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terça-feira, 15 de março de 2022

Charles Darwin no Rio de Janeiro



 

O navio inglês H.M.S. Beagle zarpou da Inglaterra em dezembro

de 1831 e dois meses depois chegou a Salvador

 


 



Encantado com a natureza e indignado com a corrupção: o que Charles Darwin achou do Brasil do século 19. Texto original de André Bernardo, do Rio de Janeiro para a BBC News Brasil (23 nov 2019), adaptado para o blog.

      Darwin chegou a Salvador (BA) em 28 de fevereiro de 1832, onde permaneceu por 18 dias. "Luxuriante" foi um dos adjetivos que usou para descrever a paisagem local. 

De Salvador seguiu para o Rio de Janeiro, aonde chegou no dia 4 de abril, passando 93 dias na cidade, residindo em Botafogo, aos pés do Corcovado. 

Logo de início, fez críticas à burocracia local: "Nunca é agradável submeter-se à insolência de homens de escritório, mas aos brasileiros, que são tão desprezíveis mentalmente quanto são miseráveis as suas pessoas, é quase intolerável.” 

“A cavalo, Darwin e uma comitiva de seis homens empreenderam uma viagem de 16 dias, entre 8 e 24 de abril, até Conceição de Macabu, a 227 km da capital. De maneira geral, a impressão deixada pelos donos de pousada não foi das melhores. Alguns demoravam até duas horas para servir a refeição. "A comida estará pronta quando estiver", respondiam os mais atrevidos. Outros, sequer, tinham garfos, facas ou colheres para oferecer. 

“Na Fazenda Campos Novos, em Cabo Frio, os viajantes deram pela falta de uma bolsa com alguns de seus pertences. "Por que não cuidam do que levam?", retrucou o hospedeiro, mal-humorado. "Talvez tenha sido comida pelos cachorros". 

“Em sua travessia pelo norte fluminense, Darwin deparou-se também com os horrores da escravidão. Dois episódios lhe marcaram profundamente. Um deles aconteceu na Fazenda Itaocaia, em Maricá, a 60 km do Rio, no dia 8 de abril, quando um grupo de caçadores saiu no encalço de alguns escravos. A certa altura, os foragidos se viram encurralados em um precipício. Uma escrava, de certa idade, preferiu atirar-se no abismo a ser capturada pelo capitão do mato. "Praticado por uma matrona romana, esse ato seria interpretado como amor à liberdade", relatou Darwin. "Mas, vindo de uma negra pobre, disseram que tudo não passou de um gesto bruto". 

“O outro episódio ocorreu na Fazenda Sossego, em Conceição de Macabu, no dia 18. Um capataz ameaçou separar 30 famílias de escravos e, em seguida, vendê-los separadamente como forma de punição. Darwin ficou tão indignado com a cena que a descreveu como "infame". 

“Não bastassem os maus-tratos aos escravos, Darwin também se escandalizou com a corrupção. No dia 3 de julho, chegou a rotular os brasileiros de "ignorantes", "covardes" e "indolentes". "Até onde posso julgar, possuem apenas uma fração daquelas qualidades que dão dignidade ao homem", queixou-se. "Não importa o tamanho das acusações que possam existir contra um homem de posses, é seguro que, em pouco tempo, ele estará livre. Todos aqui podem ser subornados." 

Em 5 de julho de 1832 a expedição seguiu para o Uruguai e depois Argentina. Em setembro de 1835, chegou às Ilhas Galápagos, no Oceano Pacífico, o ponto mais famoso da viagem. 

Bernardo afirma: “Apesar de agnóstico, Darwin deu "graças a Deus" por estar, finalmente, deixando as costas do Brasil. "Espero nunca mais visitar um país de escravos", escreveu no dia 19 de agosto. O Beagle retornou à Inglaterra no dia 2 de outubro de 1836. Vinte e três anos depois, em 24 de novembro de 1859, seu tripulante mais ilustre publicaria A Origem das Espécies.” 


Nos envergonha, o que Darwin viu do povo brasileiro.

 

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50467782

 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Medicina dos chimpanzés

Bo, resgatado pelo Projeto Chimps, em Morgantown, EUA

Melissa Golden

 

“Chimpanzés usam insetos para tratar feridas, mostra novo estudo.” Reportagem de Nicholas Bakalar para The New York Times, publicada na Folha de S. Paulo hoje.

“Desde 2005, pesquisadores vêm estudando uma comunidade de aproximadamente 45 chimpanzés no Parque Nacional Loango, no Gabão. De novembro de 2019 a fevereiro de 2021, os pesquisadores notaram 76 feridas abertas em 22 chimpanzés. Em 19 casos eles viram um deles realizar o que parecia um autotratamento da ferida, usando um inseto como remédio. Em alguns casos, um chimpanzé parecia tratar outro. Os cientistas publicaram suas observações na revista Current Biology na segunda-feira.”

“O procedimento era semelhante em todas as ocasiões. Primeiro, os chimpanzés pegavam um inseto voador; depois o imobilizavam, apertando-o entre os lábios. Aí colocavam o inseto sobre a ferida, movendo-o em círculo com as pontas dos dedos. Finalmente, retiravam o inseto, usando a boca ou os dedos. Com frequência eles colocavam o inseto na ferida e o retiravam diversas vezes.”

