domingo, 31 de maio de 2020

Fonte vermelha

Para a Paula,
a fotógrafa da família


Fonte vermelha

Foto: AVianna, mai 2020
Nikon D7200

Macaco Prego-de-cara-preta

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Foto: Mercêdes Fabiana, abr 2020

Fonte e manacá




Fonte e manacá

Manacá, apaixonado,
corteja fonte orgulhosa:
manda flores, desolado,

ela faz charme, dengosa... 

                                           Paulo Sergio Viana



Foto: AVianna, mai 2020
Nikon D7200

Fonte

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Fonte


Foto: AVianna, mai 2020
Nikon D7200 

Poeta padeiro

Galeria de Família


O poeta padeiro!


Foto: Elizabeth Viana, mai 2020

Amarelo-laranja

Fotominimalismo




Foto: AVianna, mar 2020

sábado, 30 de maio de 2020

Oficina do Tobias VI

Folhetim

Sexto encontro

Não há aprendizado sem avaliação, afirmou Paulo Freire, o grande educador brasileiro, assim Tobias deu início aos trabalhos do dia.
            Tenho lido com cuidado todos os textos que os senhores me entregam a cada oficina, faço as observações que julgo pertinentes e os devolvo, e agora é o momento de ouvi-los a respeito do que temos produzido até agora. Saibam os senhores, já fui professor do ensino secundário, no ginásio, como se dizia antigamente, e sei por experiência própria que os alunos não gostam de avaliações, mas como não há alunos nem professores por aqui, vamos a elas.
            Meu nome é Solange, sou de Taubaté, Vale do Paraíba, mãe de dois filhos pequenos, tenho apenas o Curso Normal, sou professora primária. Escrevo em meus cadernos, à noite, quando as crianças e o marido estão dormindo. O desejo de escrever vem então muito forte, mas nem sempre tenho boas ideias. Por isso me impressionou muito o que ocorreu com a moça chamada Moema. Queria conversar um pouco sobre isso. Será que também tenho medo de me revelar?
            Por falar nisso, Tobias, você bem que poderia ter dado uma segunda chance a Moema, mas penso que, quem não deseja se revelar não pode nem abrir a boca; melhor fazer uma psicanálise, replicou Josíres. (Riso geral, como sempre.) Tobias gostou da sugestão da psicanálise e rematou, Mesmo porque a escrita pode ser terapêutica, mas a Oficina não, daí a única obrigação imposta ao grupo, a de escrever, uma linha que seja. Se não pode fazer isso...
            Diógenes, 30, cuiabano, professor de curso secundário, pede a palavra, Tobias, você criticou meu texto pelo uso excessivo de frases curtas. Então resolvi trazer, para a apreciação da classe, o primeiro parágrafo do conto Gato na chuva, de Ernest Hemingway. Com o endereço para quem se interessar em ler o conto todo: http://www.triboletras.com/2017/07/gato-na-chuva-hemingway.html?m=1. Agradeço a Alberto por tê-lo impresso.

“Havia apenas dois americanos no hotel. Eles não conheciam nenhuma das pessoas por quais passaram na escada à caminho de seu quarto. O quarto ficava no segundo andar, de frente para o mar. Também ficava de frente ao jardim público e ao monumento de guerra. Havia palmeiras e bancos verdes no jardim público. Quando o tempo está bom, há sempre algum artista com seu cavalete. Os artistas gostavam de como as palmeiras cresciam e brilhavam as cores que o hotel tinha de frente ao jardim e ao mar. Os italianos vinham de um longo caminho para ver o monumento de guerra. Era feito de bronze e relanceava na chuva. Estava chovendo. A chuva caía das palmeiras, das árvores. A água se amontoava em piscinas no caminho pavimentado. O mar se quebrava numa linha extensa na chuva, voltava para a praia e subia novamente para se quebrar numa linha extensa na chuva. Os motores dos carros já haviam partido da praça do monumento de guerra. De frente à praça, na entrada da porta, um garçom observava a praça vazia.”

            Josíres foi o primeiro a se manifestar, Tenho óóódio! (Gargalhada geral.) Tobias fez uma rápida votação, Quem gostou levanta a mão! Metade da turma gostou, metade não gostou. Tobias parece que já esperava por isto, ele tem experiência. Aproveita e  dá uma aula, Hemingway (1899-1961) é escritor de grande importância, Nobel de Literatura, ganhador do Pulitzer, sofreu grande influência da cultura espanhola ao lutar na Guerra Civil Espanhola (1936-1939), daí seu magnífico romance Por quem os sinos dobram. O valor dele é inquestionável.
            Vejamos agora, continuou Tobias, o primeiro parágrafo do monumental Inferno Provisório, do nosso Luiz Ruffato (1961-), natural de Cataguases:

