Amy E. Herman, especialista em percepção visual, levou um
grupo de policiais de Nova York ao Metropolitan
Museum of Art para ensiná-los a observar detalhes. É o que informa Sarah Lyall, do New York
Times (2/5/2016).
Policiais sabem pouco sobre arte –
raramente vão a museus –, e Herman disse que isso não é um problema:
"Já tive gente que falou odeio
arte, e eu disse: Isso não vem ao caso. Não se trata de uma aula de Pollock
versus Picasso. Não estou dando uma aula de arte – estou usando arte como um
novo conjunto de dados, para ajudar vocês a limparem sua mente e utilizar as
habilidades que vocês empregam no trabalho. Minha meta é que quando vocês
saírem daqui, estejam encarando seu trabalho de outra maneira."
Para Amy Herman, uma pintura “é um
repositório valioso de detalhes visuais que pode ajudar a lançar luz sobre, por
exemplo, o modo de se abordar a cena de um homicídio”.
Herman inspirou-se num programa que levava
estudantes de medicina de Yale para estudar obras de arte, a fim de melhor
observarem seus pacientes. Mais tarde ampliou o programa para além da medicina.
Ela acaba de lançar o livro "Visual Intelligence: Sharpen Your Perception,
Change Your Life".
Eis mais uma função da obra de arte: aguçar a
percepção visual!
Por analogia, penso que aguçar a percepção que temos
das pessoas certamente nos traria benefícios, para o bem e para o mal. Ao longo
da vida, acumulamos decepções sobre certos indivíduos, em quem depositamos
grandes expectativas. Afirmo que só se desilude quem se ilude.
A ilusão não será um engano de nossa percepção das
coisas e das pessoas?
Certa vez fomos eu e meu querido irmão a uma
exposição de fotografias – já não me lembro do nome do fotógrafo famoso –,
todas em preto e branco, e começamos a analisá-las, cada um apontando os
detalhes que mais nos chamavam a atenção, a luz, a sombra, o contraste, o
imprevisto, o instantâneo, até que notamos que um rapaz nos seguia
discretamente. Às tantas, perguntamos a ele por quê nos acompanhava, e, para
nossa surpresa, nos informou que era guia daquela mesma exposição, e que estava
aprendendo muito com nossas observações. (Nunca fomos especialistas no assunto,
é bom que se diga.) Além de lisonjeado, aprendi que observar obras de arte
acompanhado de um bom interlocutor pode ajudar a aguçar nossa percepção.
Encerro esta pequena crônica com a ideia de que
aguçar a percepção também constitui uma forma de se auto-educar. Tudo, de
resto, é uma questão de educação.
Foto: Spencer
Platt / Getty Images