“Os pesquisadores não sabem que inseto os chimpanzés usavam, ou exatamente como ele pode ajudar a curar um ferimento. Sabem que eram pequenos insetos voadores de cor escura. Não há evidência de que os chimpanzés comam os insetos — eles com certeza os espremem entre os lábios e os aplicam sobre os ferimentos.”

“Em três casos, os pesquisadores viram os chimpanzés usarem a técnica em outro chimpanzé. Em um deles, uma fêmea adulta chamada Carol cuidou de um ferimento na perna de um macho adulto, Littlegrey. Ela pegou um inseto e o deu a Littlegrey, que o colocou entre os lábios e o aplicou na ferida. Mais tarde, Carol e outro macho adulto foram vistos esfregando o inseto em torno da ferida de Littlegrey. Outro macho adulto se aproximou, retirou o inseto da ferida, colocou-o entre seus lábios e depois o reaplicou na perna de Littlegrey.”

“Aaron Sandel, antropólogo na Universidade do Texas em Austin, achou o trabalho valioso, mas ao mesmo tempo manifestou certas dúvidas. "Eles não oferecem uma explicação alternativa para o comportamento, nem fazem conexão com que inseto poderia ser", disse. "O salto para uma potencial função médica é um exagero, nesta altura. Mas, disse ele, "cuidar de seus próprios ferimentos ou de outros usando um instrumento, outro objeto, é muito raro". A documentação dos chimpanzés cuidando de outros é "uma importante contribuição para o estudo do comportamento social dos macacos", acrescentou Sandel. "E é interessante também perguntar se há empatia envolvida nisso, como nos humanos."

            Acrescento eu: as dúvidas levantadas por Aaron Sandel fazem parte do chamado método científico. Pesquisar e duvidar são elementos fundamentais para o desenvolvimento da Ciência. O que não impede que o mesmo pesquisador possa fazer, no caso em questão, a interessantíssima pergunta: “Há empatia envolvida nisso?” A resposta, ninguém sabe ainda.

 

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2022/02/chimpanzes-usam-insetos-para-tratar-feridas-mostra-novo-estudo.shtml

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Bebê Yingliang

 

Na foto de baixo, ilustração do "bebê Yingliang", 

embrião de dinossauro encontrado em Ganzhou, China 

University of Birmingham/AFP

 

 

WASHINGTON (EUA) / AFP: “Cientistas anunciaram nesta terça-feira (21) a descoberta de um embrião de dinossauro perfeitamente preservado, que data ao menos de 66 milhões de anos atrás e que se preparava para sair do ovo. O fóssil foi encontrado em Ganzhou, no sul da China, e pertence a um dinossauro terópode sem dentadura, ou ovirraptossauro, que os cientistas chamaram de "bebê Yingliang".”

       O embrião se encontra com “a cabeça posicionada debaixo do corpo, os pés dos dois lados e as costas encurvadas, uma postura que não tinha sido observada antes em dinossauros, mas que é similar às das aves modernas.”

“Nas aves, este comportamento é controlado pelo sistema nervoso central e se chama "dobramento". Os pintinhos que se preparam para sair do ovo põem a cabeça debaixo da asa direita para mantê-la estável enquanto quebram a casca com seus bicos. Os embriões que não conseguem fazer esta posição têm mais chances de morrer por uma eclosão fracassada. Isso indica que tal comportamento nas aves modernas primeiro evoluiu entre os dinossauros, seus ancestrais. Uma alternativa a este dobramento poderia ser similar ao que os crocodilos modernos fazem. Eles se posicionam como se estivessem sentados, com a cabeça inclinada na direção do peito, para eclodir.”

“O "bebê Yingliang" tem 27 centímetros de comprimento da cabeça até a cauda e se encontra dentro de um ovo de 17 centímetros no Yingliang Stone Nature History Museum.”

“Os pesquisadores acreditam que a criatura tenha entre 66 e 72 milhões de anos e provavelmente pôde ser preservada quando o ovo ficou enterrado como consequência de uma enxurrada, protegendo-o dos animais carniceiros por tanto tempo. Ela teria crescido até os dois ou três metros de comprimento se chegasse à idade adulta e provavelmente teria se alimentado de plantas.”

Ainda há quem duvide da evolução das espécies. E há quem acredite no criacionismo.

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2021/12/bebe-dinossauro-prestes-a-nascer-e-encontrado-em-ovo-de-66-milhoes-de-anos.shtml

 

 

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Riso de bebês humanos é semelhante ao de chimpanzés


Foto: James Coupad


 

Riso de bebês humanos é semelhante ao de chimpanzés, aponta estudo, informa Megan Marples para a CNN (1 set 2021).

“O riso transcende todas as línguas – e agora os cientistas sabem que essa resposta espontânea é universal também em algumas espécies de primatas. O padrão de riso dos bebês humanos é igual ao dos grandes macacos, de acordo com um estudo publicado nesta terça-feira (31) na revista Biology Letters.”

“Os adultos humanos riem principalmente ao expirar, enquanto os bebês e os grandes símios riem durante a inspiração e a expiração, disse a autora do estudo Mariska Kret, professora associada de psicologia cognitiva da Universidade de Leiden, na Holanda.”