“André, André pequeno, Andrezim, parto difícil, até o último suspiro a tia Maria Zoccoli suava ao lembrar: dos que chegaram pelas suas mãos e vingaram, o pior, nasceu sentado, embora doessem-lhe quantos inascidos!, abortos horrendos, monstros, anjinhos semeando o lado de trás, o das bananeiras, das casas das fazendolas nos derredores de Rodeiro, quantos! Andrezim não, vicejou, quase afatigando de vez a Micheletta velha, mulher efêmera, sempre dessangrada, azul-clara de tanta brancura, atrofiada na cama, doente todo ano, embarrigada, esvaindo a mocidade pelos baixios, vinte anos de gravidezes, um estupor, treze rebentos – oito filhas-mulheres –, espigados, cabelos de algodão tão louros, bochechas avermelhadas engordando vestidos de bolinhas, caras apimentadas enchendo calções esgarçados.”

            Senhores, não há certo nem errado no que estamos discutindo. Pão ou pães é questão de opiniães, escreveu nosso Rosa. É mais fácil escrever com frases curtas, há menos chance de errar, assim ensinam todas as oficinas de escrita, exceto a minha: peço que façam o exercício de escrever com frases longas, com fluência, ao sabor do inconsciente. Quando aprenderem – alguns aqui já o fazem –, então poderão escrever facilmente com as curtinhas. Deixo aos senhores a escolha.
            Amanhã continuaremos com as avaliações. Boa tarde a todos.

Sempre querendo mais

Charge do dia



Laerte Coutinho

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Quem é a linda moça?

Galeria de Família



Desafio a todos que conhecem este blog!

Quem é a linda moça da direita,
com cachos de uvas na cabeça?



quarta-feira, 27 de maio de 2020

Oficina do Tobias V

Folhetim

Quinto encontro

“Sempre pensei que pudesse aprender a escrever apenas lendo os clássicos. A ideia de aprender com os iguais foi a grande revelação desta oficina.”

Quem inicia a apresentação do quinto encontro da Oficina do Tobias é Leontina, que prefere ser chamada de Tina, 76 anos de idade, natural e residente em Guaratinguetá, SP, mulher de fibra, mãe de cinco meninos levados na infância, agora adultos, um deles professor de renome na USP, engenheiro elétrico, eu acho, ela desde sempre mulher independente, de ideias próprias, amiga dos velhos tempos de Tobias, que colocou-a no grupo sem que precisasse de disputar a inscrição de madrugada, portanto sem passar pelo processo de seleção. Tina continua:

“Tenho 76 anos e estou cansada de leituras, a cabeça cheia, acho que chegou o tempo de escrever. Não se trata de livro de memórias, nada disso, é apenas a vontade de relembrar o tempo vivido, mas com os pés no presente. Contar casos. Rir dos erros do passado, porque como diz o poeta, “fiz o que pude”. Agora resta apenas rir do passado.
Voltemos à escrita; quando ouvimos o discurso de um sabichão, desses escritores famosos que vivem dando aulas em oficinas, em grupos de leitura, até na televisão, pouco aprendemos com eles, aturdidos que ficamos com a desenvoltura deles, com o tamanho do ego deles, e nada ou quase nada apreendemos; não temos tempo nem de pensar.
Aqui não. Podemos prestar atenção nos erros e acertos dos colegas, todos (ou quase todos) entusiasmados, podemos criticar à vontade e receber críticas à vontade, temos tempo para pensar. Assim aprendemos. A partir de então, podemos voltar aos clássicos.
Escrevo esse pequeno texto com total liberdade de expressão. O professor – sei que ele não gosta de ser chamado de professor, mas Tobias é um professor – permanece calado a maior parte do tempo, ele não nos interrompe, nunca pretende estabelecer o que é certo e o que é errado, nunca impõe a última palavra, assim aprendemos cada qual a sua maneira.
Escrever para mim tornou-se um terapia..."

            Tina continuou lendo seu texto por mais algum tempo e quando terminou os aplausos nunca foram tão sinceros e emocionados. Puxa vida, que mulher cheia de vida aos 76 anos de idade! André, 30, também residente em Guará, advogado, acrescentou, Pena que Tina não contou a vocês que é conhecida em toda a cidade, desde mocinha, por andar sempre de bicicleta, onde quer que vá! Aquilo despertava a maledicência das mulheres da cidade interiorana, preconceituosa, hipócrita, invejosa da independência intelectual de Tina. Lembro-me claramente desses acontecimentos porque minha mãe tinha alguma participação neles; ela definia as atitudes de Tina como “mania de originalidade”. Pura inveja.
            Tobias levantou-se e dirigindo-se à classe perguntou, Quem é a professora aqui? ...ao que todos responderam em uníssono, É a Tina é a Tina é a Tina, ao som de mais palmas! Beatriz, a mais nova da turma, apenas 18 anos, cursando o primeiro semestre de Jornalismo em Jundiaí, SP, fez interessante observação, Vejam meus colegas, não há problema em se revelar, não há como não se revelar ao escrever, isso significa repartir experiências, de modo claro, se possível, e organizado, pois escrever implica em organizar o pensamento.
            Esse era o gancho que Tobias precisava para convidar Moema, que permanecia calada ao fundo da sala, a ler o texto dela. Moema, por favor. Nada escrevi, e sei que este é meu último dia na oficina, murmura Moema, completamente arrasada.
Mais uma vez o silêncio, agora acompanhado de certo constrangimento, toma conta do grupo. Tobias acrescenta, Lamento, fica talvez para uma próxima oportunidade. E informa, Senhores, os dois próximos encontros serão de avaliação sobre o que produzimos até agora. Tragam suas críticas e observações por escrito, por favor. E tenham uma boa tarde.
            Ao contrário do encontro anterior, saem todos cabisbaixos.
            

