                            o Papai”

            Quanto afeto, quanta intimidade! E que enorme responsabilidade depositada nos ombros de um menino pequeno!
            Uma carta como esta (o princípio é fundamental para compreendê-la, mas não o transcrevo aqui para que o possível leitor deste blogue se interesse pela compra do livro), lê-se como quem lê um romance. Como reagiram os irmãos do prodígio? Como eles se adaptaram à vida da cidade grande? Que sentimentos Nelson Freire carregou e carrega vida afora sobre este episódio? Estas e outras perguntas podem ocorrer a qualquer leitor da carta. Não sei se as respostas foram algum dia publicadas.
            Assim acontece com as outras cartas: despertam em nós questões que nos afetam particularmente.
            Escreve Sérgio Rodrigues na Apresentação do livro:

            “O tempo das cartas passou, levado pelo tsunami digital que varreu o mundo, mas a velha correspondência manuscrita ou datilografada conserva seu poder mágico de máquina do tempo. Poucas coisas são tão capazes de nos transportar inteiros, cabeça e coração, para outras eras, outros mundos e mentalidades.”

            Meu gosto pela literatura epistolar (descrito por um certo amigo como bisbilhotice) tem sido insistentemente registrado neste blogue. Além disso, fica evidente meu gosto por também escrever cartas, muitas vezes encarnado em diferentes personagens.
            Impedível, as Cartas Brasileiras!


Autorretrato

Meus quadros favoritos


Jean-Michel Basquiat

Não foi castigo dos deuses



Margem norte da Praça Grande de Teposcolula. Sob sua base foi encontrado um cemitério com corpos de vítimas do ‘cocoliztli’
Christina Warinner.
Projeto Arqueológico Teposcolula-Yucundaa


“Quando Hernán Cortés pisou em solo mexicano em 1519, havia na região mesoamericana entre 15 e 30 milhões de índios. Ao final do século XVI, mal restavam dois milhões. Embora as guerras e a exploração tenham liquidado muitos indígenas, foram as epidemias que dizimaram a população. Em especial uma série de surtos de uma enfermidade desconhecida, que não tinha nome nem em espanhol nem em náhuatl, e que os mexicas chamaram de cocoliztli (o mal ou pestilência), matou entre 50% e 90% dos indígenas. Agora, um estudo com o DNA antigo pode ter identificado esse agente patogênico: a salmonela.”
Assim tem início a impressionante reportagem de Miguel Ángel Criado para El País (15 JAN 2018).
Os sintomas eram febre alta, dores estomacais, diarreia, sangramento por todos os orifícios do corpo e icterícia. A morte ocorria num prazo de três ou quatro dias. Houve quem a visse como um castigo divino, já que afetava só os indígenas, enquanto os espanhóis pareciam imunes.
Segundo Criado, houve seis grandes surtos de cocoliztli no século XVI, sendo que as duas grandes epidemias foram as de 1545 e a de 1576. Na primeira, estima-se que 80% da população morreu. Na segunda, já com dados de dois censos de famílias espanholas e indígenas, morreram 45% dos nativos, que àquela altura eram apenas quatro milhões.
Eis o aspecto mais interessante da reportagem: “Agora, um grupo de arqueólogos mexicanos e especialistas alemães em DNA antigo acreditam ter identificado no sítio arqueológico de Yucundaa-Teposcolula o agente patogênico que causou tamanha mortandade. Localizado na Mixteca Alta (Oaxaca, México), sob a praça central da cidade, esse sítio arqueológico guarda os restos de dezenas de pessoas enterradas naquela época, segundo a datação por radiação de carbono. Com as precauções exigidas pela dificuldade inerente à análise de um material genético estranho em restos com quase 500 anos de idade, os autores do estudo acharam a presença de uma bactéria, a Salmonella enterica, nos dentes de indígenas que morreram durante a epidemia.”