“O riso infantil não é necessariamente semelhante ao de todas as espécies de grandes macacos, apenas àqueles que são evolutivamente mais próximos dos humanos – como chimpanzés e bonobos, disse Marina Davila-Ross, da Universidade de Portsmouth, na Inglaterra, que não participou do estudo. “Essa descoberta parece refletir que o riso é, em certa medida, profundamente enraizado biologicamente”, diz ela.

“Davila-Ross disse que ficou surpresa ao ver que o fluxo de ar associado ao riso muda à medida que os bebês crescem. “Na verdade, seria muito interessante ver se essas mudanças também podem ser encontradas em outras vocalizações não-verbais de humanos”, acrescentou ela. Em pesquisas futuras, Kret disse que espera repetir sua experiência com outras vocalizações, como o choro. Atualmente, ela está realizando outros experimentos com o riso, incluindo um envolvendo orangotangos, gorilas e humanos, para ver se eles mudam o som de suas risadas de acordo com a risada daqueles ao seu redor.”

 

Para quem acredita firmemente na Evolução das Espécies, notícia como esta não causa qualquer espanto. É a ordem natural das coisas.

 

https://www.cnnbrasil.com.br/saude/riso-de-bebes-humanos-e-semelhante-ao-de-chimpanzes-aponta-estudo/?utm_source=social&utm_medium=twitter-feed&utm_campaign=saude--cnn-brasil&utm_content=link

 

domingo, 22 de agosto de 2021

Homem gosta de homem


Dois chimpanzés no Parque Nacional de Gombe, Tanzânia. Ian Gilby

 

 

“Cuidar das amizades, a melhor estratégia para os chimpanzés”: a reportagem é de Javier Salas para El País (17 AGO 2021).

            O artigo começa descrevendo algumas peculiaridades de chimpanzés e bonobos: “Nossos primos mais próximos entre os grandes símios, os chimpanzés e os bonobos, tomaram dois caminhos evolutivos completamente opostos na hora de preparar seu sucesso reprodutivo. Os chimpanzés trilharam o espinhoso trajeto da violência e da coação para assegurar a descendência: os machos que mais batem nas fêmeas, por exemplo, têm mais chances de acasalamento. Já os bonobos continuaram a rota da seda: os machos não sabem quando é o período fértil das fêmeas, que por sua vez dirigem o grupo em um matriarcado, apostando em acasalar muito para aumentar as probabilidades de ter uma prole.”

Porém, se a reprodução ocupa tanto espaço nas relações entre eles, como explicar “que os chimpanzés se dediquem a mimos, cuidados e carícias, catando piolhos e alisando seus pelos mutuamente? Que sentido evolutivo faz reforçar amizades com quem vai tirar a sua oportunidade de procriar?”

Afirma o primatologista Joseph Feldblum, da Universidade de Michigan: “Os machos não passariam todo este tempo alisando outros machos e renunciando a tentar encontrar fêmeas ou comida a menos que obtivessem algum tipo de ganho com isso”. “Os machos cultivam amizades porque isso funciona.” 

São dados reunidos no Parque Nacional de Gombe (Tanzânia) desde os tempos de Jane Goodall: “os cientistas puderam analisar a descendência dos machos que estreitam laços com outros companheiros, comparando àqueles que não o fazem. E obtiveram dois resultados: o primeiro não é nada surpreendente, e algo que já se sabia: os machos que mais têm contato com o macho alfa da comunidade ganham possibilidades de se reproduzir. Faz sentido: neste patriarcado, o alfa controla as fêmeas e permite a seus amigos que acasalem. “Puxar o saco do chefe não é nenhuma novidade”, observa Anne Pusey, coautora do estudo, da Universidade Duke (EUA), que passou três décadas organizando e digitalizando esse conjunto de dados único. E acrescenta: “Demonstramos que sempre valeu a pena”.

No entanto, os cientistas descobriram que “um chimpanzé macho tem 50% mais probabilidades de ter filhos se mantiver pelo menos duas fortes amizades com outros indivíduos equivalentes. Com exceção do alfa, a patente na hierarquia do grupo não impacta nas possibilidades de ter sucesso reprodutivo, mas, sim, em ter muitos amigos aos quais dedicar tempo e cuidados. A estratégia não é a competição violenta, e sim uma colaboração entre companheiros.”

É a primeira vez que se estuda a influência da sociabilidade na capacidade reprodutiva dos machos porque esta perspectiva sempre foi aplicada unicamente às fêmeas. 

Talvez os benefícios destas relações sociais nos chimpanzés proporcionem pistas sobre o papel da amizade nos seres humanos. O estudo sugere que “os laços fortes entre os machos têm raízes evolutivas profundas e proporcionaram a base para as relações mais complexas que vemos nos humanos”, diz Gilby, da Universidade Estadual do Arizona. 

 

Entre nós, há um dito popular: homem gosta de homem. As reuniões sociais em que casais são convidados revelam essa tendência: homens conversam com homens, mulheres com mulheres. Mas esta é tão somente uma blague, sem qualquer fundamento científico.