Paulo e as trovas

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Nosso querido poeta Paulo Sergio ganha Prêmio no II Concurso Internacional de Trova Clássicas! Parabéns, Paulo!

Patrocínio: Organização Mundial de Trovadores, Colombia, maio de 2020.

O tema da competição : Menino.

Ainda ontem, meninos,
a soltar pipa e alegria,
hoje somos peregrinos
num mundo sem poesia.

                                                         Paulo Sergio Viana

terça-feira, 26 de maio de 2020

Anatomia

Charge do dia



Tuíte de Augusto de Franco

Armar o povo

Frase do dia


“A educação, mais que tudo, não pode ser capturada pela mediocridade, pela grosseria e por visões pré-iluministas do mundo. Precisamos armar o povo com educação, cultura e ciência”. 

                                                                  Luís Roberto Barroso



segunda-feira, 25 de maio de 2020

Oficina do Tobias IV

Folhetim


Quarto encontro


Quem deseja ser escritor precisa escrever todos os dias e é por isso que estamos aqui nessa manhã fria e chuvosa de domingo, para aprimorar nossa escrita, o que é sempre possível e desejável, assim Tobias abre os trabalhos do dia. Quem toma a palavra?

“Meu nome é Suzete, com zê, sou cabeleireira mas só corto cabelo de homem. 
O cliente chega, ofereço-lhe a cadeira, pergunto que tipo de corte ele deseja, geralmente me pedem tipo jogador de futebol, inicio o trabalho e o cliente logo percebe um livro sobre a bancada onde ficam os apetrechos de uma cabeleireira, tesoura pente máquina elétrica escova pincel bacia toalha, o livro ali do lado, e o cliente Quem está lendo este livro, é você? ...a mesma pergunta que vocês provavelmente estão se fazendo nesse momento, Como, uma cabeleireira a ler um livro? E afinal que livro é esse? ...pergunta o cliente e perguntam vocês, curiosos e espantados, As irmãs Makioka, de Jun`Ichiro Tanizaki, um clássico da literatura japonesa, respondo, o que há de espantar ainda mais a todos, o cliente e vocês que me ouvem com tanto respeito. Agradeço.  
Li em Borges que realidade e ficção são a mesma coisa; digo eu, duas faces da mesma moeda chamada realidade psíquica. (Aprendi isso no Louco por cachorros, mas não escrevi nem falei para o grupo, apenas pensei.) Então façam de conta que sou mesmo uma cabeleireira chamada Suzete. Mas como, ela também escreve? ...uma cabeleireira que lê e escreve? 
Nem o Papa Francisco haverá de realizar milagre igual! (Gargalhada geral da plateia.) Mas uma cabeleireira não é nenhum cão sarnento, desses coitados que a gente vê pelas ruas largados famintos imundos carrapatentos fedidos, todos filhos de Deus, todos filhos de Deus.
Cabeleireira é gente. Algumas sabem ler e escrever, embora nunca tenham frequentado faculdade da USP ou passeado em iate de luxo na baía de Angra. 
E sabem sobre o quê esta cabeleireira escreve? Sobre tudo, desde o desaparecimento dos dinossauros até o Presidente da República, de preferência à sombra da uma frondosa mangueira em F., a pequena cidade onde resido.
            (Pronto, estavam incluídas todas as palavras exigidas por Tobias para a tarefa do dia.)
Voltemos ao cliente, ainda sentado em minha cadeira. Termino o corte, pergunto se está bom, se gostou, ninguém nunca reclamou, sou boa no que faço, porém gostaria de aprimorar minha escrita, por isso estou aqui, para aprender com vocês.”

