sábado, 7 de novembro de 2020

Microconto e o contraditório

Ao meu amigo Moisés

 

1. 

 

Prolífico microcontista, lhe pediram 200 microcontos para compor um livro. Ele perdeu a inspiração.

 

2.

 

Prolífico microcontista, lhe pediram 200 microcontos para compor um livro. Ele virou dia-e-noite e cumpriu o trato.

 

 

Comentário:

 

O microconto, porque expõe a síntese de uma ideia, também serve para o contraditório, além de poder manifestar as mais diversas opiniões. É o que se pode ver também em postagem anterior, nos Microcontos da Solidão. 


http://loucoporcachorros.blogspot.com/2020/10/microcontos-da-solidao.html

 

 

Papel da Imprensa

 

O papel fundamental da imprensa é informar, dizem. Porém, vez ou outra a regra de ouro é quebrada, para o bem ou para o mal, segundo os diferentes julgadores.

            Evita-se dar notícia de suicídio para não proporcionar a repercussão de algo tão nefasto. O torcedor de futebol que invade o campo não aparece na telinha, pelo mesmo motivo. Informações sobre atos terroristas padecem do mesmo tipo de “censura”. Digamos, as intenções são boas.

            Agora surge fato de aparente gravidade: o Presidente Trump discursava sobre as apurações de votos da atual eleição nos Estados Unidos quando a transmissão foi subitamente interrompida por pelo menos três grandes emissoras de TV americanas. Em seguida, um jornalista importante de cada um desses órgãos informava ao telespectador que a fala do Presidente fora interrompida porque ele prestava “falsas informações”. Pelo menos uma emissora continuava transmitindo o discurso até seu final, para em seguida condená-lo, como fizeram as demais.

            São duas atitudes opostas e discutíveis. A segunda cumpre a regra de ouro: informar antes de tudo; emite depois a opinião da emissora. As que interromperam a transmissão descumpriram a missão precípua da imprensa, e o fizeram por uma razão puramente política. O ineditismo do fato causou grande repercussão, ou seja, foi eficaz a intervenção política.

            Pouco ou nada entendo do assunto, do que seria ético ou não, considerando-se o papel fundamental da imprensa. Ao primeiro olhar, fico com a TV que manteve a transmissão até seu final. Eu gostaria de saber o que tem a dizer o Presidente diante da situação crítica, que afeta até mesmo os mercados financeiros de todo o mundo. (Aqui, o dólar caiu...) Se concluo que ele mente, esta é uma opinião que me cabe escolher; não desejo que a imprensa decida por mim.

            Porém, não consigo condenar as emissoras que atuaram politicamente, em protesto diante de mentiroso sabidamente contumaz. O homem mente mente mente. Exigir então imparcialidade, mesmo diante de jogo sujo? Seguir cumprindo a regra, quando o outro descumpre todas as regras determinadas pela civilização? Permitir que o expectador seja enganado, descaradamente? Aqueles que apreciam o consequencialismo não podem aprovar tal posição e concordam com a intervenção política das emissoras de TV: cale-se o mitômano!

            O que pensa meu caro leitor?

Gritaria

 


Fê / Folhapress

Ilustração da coluna de José Simão,
para a Folha de S.Paulo hoje.

O que vejo?
Vejo um demônio a gritar pela boca de certo hospedeiro que ostenta a faixa verde-amarela.
É o que vejo.




Divisão de tarefas


O texto é do grande Fernando Reinach, para O Estado de S.Paulo 

(7 nov 2020), sob o título Fósseis de mulheres caçadoras sugerem que divisão de tarefas por gênero é recente na história humana

         A ideia de que mulheres criam os filhos enquanto os homens sustentam a família, vigente até tempos recentes, também foi observada em sociedades primitivas, a ponto de se pensar que esse arranjo sempre existiu entre os Homo sapiens.

A caça de grandes mamíferos sempre foi pensada como  uma atividade coletiva, principalmente quando feita com lanças de madeira e pontas de pedra. Afirma Reinach: “É a colaboração entre um grande número de indivíduos que permite perseguir, cercar, imobilizar e matar a presa. O fato de nossos ancestrais viverem em pequenos grupos e se movimentarem constantemente dá suporte a essa ideia.” 

Em 2013, no Peru, a 3.925 m acima do nível do mar, foram encontrados grande quantidade de artefatos humanos e vários esqueletos, entre estes o de uma mulher de 17 anos que havia morrido 8 mil anos atrás. Ao lado dela foram achados artefatos que “deviam estar em uma bolsa que se decompôs com o tempo” (pontas de lança, pedras na forma de facas usadas para retirar o couro do animal, facas de pedra para retirar a carne e pedras usadas para limpar o couro), usados na caça de grandes animais. 

Concluem os arqueólogos: “Essa mulher de 17 anos muito provavelmente era uma caçadora que vivia no altiplano se alimentando da caça e de partes de plantas. E, como era comum nessa cultura, foi enterrada junto com seus objetos pessoais.” 

Novas pesquisas revelaram dezenas de esqueletos espalhados desde a América do Norte até o sul do Chile, e “aproximadamente um terço das pessoas enterradas com utensílios de caça eram mulheres”.  

“A conclusão é de que existe a possibilidade de que nossos ancestrais, que viviam como coletadores e caçadores, praticavam a caça em grupos e nessa atividade mulheres e homens compartilhavam as tarefas. Se isso for verdade, é muito provável que a nossa espécie tenha passado a maior parte de sua existência no planeta em uma organização familiar em que homens e mulheres dividiam a atividade da caça.

  A divisão das tarefas entre os sexos, portanto, vem sofrendo modificações em seu arranjo familiar há milênios, fato que se pode observar nos dias de hoje: mulheres saem para trabalhar enquanto homens cuidam da casa e dos filhos. E em tempos de peste, os homens aprendem a cozinhar... 

 

https://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,fosseis-de-mulheres-cacadoras-sugerem-que-divisao-de-tarefas-por-genero-e-recente-na-historia-humana,70003504500

 

Pandemia

Saturação

 

Estava vivo há tanto tempo que se tornou alheio a pizzas.

 

 

 

Pandemia

 

O almoço era o momento mais aguardado do dia. Recebia pelo menos três ligações das moças do telemarketing.

 

 

 

Pós-pandemia

 

A primeira reunião de condomínio ficou lotada.

 

 

 

TOC avançado

 

O tapa na cara veio no metrô, ao tentar libertar a saia enganchada entre as nádegas de uma forte senhora.

 

 

 

Vício

 

Insistia em (não) viver como se a cura para a morte já tivesse sido inventada.



                               Moisés Lobo Furtado 

                               para honra deste blog!