 

 

https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-08-17/cuidar-das-amizades-a-melhor-estrategia-para-os-chimpanzes.html

 

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Por que somos o que somos


Crânio do Homo longi e uma reconstituição de sua aparência / C. Zha

 

Por que somos a única espécie humana do planeta? A reportagem de Nuño Domínguez para El País traz ótimo resumo do conhecimento atual sobre a evolução humana (4 jul 2021).

“Três descobertas nos últimos dias acabam de mudar o que sabíamos sobre a origem da raça humana e da nossa própria espécie, Homo sapiens. Talvez − dizem alguns especialistas − precisemos abandonar esse conceito para nos referir a nós mesmos, pois as novas descobertas sugerem que somos uma criatura de Frankenstein com partes de outras espécies humanas com as quais, não muito tempo atrás, compartilhamos planeta, sexo e filhos.

As descobertas da última semana indicam que cerca de 200.000 anos atrás havia até oito espécies ou grupos humanos diferentes. Todos faziam parte do gênero Homo, que nos engloba. Os recém-chegados apresentam uma interessante mistura de traços primitivos − arcos enormes acima das sobrancelhas, cabeça achatada − e modernos. O “homem dragão” da China tinha uma capacidade craniana tão grande quanto a dos humanos atuais, ou até superior. O Homo de Nesher Ramla, encontrado em Israel, pode ter sido o que deu origem aos neandertais e aos denisovanos que ocuparam, respectivamente, a Europa e a Ásia e com quem nossa espécie teve repetidos encontros sexuais, dos quais nasceram filhos mestiços que foram aceitos em suas respectivas tribos como mais um. 

Agora sabemos que devido àqueles cruzamentos todas as pessoas de fora da África têm 3% de DNA neandertal, ou que os habitantes do Tibete têm genes transmitidos pelos denisovanos para poder viver em grandes altitudes. Algo muito mais inquietante foi revelado pela análise genética das populações atuais da Nova Guiné: é possível que os denisovanos − um ramo irmão dos neandertais − tenham vivido até apenas 15.000 anos atrás, uma distância muito pequena em termos evolutivos.

A terceira grande descoberta dos últimos dias é quase detetivesca. Na análise de DNA conservado no solo da caverna de Denisova, na Sibéria, foi encontrado material genético dos humanos autóctones, os denisovanos, de neandertais e de sapiens em períodos tão próximos que poderiam até se sobrepor. Lá foram encontrados há três anos os restos do primeiro híbrido entre espécies humanas que se conhece: uma menina filha de uma neandertal e de um denisovano.

O paleoantropólogo Florent Detroit descobriu para a ciência outra dessas novas espécies humanas: o Homo luzonensis, que viveu em uma ilha das Filipinas há 67.000 anos e que apresenta uma estranha mistura de traços que poderiam ser o resultado de sua longa evolução em isolamento durante mais de um milhão de anos. É um pouco parecido com o que experimentou seu contemporâneo Homo floresiensis, ou “homem de Flores”, um humano de um metro e meio que viveu em uma ilha indonésia. Tinha um cérebro do tamanho do de um chimpanzé, mas se for aplicado a ele o teste de inteligência mais usado pelos paleoantropólogos, podemos dizer que era tão avançado quanto o sapiens, pois suas ferramentas de pedra eram igualmente evoluídas.

A esses dois habitantes insulares se soma o Homo erectus, o primeiro Homo viajante que saiu da África há cerca de dois milhões de anos. Ele conquistou a Ásia e lá viveu até pelo menos 100.000 anos atrás. O oitavo passageiro desta história seria o Homo daliensis, um fóssil encontrado na China com uma mistura de erectus e sapiens, embora seja possível que acabe sendo incluído na nova linhagem do Homo longi. 

Por que nós, os sapiens, somos os únicos sobreviventes? Para Juan Luis Arsuaga, paleoantropólogo do sítio arqueológico de Atapuerca, no norte da Espanha, a resposta é que “somos uma espécie hipersocial, os únicos capazes de construir laços além do parentesco, ao contrário dos demais mamíferos”. “Compartilhamos ficções consensuais como pátria, religião, língua, times de futebol; e chegamos a sacrificar muitas coisas por elas”, assinala. 

María Martinón-Torres, diretora do Centro Nacional de Pesquisa sobre Evolução Humana, com sede em Burgos, acredita que o segredo seja a “hiperadaptabilidade”. “A nossa é uma espécie invasiva, não necessariamente mal-intencionada, mas somos como o cavalo de Átila da evolução”, compara. “Por onde passamos, e com nosso estilo de vida, diminui a diversidade biológica, incluindo a humana. Somos uma das forças ecológicas de maior impacto do planeta e essa história, a nossa, começou a se delinear no Pleistoceno [o período que começou há 2,5 milhões de anos e terminou há cerca de 10.000, quando o sapiens já era a única espécie humana que restava no planeta]”, acrescenta.”

 

As descobertas permanecem em curso. Esta é a beleza da Ciência: não há verdade definitiva, porém os avanços conquistados baseiam-se em fatos, e fatos são verdades. Há muita gente no Brasil precisando pensar sobre isso.

 

https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-07-04/por-que-somos-a-unica-especie-humana-do-planeta.html

 

sábado, 26 de junho de 2021

Homem Dragão





A descoberta do crânio do ‘homem dragão’ pode adicionar espécie à árvore genealógica da humanidade. Esta é a manchete do artigo de Carl Zimmer, para The New York Times (26 jun 2021), com tradução de Augusto Calil.