Soam tímidos aplausos. Há um clima de desconforto no grupo, de confusão, Quem é essa moça, É mesmo cabeleireira? Ou o texto é apenas ficção? ...é o que todos se perguntam, perplexos, exceto Tobias, que conhece a verdadeira identidade de Suzete. Ana Paula, sempre ela, desconcertada, a disfarçar o desconcertamento porque não estava se sentindo dona da situação, disparou, Posso saber seu nome verdadeiro? Suzete, com zê. Ana Paula continua, Então por que essa história de realidade e ficção, 
Borges escreveu mesmo isso ou também é invenção sua? ...agressiva como sempre.
            Ana Paula, escrevi esse texto pensando em você, que em encontro anterior pediu mais originalidade. Eu tentei, gosto muito de escrever, Borges afirmou mesmo e assimilei bem isso de realidade e ficção serem a mesma coisa, às vezes ajuda a quem escreve confundir o leitor, artifício muito utilizado pelos escritores de verdade.
            Agora os aplausos soam entusiasmados! Josíres grita Bravooo! Bravooo! Bravooo! Enfim, o grupo compreende o sentido do texto apresentado. Suzete fala de uma realidade que parece ficção, em um país de analfabetos funcionais. Como? Uma cabeleireira?
            Tobias está entusiasmado, Suzete está pronta! pensa ele, que personalidade! que presença de espírito! ela armou uma arapuca! desarmou os mais beligerantes! mostrou que é inteligente! sabe se colocar no grupo! (Apenas pensa, nada diz.) 
Desejo fazer pequeno comentário sobre a citação de Suzete a respeito de Jorge Luis Borges, o gênio portenho: ela é absolutamente verdadeira e, de fato, é arma poderosa nas mãos de um bom escritor. (Agora ele se lembra do que disse no primeiro encontro, da possibilidade de aparecer alguém no grupo melhor que o professor, com mais criatividade, mas prefere silenciar. O elogio pouco ou nada acrescenta, mas pode atrapalhar...)
            Prossegue Tobias, Quanto à FORMA, também há criatividade no texto apresentado, sob a ótica da literatura contemporânea, que oferece ao escritor ampla liberdade. Mais algum comentário? Silêncio.
            (Tobias considera que a oficina cresce a cada encontro. Está satisfeito.)
            Bem, senhores, o tema para amanhã é Quem não sabe escrever pode aprender com quem também não sabe escrever, mas tenta.
            Boa tarde a todos.
            (É preciso acrescentar que embora Tobias tenha finalizado a reunião, todos juntaram-se em torno de Suzete, Gostei muito, Parabéns, abraços, beijos, tapinhas nas costas, curiosos por conhecer melhor aquela pessoa, estranha pessoa. Combinaram de almoçar em restaurante popular perto dali, indicação de Alberto, conhecedor da cidade. O almoço foi mais interessante que o próprio encontro da oficina.)
            

sábado, 23 de maio de 2020

Oficina do Tobias III

Folhetim

Terceiro encontro

Clarice voltou para casa feliz da vida, Ricardo amargurado, Ana Paula arrependida e Moema, assustada; oficina de escrita tem dessas coisas. Levantaram a cabeça, todos eles, foram estudar o uso e o abuso da vírgula, este sinal gráfico de pontuação tão vilipendiado.
            Faz frio na manhã chuvosa da cidade de São Paulo; à hora combinada, todos a postos. Alberto, 25, estudante de letras na USP, residente na capital, dispondo de acesso à Internet, bom computador e impressora, imprime seu texto e o distribui no grupo, antes da apresentação.

“Mas não posso descrever que mal-estar me causava aquela intrusão do mistério e da beleza em um quarto que eu acabara de encher com minha personalidade a ponto de não dar mais atenção a ele do que a meu próprio eu.”

            Na frase seguinte, o autor usa e abusa da vírgula:

“Cessando, assim, a influência anestésica do hábito, punha-me então a pensar e a sentir: coisas tão tristes.”

Lembrei-me dessas frases de Marcel Proust, Em busca do tempo perdido, volume 1, No caminho de Swann, com tradução de Mario Quintana. Por mais que a gente leia o primeiro período, não há como encaixar uma vírgula sequer. É para ser lido em um fôlego só, como pediu ontem o professor. Depois disso, passei a prestar mais atenção na pontuação, seja ela qual for. Gosto também dos dois pontos e do ponto e vírgula. ...”

Alberto impressiona por sua cultura – nem todos ali tinham lido Proust –, sua desenvoltura, a despeito de um certo pedantismo uspiano.  Depois da introdução ele conta história interessante de uma jovem mulher que fora jogada nos trilhos do metro em Itaquera e fora salva por alguém que também esperava o trem e os dois acabaram se casando. Foi bastante aplaudido.
Ana Paula, a estudante de Direito que havia desancado Ricardo no encontro anterior, antes mesmo que lhe fosse franqueada a palavra para as críticas, sempre construtivas segundo Tobias, atacou, Muito bem, gostei do texto, da bela introdução proustiana, só que tal artifício já havia sido utilizado por Clarice no último encontro, com a pedra no meio do caminho do Drummond, ao exemplificar a repetição de palavras no texto, e penso que precisamos exercitar a originalidade e não a repetição, para isso estamos aqui, não é mesmo?
Faz-se longo silêncio, que Tobias resolve não interromper. Espera para ver o que vai acontecer. Sérgio, 26, estudante do último ano de Psicologia, pede a palavra, Por mais duro que tenha sido o comentário de Ana Paula, ela não deixa de ter razão, embora pudesse ser mais delicada, elogiando ambos os expedientes, o de Clarice e o de Alberto, que em minha opinião foram muito originais em si mesmos, gostei de ambos. 
Ao que Ana Paula imediatamente retruca, Entre a delicadeza e a verdade, prefiro esta última.
Agora Tobias resolve intervir. Tem medo de onde aquilo vai parar. Ao perceber que Moema cruza e descruza as pernas no fundo da sala, denotando certo nervosismo, pede que ela leia seu texto. A verdade é que Tobias estava preocupado com ela, que não havia trazido qualquer texto no encontro anterior, e se isso se repetisse... Moema se levanta e lê.

“Não posso escrever. Se eu escrever eu me revelo.”

            E calou-se. O silêncio agora é mortal! Mais uma vez, Tobias aguarda. Após longos e desconfortáveis minutos, Sérgio volta a comentar, dessa vez impiedoso, Do que você tem tanto medo, Moema? ...todos temos nossos segredos, e uma das funções da escrita é essa mesma, permitir que nosso inconsciente se mostre, mesmo que disfarçada e parcialmente, através do que alguns chamam de escrita terapêutica; um bom exemplo disso é a sua frase, Moema, que revela muito de você; eu gostei!
            Sérgio é calorosamente aplaudido. Clarice levanta e abraça Moema, percebe-se em ambas os olhos úmidos. Tobias respira aliviado. A oficina avança ao gosto dele: pouca interferência, liberdade de expressão, exercício da crítica e do pensar.
            Senhores, para o encontro de amanhã, preparem texto no qual façam parte o Papa Francisco, um dinossauro, um iate, uma frondosa mangueira, um cão sarnento e uma cabeleireira.
            Boa tarde a todos e até amanhã.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Paula ganha concurso de foto sub



O concurso



Primeiro lugar sub
Paula Vianna
Búzios, RJ

Já não é novidade para a Família!
E esta foto não não era de arraias...
Mas está maravilhosa!!!


quarta-feira, 20 de maio de 2020

Oficina do Tobias II

Folhetim

Segundo encontro

            Clarice saiu do encontro ensimesmada, Estranho esse professor Tobias, tão famosa essa oficina dele, caríssima, eu vim de tão longe tendo que me hospedar em casa de amiga aqui em São Paulo, cidade que me assusta um pouco, verdadeiro transtorno, durante 15 dias, imagine, e ele me vem com essa história de repetir palavras! Mas vamos lá.
            Os trabalhos da oficina começam às 9 horas da manhã, com sol ou chuva, e se desenrolam até o meio-dia. O restante do dia deve ser ocupado com a redação do texto solicitado, seguida de autocrítica, alguma leitura recomendada. Quem não apresentar o texto pela segunda vez é sumariamente desligado da oficina, sem restituição do valor da inscrição, tudo assentado em contrato.
            Faltando 10 minutos para as 9 horas todo o grupo está a postos em espaçosa sala de antigo prédio localizado na Av. Paulista, com metrô à porta. Há uma pequena copa anexa, com máquina de café expresso, geladeira, para quem desejar trazer um lanche, Não há intervalo, avisa Tobias, Todos são livres para se levantar, beber água, comer alguma coisa, ir ao banheiro, não precisam pedir licença, apenas não façam escarcéu. O lugar é agradável, claro, arejado, com grande lousa ocupando toda a largura da sala, com caixa de giz de variadas cores e apagador, tudo à moda antiga, nada de tecnologia.
            Às 9 em ponto chega Tobias, Bom dia a todos, algum voluntário para apresentar seu texto? diga seu nome, por favor.
            Clarice, de São Carlos, e ela lê pausadamente:

“No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Assim que saí ontem de nosso primeiro encontro pensei que havia feito um mau negócio, me despencando de Goiânia, onde nasci, para frequentar esta oficina: o professor é doido. Que história é essa de repetir palavras? Até que me lembrei de Drummond e da pedra no meio do caminho, quatro versos e quatro vezes pedra, quatro vezes uma, quatro vezes tinha, três vezes caminho, três vezes no meio. Removi a pedra e ficou mais fácil escrever este texto. 
De fato, quando escrevo, eu tenho repetido, porém repetido equívocos...”