“Cientistas anunciaram nesta sexta-feira, 25, que um grande crânio fossilizado de pelo menos 140 mil anos pertence a uma espécie humana ancestral desconhecida anteriormente, uma descoberta com capacidade de transformar a visão científica a respeito de como - e mesmo onde - nossa espécie, Homo sapiens, evoluiu. 

O crânio é de um hominídeo adulto, que tinha um cérebro enorme, testa proeminente, olhos profundos e um nariz bulboso. O fóssil ficou escondido em um poço abandonado por 85 anos, após um operário encontrá-lo em uma construção na China.” 

“Os pesquisadores batizaram a nova espécie como Homo longi e lhe deram o apelido de "Homem Dragão", em homenagem à região do Rio do Dragão, no noroeste da China, onde o crânio foi descoberto.”  

É possível que o Homo longi seja a espécie humana mais próxima à nossa, e não os neandertais, como se pensava até agora. Vários especialistas discordaram desta hipótese.

"É lindo", afirmou John Hawks, paleoantropólogo da Universidade de Wisconsin-Madison. "É muito raro encontrar um fóssil como esse, com a face em boas condições. A gente sonha em encontrar algo assim." 

“O crânio do Homo longi parece de um adulto de porte grande. Suas bochechas eram achatadas e sua boca, larga. A mandíbula inferior está faltando, mas com base no aspecto da mandíbula superior do Homem Dragão e de outros crânios humanos fossilizados os pesquisadores inferiram que ele tinha pouco queixo. Os cientistas afirmam que o cérebro dele era aproximadamente 7% maior do que o cérebro dos humanos atuais.” 

            E as descobertas que reafirmam a Evolução das Espécies prosseguem!

 

 

https://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,a-descoberta-do-cranio-do-homem-dragao-pode-adicionar-especie-a-arvore-genealogica-da-humanidade,70003759800

 

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Neandertais humanos?


Crânio de mulher que viveu há 45.000 anos
na atual Tepública Tcheca
         

 

A reportagem é de  Nuño Dominguéz para El País (08 abr 2021) e traz manchete chamativa: “Genoma europeu mais antigo revela sexo contínuo com neandertais.”

Foram descobertos ossos de quatro pessoas que viveram na Europa há 45.000 anos, com destaque para o crânio sem rosto de uma mulher que viveu na atual República Tcheca. Os restos dos outros três homens foram achados em caverna da Bulgária “junto a colares e estiletes típicos dos primeiros grupos de humanos modernos”.  DNA destes fósseis, os mais antigos que se conhecem da nossa espécie, permitiram a reconstrução de todo o genoma.

Informa Dominguéz: “Os resultados mostram que um dos homens da Bulgária teve um parente neandertal menos de 180 anos antes. Os outros três indivíduos também tinham parentes dessa espécie. Todos descendiam de híbridos resultantes do sexo entre neandertais e sapiens. O genoma da mulher da República Tcheca também contém 3% de DNA neandertal.”

A conclusão é que os cruzamentos entre neandertais e humanos modernos foram muito mais frequentes e recentes do que se pensava. Há uma teoria surpreendente, a de que “os neandertais nunca se extinguiram totalmente, tendo sido, em vez disso, absorvidos pelos grupos sapiens, que os aceitaram em seu meio.”

O geneticista Carles Lalueza-Fox tem a seguinte hipótese: “É possível que os humanos modernos tolerassem os híbridos, e os neandertais, não. Ou pode ser que os neandertais rejeitassem seus filhos híbridos depois de nascidos”. O geneticista explica que “os grupos neandertais eram muito pequenos e endogâmicos, fechados e isolados entre si. Já os grupos sapiens podiam ser mais amplos e sociais, abertos ao contato e à colaboração com outros. Em todo caso, “a assimilação dos neandertais é um cenário muito possível, de forma que os únicos que sobrevivem afinal são os que acabam em grupos sapiens. Depois, seu sinal genético vai se diluindo com o passar do tempo”.

Os quatro humanos agora analisados tinham pelo menos 3% de DNA neandertal e sequências genéticas muito mais longas que os humanos atuais. 

E o reconhecimento progressivo da Evolução das Espécies, incluindo a humana, continua a ser desvendado. Pergunta que não me sai da cabeça: por que não passar a chamar os neandertais de humanos? Mas não tenho autoridade científica para respondê-la.

 

https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-04-08/genoma-europeu-mais-antigo-revela-sexo-continuo-com-neandertais.html

 

terça-feira, 9 de março de 2021

Purgatorius mckeeveri


 

Reconstrução artística do “Purgatorius” 

Crédito: Andrey Atuchin/Divulgação

 

 

A reportagem de Reinaldo José Lopes para a Folha de S. Paulo traz o título Novos fósseis ajudam a reconstruir avô de todos os primatas (8 mar 2021).

            Trata-se da descoberta de fósseis no estado americano de Montana, do animalzinho de nome esquisito: o Purgatorius mckeeveri, “o mais antigo membro da linhagem dos primatas, a mesma que daria origem a micos-leões-dourados, chimpanzés e, claro, a eu e você.”