            Clarice terminou de ler as três páginas manuscritas com as seguintes palavras: “Estou mais animada hoje: Tobias não é doido!”
Clarice foi aplaudidíssima, inclusive por Tobias, Comentários por favor, comentem com toda a liberdade, acrescentou ele. Josíres foi o primeiro a levantar o braço, Amei amei amei... e a gargalhada foi geral! 
O segundo encontro transcorreu em clima animado, muita gente querendo falar ao mesmo tempo, só elogios para Clarice, ao que Tobias observou, Elogio tão somente alimenta a Vaidade, pecado capital, nada acrescenta de novo, em nada ajuda àquele que veio aqui para aprender, assim sendo, alguém disposto a alguma crítica? vejam, toda crítica é construtiva, não existe crítica destrutiva, o problema é de quem ouve a crítica, como a toma, se referente ao texto ou ao próprio ego. Tobias gostava de ouvir a própria voz, via-se e ouvia-se. 
Ricardo, perto dos 40, engenheiro químico, residente em Florianópolis, ensaiou alguma coisa estimulado pela exortação de Tobias, mas não foi levado a sério. Ana Paula, que desde o encontro anterior não fora com a cara de Ricardo quando este se apresentou ao grupo, aproveitou e desceu a lenha na crítica feita por ele; para arrematar, elogiou Clarice.
Apenas uma morena em seus 30 anos, bonita de rosto e de corpo, sentada ao fundo da sala, não se manifestou uma vez sequer, cruzando e descruzando as belas penas de vez em quando. 
Ao sair, entreguem seus textos, que serão devolvidos amanhã com minhas observações, anunciou Tobias. Para o encontro de amanhã, experimentem escrever sem vírgulas; porém com correção gramatical. Experimentem escrever num fôlego só mas se a pausa for inevitável, usem vírgula.
(A bela morena não entregou qualquer texto.)
Até amanhã. Tenham uma boa tarde.



É guerra...


Alertaram que o combate ao coronavírus seria uma guerra. Os militares então ocuparam o Ministério da Saúde.

terça-feira, 19 de maio de 2020

Uma obrigação moral

18.mai.2020, Folha de S. Paulo 


“Não sei se um impeachment contra Jair Bolsonaro tem condições de prosperar. Numa avaliação política, eu diria que, hoje, não. Mas acredito que temos a obrigação moral de deflagrar o processo, mesmo que não tenha êxito. Os crimes de responsabilidade cometidos pelo atual mandatário são tantos, tão ostensivos e tão graves que deixar de acusá-lo equivaleria a coonestar suas atitudes.”

                                                               Hélio Schwartsman


O título do artigo de Schwatsman é O dever do impeachment - Temos a obrigação moral de deflagrar o processo, mesmo que não tenha êxito.
            Raro alguém falar em “dever moral” nos dias que vivemos. Raro alguém pensar a ética, especialmente com a volta da política baseada no “pragmatismo”.
            O significado da palavra pragmatismo no Houaiss é a “Doutrina que preconiza que as ideias devem ter aplicação prática para ter valor.” Simplesmente isso.
            Como a Língua é viva, cada vez mais pragmatismo se associa a corrupção moral, na qual a aplicação prática se dá apenas em interesse próprio, geralmente escuso.
            A ressalva “mesmo que não tenha êxito” está em oposição a este pragmatismo interesseiro a que me refiro, e enfatiza a obrigação moral de se fazer alguma coisa, mesmo que tão singela quanto escrever estas palavras em um blog que pouca gente lê.



segunda-feira, 18 de maio de 2020

Oficina do Tobias I

Folhetim

Primeiro encontro

Duas vezes ao ano, no início de fevereiro e de agosto, Bráulio Tobias de Sousa Mello, professor de literatura na FALESP, oferece ao público em geral sua Oficina de Escrita Criativa, conhecida como a Oficina do Tobias. As vagas são limitadas a 20 participantes – Tobias não admite os termos aluno, aprendiz e congêneres, pois gosta de enfatizar que de repente aparece alguém com criatividade tão exuberante, alguém que pode ser o professor de todos, inclusive dele mesmo, então ninguém ali é aluno e por consequência ninguém é professor. (Humildade e ousadia, título para romance tipo Jane Austen.)
Vagas limitadas, inscrição caríssima, mesmo assim vem gente de todo o país para a tão festejada imersão em literatura e criatividade, na esperança que surjam novos e talentosos escritores, sonho de cada um dos participantes. 
Tobias criou interessante sistema de seleção de candidatos, ao qual se aferra sem exceções, pois julga que acima de tudo está o interesse, a determinação, a obsessão mesma do candidato pela preciosa vaga. Em seu blog  Estudos sobre Literatura, ele abre as inscrições para a oficina sem aviso prévio, sem hora marcada, nos primeiros dias de fevereiro e agosto, geralmente nas horas mortas de uma madrugada qualquer, e assim que surgem os 20 primeiros inscritos o processo é sumariamente encerrado. Os candidatos passam noites em claro, ligados no blog do Tobias, na expectativa da abertura (e fechamento) das inscrições, verdadeiro pesadelo em vigília.
Quem entrou entrou quem não entrou não entrou! exclama Tobias, e publica a frase no blog, na sessão de microcontos, e ri! Ele gosta tanto da frase que ela se tornou o tema do primeiro encontro –  não admitia a palavra aula, pois ali não havia alunos nem professor, repetia incansavelmente. Valorizava a repetição das palavras no texto literário e recriminava o uso desnecessário da vírgula. Mas voltaremos a isso mais adiante.
            Os escolhidos sentem-se orgulhosos e privilegiados diante da retumbante frase de Tobias, que lhes serve de estímulo para o início dos trabalhos, mas o coordenador não deixa por menos, provoca em seguida, Será que o leitor há de gostar disso? pergunta a Josíres, arquiteto, 45 anos, natural e residente em Campinas, SP, homossexual declarado de modo mais ou menos ostensivo desde o primeiro encontro, rígido e fiel seguidor das regras gramaticais, apreciador da literatura clássica, Eu não gosto muito, Senhor, para que repetir se posso utilizar uma infinidade de sinônimos e correlatos, Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, rebateu Tobias, enfático, e não me chame de Senhor, meu nome é Tobias, sem acompanhamentos, desde que nasci, lá se vão 65 anos. 
Portanto, este será o exercício de hoje, escrever um texto repetindo certas palavras, repetindo de forma a fazer algum sentido, não simplesmente repetir por repetir, de modo a despertar o interesse e a curiosidade do leitor.
            Lembrem-se, a FORMA é tudo; o conteúdo fica por conta da imaginação de cada um. Escrevam. Escrevam com total liberdade. Aqui nada é proibido, xinguem se for preciso, não há palavras proibidas, a única exigência desta oficina é escrever. Não há limites para a extensão do texto, importante é a qualidade da escrita, sua originalidade, o desejo de se aprimorar através da escrita.
Até amanhã. Tenham um bom dia.


sábado, 16 de maio de 2020

Paisagem de verão

Meus quadros favoritos



Egon Schiele
Krumau, 1917

A proa é que é

Ao meu irmão Paulo

 



VI

A proa é que é,
é que é timão
furando em cheio,
furando em vão.

A proa é que é ave,
peixe de velas,
velas e penas,
tudo o que é a nave.

A proa é em si,
em si andada.
Ave poesia,
ela e mais nada.

Soa que soa
fendendo a vaga,
peixe que voa,
ave, voo, som.

Proa sem quilha,
ave em si e proa,
peixe sonoro
que em si reboa.

Peixe veleiro,
que tudo o deixe
ser só o que é:
anterior peixe.


Jorge de Lima
Invenção de Orfeu (fragmento)
Poesia completa
Ed. Nova Aguilar, 1997.


A moça das trilhas

Galeria de Família

Acostumada a fazer trilhas, Maria Helena permanece em esplendia forma! O local aqui revelado não fica longe de onde ela reside, o Vale das Videiras, próximo à cidade de Petrópolis. Lindo lugar!



Helena e Juan, amigo de 6 anos



Subida da Pedra do Índio




Topo da estrada do Vale das Videiras
Petrópolis, RJ


Fotos: Maria Helena, maio 2020.

Anatomia vegetal

Fotominimalismo




Foto: AVianna, mai 2020

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Suzete está de volta!


Meu querido André,

há um bom tempo não nos comunicamos mas nunca deixei de pensar em você e arrisco dizer que o mesmo acontece com você que nunca deixou de pensar em mim. Pretensão minha? Acho que não, você até publicou no blog meu encontro com Ramos, o jornalista.
            Estive ocupada mesmo, verdade, mudei-me para F. com o plano de investir em um Instituto de Beleza, e está dando certo, pode acreditar, a clientela logo aprovou o lugar, tornou-se fiel, às vezes é duro aguentar essas madames metidas a besta com rei na barriga e bosta na cabeça, mas elas me pagam bem e posso pagar bem minhas funcionárias, de modo que vou vivendo com certo conforto, carrinho novo, pagando prestações da casa própria, curtindo a tranquilidade da cidade de interior... até que BUUUMMM, a pandemia! 
            (Estou cumprindo à risca o isolamento social, o salão fechado. Às vezes vou em casa de um cliente, cobro caro.)
            Aproveito o tempo para ler e escrever um pouco. Uma grata surpresa foi o aparecimento de um tal de Moisés em seu blog, André! O rapaz escreve microcontos como ninguém. Adorei um que diz “Justamente agora que as câmaras estão por toda parte, os discos voadores resolveram abandonar a terra.” Bela observação!
Parece que você gosta dele, um novo amigo é sempre uma festa na vida da gente. Perder um amigo é sempre trágico na vida da gente. 
            Notícia boa também foi a publicação do livro de poemas do Paulo Sergio, seu irmão, com lindo título, Esmo, a capa belíssima, fiquei louca para comprar; como fazer, André?; arruma um para mim, por favor. Com dedicatória, tá! (Suzete com Z.)
            Mas ando tristíssima com essa tragédia do corona-vírus, a televisão todos os dias anunciando o aumento do número de mortos, os mortos enterrados em valas comuns sem que os familiares possam se despedir, mortos mortos mortos escreveria você, que gosta de repetir as palavras, era o caso de escrever horror horror horror, e não sabemos onde isso vai parar. Não quero esticar esse assunto. Quero apenas dizer que estou muito triste.
Ler ajuda, escrever ajuda, mas sinto falta de conversar com os poucos amigos que tenho, abraçar eles, sair com eles para um barzinho e tomar vinho tinto para esquentar o coração nessas noites frias de fim de outono.
Escrever a você ajuda muito, querido André. Responda, por favor.
Da sempre sua,