Ele é quase tão antigo quanto os dinossauros, tendo vivido há 65,9 milhões de anos, 100 mil anos após a extinção em massa dos dinossauros não-avianos. “Membro do grupo dos plesiadapiformes, o animalejo era onívoro, mas provavelmente tinha especial predileção por frutas.”

 Prosseguem assim as descobertas que comprovam a Evolução das Espécies.

 

https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/03/08/novos-fosseis-ajudam-a-reconstruir-avo-de-todos-os-primatas/

 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Chimpanzés em guerra


 

Imagem tomada por cientistas durante o ataque fatal

a 'Basie', na qual se vê suas presas no centro da imagem

 

 

“Os três assassinatos que desataram a segunda ‘guerra civil’ entre chimpanzés - A brutalidade das mortes entre ex-companheiros surpreende os cientistas que os observam há décadas.” Esta é a chamada para a reportagem de Javier Salas para El País (29 jan 2021).

Relata Salas: “O primatologista Aaron Sandel estava lá quando um grupo de chimpanzés matou Erroll, um macho do baixo escalão. Durante muito tempo, todos eles compartilharam um clã na comunidade de Ngogo, Uganda. Mas o grupo havia crescido muito, mais de 200 chimpanzés, algo nunca visto antes. E se dividiu. Desde 2015, cada vez que se encontravam entre as árvores frutíferas, crescia a tensão entre os grupos. Até que em janeiro de 2018, três machos do grupo ocidental seguraram este jovem de 15 anos e acabaram com sua vida com golpes e dentadas.”

Os chimpanzés conseguiram manter a coesão de um grande grupo de  150 indivíduos. Mas quando ultrapassaram 200 indivíduos, espontaneamente eles se dividiram em três comunidades. Uma delas teve três de seus machos assassinados na fronteira entre grupos, em disputa por árvores frutíferas.  

Certo dia os cientistas presenciaram o cerco de um grupo de chimpanzés por grupo rival, com gritos e gestos ameaçadores, “até que Basie, um macho de 33 anos de alto escalão na hierarquia de Ngogo, caiu ou saltou de galhos de 15 metros de altura, encurralado pelos atacantes. No solo, os agressores cercaram Basie rapidamente, atacando-o com golpes e mordidas, deixando-o mortalmente ferido.” 

Os cientistas concluíram que não havia mais simples atritos entre grupos, era uma guerra de morte. Muitos primatologistas recusam o nome de “guerra”, pois faltam os significados social e político específico para tanto. Outros cientistas veem na “agressão letal dos chimpanzés, cooperativa e coordenada”, como algo semelhante às origens evolutivas da guerra nos humanos.

Afirma Salas: “Os chimpanzés são um exemplo paralelo interessante, mais do que uma prova de nossas origens violentas. Sobretudo porque temos outros primos igualmente próximos, os bonobos, que vivem em um plácido matriarcado em que os conflitos se resolvem com encontros sexuais, também homossexuais.”

Explica Sandel: “É tentador concluir que, se os chimpanzés se matam, então a violência está em nossa natureza. A violência pode estar em nossa natureza. Mas nossa natureza é fortemente moldada pela sociedade. Não sou historiador nem filósofo, mas suponho que não precisamos olhar muito além do capitalismo, do imperialismo e do patriarcado para entender por que os humanos são violentos. Vamos começar aí, pelo menos.”

Tudo isso dá muito o que pensar, digo eu, quando observamos o comportamento do Homo sapiens através dos tempos e ainda nos dias de hoje.

 

 

https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-01-30/os-tres-assassinatos-que-desataram-a-segunda-guerra-civil-entre-chimpanzes.html

 

domingo, 10 de janeiro de 2021

Um sentido para a vida

 

O primeiro dos aforismos de Franz Kafka, na tradução sempre correta de Modesto Carone (Serrote, IMS, 2009), é um alerta para todo ser humano: 

 

“O verdadeiro caminho passa por uma corda que não está esticada no alto, mas logo acima do chão. Parece mais destinada a fazer tropeçar do que a ser percorrida.”

  

 

            Inspirado na fotografia acima, compus minha versão da ideia kafkiana: A vida é uma pinguela repleta de espinhos por onde andamos com a certeza de que em algum momento vamos tropeçar e cair.

            Minha mulher traduziu tudo isso de maneira mais clara e objetiva: “Quando você pensa que está abafando, é aí que cai no buraco.”

            Septuagenário, por experiência própria, posso atestar que a ideia é verdadeira. Estamos sempre a tropeçar. E a cair. Então, fazer o quê?

            Duas possibilidades se apresentam diante da queda: ou permaneço estendido no chão, ou me levanto. A primeira se encerra em si mesma. Mas se me levanto, me situo novamente diante da certeza que tornarei a cair.

Caio pela segunda vez. Duas possibilidades se apresentam: ou permaneço estendido no chão, ou me levanto. A primeira se encerra em si mesma, já sabemos. Mas se me levanto, agora sei que tornarei a tropeçar e cair. Aprendi com a dor da experiência. Então, como enfrentar a inexorável e infinita sentença?