                                               Suzete.
            

Política sem palavras



Foto: Dida Sampaio / Estadão

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Ler ler ler

Frase do dia

"Sem ler, não existe esperança de melhora."

                                   Leandro Karnal
                                    (13 mai 2020)




Erigir muralhas

Charge do dia




Laerte Coutinho

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sábado, 9 de maio de 2020

Aldravia N.87

Para a Gabriela




três
mocinhas
elegantes
cobra
jacaré
elefante



Foto: AVianna, mai 2020

Carta do jornalista Ramos


Meu caro André,

desculpe a intimidade, chamando-o pelo nome, mas depois que Suzete me indicou seu blog – que bom nome, Louco por cachorros! –, vasculhei-o, li tudo o que o tempo me permitiu, gostei muito, especialmente as sessões literárias e de fotografia, que aprecio bastante, e já o tenho como amigo, embora nem o conheça pessoalmente. Sei que mora em Brasília, em algum momento espero poder visitá-lo.
            Observei também que você fala pouco de política, dessa politica partidária baixa, da politicagem que assola o Brasil; mesmo assim registro o “marcador” Política sem palavras, com imagens engraçadas ou até ridículas. Você trata da grande Política, coisa que nos interessa a todos nós, queiramos ou não.
            Jornalista de profissão, não tenho o direito de fazer tal discriminação; falo de tudo, preocupado em informar. Só não falo de fake news, do jornalismo marrom, sensacionalista, barato. De modo que, com sua permissão, vez em quando vou falar do que penso ser importante, às vezes mesmo que seja inconveniente. O que você censurar, estará censurado, o blog é seu. Sem ressentimentos.
            Porém, posso explorar aqueles gostos que temos em comum, por exemplo o gosto por listas. (Apreciei deveras a lista dos nomes populares da formiga bunda-de-ouro!)
http://loucoporcachorros.blogspot.com/2020/05/formiga-bunda-de-ouro.html 
            O presidente da república é um NÉSCIO
Significados da palavra néscio:
1. aquele que é desprovido de conhecimento(s), de discernimento; estúpido, ignorante.
2. aquele que não tem aptidão ou competência; incapaz, inepto.
Etimologia:
Do Latim, NESCIUS, “ignorante, aquele que não sabe”, de NE  SCIRE, “não saber, não aprender”.
            A lista:
burro estulto estúpido idiota ignorante imbecil inepto lerdaço palerma parvo pedra raso limitado peco inocente estólido mentecapto tolaz bronco asselvajado avilanado boçal bruto ignorante inculto labrego lapuz lorpa obtuso panaca patego peco primitivo provinciano rude rústico sáfaro sáfio saloio simples simplório xucro caipira malcriado tolo jumento besta.
            Interessante notar que a todas essas palavras pode ser acrescentado o adjetivo mesmo, o que produz efeito inesperado e de muita ênfase. Exemplos: burro mesmo, estúpido mesmo, jumento mesmo, e assim por diante, e esta seria uma outra lista!
            Independentemente do uso das palavras, do destino que a elas podemos dar, observo que também temos em comum, André, o gosto pelas palavras. Adoro a palavra lorpa! Não é mesmo linda e engraçada? Ainda, lerdaço
            Em outros casos, faz-se injustiça com o primitivo e original significado da palavra: burro, jumento, são animais adoráveis, cujos nomes não mereciam aplicar-se ao presidente. Fazer o quê, se não somos donos das palavras nem dos destinos delas. Porém, às vezes a palavra ganha em importância e grandeza: um presidente pedra! Ou: um presidente raso!
            Caso o presidente venha a ler esta carta – a República está cheia desses tortuosos labirintos e as notícias voam –, espero que não se ofenda, são palavras, nada mais que palavras...
            Bem, alonga-se esta minha epístola; foi um primeiro contato, que espero se prolongue. Desde já, você está autorizadíssimo (noto que ambos gostamos de um superlativo de vez em quando) a publicá-la no blog, caso a considere digna dessa honra.
            Com meus mais efusivos sentimentos de amizade, despeço-me. 
Do seu,

Ramos.