Primeiro, aprendo aceitar tal realidade: a vida é um eterno tropeçar, cair e se levantar. Coloco-me diante de um espelho – porque o mundo real é um espelho onde posso me observar permanentemente – e me vejo repetindo esta cena: tropeçando, caindo, me levantando. Se me observo, posso ir aprendendo alguma coisa, sempre a duras penas. Se vou aprendendo, talvez possa tropeçar menos; e se tropeçar, posso me equilibrar e não cair. (Na certeza de que da próxima vez, vou cair.)

Que sentido emprestar a isso tudo? 

Que estamos aqui para aprender. Assim atesta a Evolução das Espécies.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

A Origem das Espécies




Em 24 de novembro de 1859 finalmente foi publicada "A Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural", do naturalista britânico Charles Darwin, um marco definitivo para a Ciência, e por que não, para a História da Humanidade. 

domingo, 30 de agosto de 2020

Questão de sobrevivência


A crônica do biólogo Fernando Reinach, Um mutante menos letal do coronavírus, para O Estado de S.Paulo (29 ago 2020) é bastante esclarecedora porque oferece visão ampla do que chamamos Evolução das Espécies.

Diz ele: “Muitos temem o aparecimento de um SARS-CoV-2 mais perigoso - que se espalhe pelo planeta, aumentando o caos em que vivemos. Já sabemos muito sobre a evolução da relação de um parasita com seu hospedeiro. E, por isso, o mais provável é que aconteça o contrário: o aparecimento de uma forma branda do SARS-CoV-2. Um mutante descoberto em Cingapura é um bom exemplo. 

Os vírus são parasitas radicais. Além de só reproduzirem no interior de seu hospedeiro, sobrevivem em um estado de dormência absoluta quando estão fora dele. O SARS-CoV-2 não é diferente. Após aderir à superfície de uma célula humana, ele é posto para dentro e começa a reproduzir. Centenas ou milhares de cópias são produzidas e expelidas pela célula. Uma vez fora da célula, ele não possui metabolismo e fica praticamente “morto”, flutuando passivamente pelo ambiente até aderir a uma outra célula do mesmo hospedeiro ou de outro hospedeiro, onde reinicia sua fase “viva”. Sabemos que, nessa relação vírus-hospedeiro, leva vantagem o vírus que não mata rapidamente o hospedeiro ou produz sintomas.”

Em palavras mais simples: se o vírus mata o hospedeiro, ele também não sobrevive. Apenas sobreviverá aquele vírus que matar menos, ser mais transmissível e acometer o maior número possível de hospedeiros; é uma questão de seleção dos mais aptos. 

Este fenômeno vem ocorrendo desde que surgiu a Vida na Terra: sobrevivem os mais aptos, incluindo a espécie humana. Nada de sobrenatural nisso tudo.

Um último lembrete: a palavra evolução aqui empregada nada tem a ver com “crescimento” ou aprimoramento moral; é apenas uma questão de adaptação para a sobrevivência.




https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,um-mutante-menos-letal-do-coronavirus,70003417373

 

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

CAPES na mão de um criacionista




Sede da CAPES em Brasília

Para quem não sabe, a sigla CAPES significa Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. A entidade trata da formação de professores e da pós-graduação, elementos indispensáveis para a manutenção de um bom ensino superior no país.
            Pois agora a CAPES está na berlinda, não por alguma ação de destaque na área a que se destina, mas porque o ministro da educação nomeou para dirigi-la um adepto do criacionismo.
O Sr. Benedito Aguiar é ex-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, instituição confessional onde seria aceitável o ensino da doutrina religiosa segundo a qual todas as espécies são obra de Deus, não tanto da seleção natural neodarwiniana.
Mas a coisa é ainda pior. O Sr. Aguiar é adepto do design inteligente, ou “criacionismo científico”, teoria que postula que uma inteligência superior rege a existência dos seres vivos. Cada um tem o direito de acreditar no que bem entende, mas isso não faz da teoria algo que segue o método científico.
Afirma Paulo Saldaña para a Folha de S.Paulo (24 jan 2010): “A mera possibilidade de que o presidente da Capes carreie recursos da instituição para fomentar estudos de inspiração religiosa e incompatíveis com a ciência contemporânea já seria motivo para não o indicar ao cargo.”
E se a CAPES  agora começa a barrar pesquisas que de algum modo possam contrariar as convicções religiosas de seu chefe? O país vai na contra mão do avanço científico apresentado pelas nações mais desenvolvidas hoje. Caminhamos em direção ao atraso.



terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Arqueia de Asgard



Uma arqueia de Asgard vista no microscópio. 
/ Nature.

Encontrado o organismo que explica a origem de toda a vida complexa da Terra: título espetacular da reportagem de Nuño Domínguez (18 jan 2020) com o subtítulo Cientistas japoneses observam pela primeira vez arqueias de Asgard, micróbios cujos ancestrais deram o passo inicial para a aparição de animais e plantas há dois bilhões de anos, para El País. 
“Após quase 15 anos de trabalho, cientistas japoneses conseguiram pela primeira vez tirar do fundo do mar e criar em laboratório arqueias de Asgard, o misterioso organismo que pode explicar a origem de todas as formas de vida complexa da Terra, incluindo os humanos.”
            Domínguez explica: “Todos os seres vivos que podemos ver a olho nu são feitos com os mesmos tijolos: células complexas, com organelas internas, chamadas eucariotas. Uma pessoa é um conjunto de 30 bilhões de células eucariotas que cooperam entre si com um objetivo comum. Todas as plantas, animais e fungos são eucariotas.”
“Na Terra há outros dois grandes domínios da vida: o das bactérias e o das arqueias, mais primitivas, sem organelas internas. Pois acredita-se que, há cerca de dois bilhões de anos, uma arqueia engoliu e assimilou outro micróbio, transformando-se na primeira célula complexa. Foi o primeiro passo até nós, e ainda não se sabe como aconteceu.”
A partir de 2015 cientistas escandinavos descobriram várias espécies de arqueias: Loki (em homenagem ao deus nórdico), Thor, Odin, Heimdall, Hel, que foram agrupadas na família Asgard, o lar dos deuses vikings.
“As arqueias de Asgard medem um décimo de milésimo de um centímetro e se reproduzem muito devagar para os padrões de um micróbio: mais ou menos uma vez por mês. O mais curioso são seus longos tentáculos entrelaçados. Os cientistas ainda não sabem por que os usam.”
“Segundo a teoria, exposta na revista Nature, o ancestral dos eucariotas era uma arqueia similar à de Asgard. A vida complexa surgiu seguindo o que eles chamam de os três “E”. Primeiro, a arqueia enredou uma bactéria com seus tentáculos, depois a engoliu e, por último, a endogenizou, o seja, estabeleceu com ela uma relação de cooperação para trocar nutrientes conhecida como sintrofia. A bactéria, que até então era um organismo independente, transformou-se numa mitocôndria – uma organela que fornece energia ao seu hóspede.”
“Imachi, chefe do Instituto de Ciência e Tecnologia do Mar e da Terra, no Japão,  deu um novo nome aos organismos retirados da fossa de Nankai: arqueia Prometeu (Prometheoarchaeum syntrophicum), em alusão ao ser mitológico que roubou o fogo dos deuses para dar aos humanos. Dois bilhões de anos depois, as mitocôndrias continuam presentes em todas as células eucariotas com idêntica função. A origem da vida complexa foi a cooperação.”
São descobertas espetaculares, a Ciência a avançar lenta e inexoravelmente.




quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Chiclete de 6.000 anos


O 'chiclete' vem do cozimento da casca de bétula.
THEIS JENSEN


“Uma espécie de chiclete de 6.000 anos ainda conserva a marca dos dentes de quem o mascava. Com isso, um grupo de pesquisadores pôde obter DNA humano, mas também o das bactérias que tinha na boca. E mais, conseguiram identificar um vírus que portava e até o que havia comido antes de mastigar a goma de mascar milenar. A garota (puderam determinar seu sexo graças à genética) tinha pele e cabelos morenos e olhos claros. Os pesquisadores a chamam de Lola.” É o que informa Miguel Ángel Criado (17 dez 2019) para El País.


Lola



sábado, 14 de dezembro de 2019

Obra de arte mais antiga


 

Um búfalo-anão rodeado de figuras antropomorfas
Ratno Sardi


Obra de arte mais antiga da humanidade é descoberta na Indonésia.
Cena de caça pintada há 43.900 anos pode ser a primeira narração humana conhecida, milênios antes do ‘homem-pássaro’ de caverna francesa. É o que informa Nuño Domínguez (12 dez 2019), para El País.
“Em dezembro de 2017, um homem chamado Pak Hamrullah descobriu a entrada de uma caverna desconhecida em um penhasco da ilha de Sulawesi (também conhecida como Celebes), Indonésia. Subiu por uma figueira até alcançá-la e ao chegar ao fundo avistou uma cena de caça pintada em uma tela de rocha de mais de quatro metros de largura. Após dois anos de estudos, a equipe de arqueólogos que acompanhava Hamrullah naquele dia afirma que essa é a obra de arte figurativa mais antiga do mundo.” 
“O único autor possível dessa surpreendente obra é o Homo sapiens, nossa própria espécie, que chegou a essas ilhas do sudeste asiático entre 40.000 e 50.000 anos atrás.” 
“Não queremos substituir um centro de origem por outro no sudeste asiático”, diz Brumm, “mas é muito interessante encontrar arte rupestre mais antiga do que a europeia”. “Isso nos obriga a nos perguntar se os humanos modernos desenvolveram a capacidade artística quando saíram da África [há 70.000 anos]”, acrescenta. Até agora foram encontradas em Sulawesi mais de 200 cavernas e abrigos com pinturas rupestres. De acordo com Brumm, a cada ano sua equipe encontra “dezenas de novas pinturas rupestres com imagens de todos os tipos”. 
O mais interessante da história é que esta não é a última palavra sobre o assunto.



domingo, 10 de novembro de 2019

Bipedismo começa a ser explicado


Os primatas começaram a andar de pé nas árvores,
antes de chegar ao chão


Por que é revolucionária a descoberta de fósseis de primatas com 'pernas humanas'? Com esta manchete a BBC News Brasil (9 nov 2019) relata a descoberta de fósseis identificados entre 2015 e 2018, cuja importância só foi revelada recentemente, em publicação na revista Nature.
“Uma antiga incógnita sobre o bipedismo, a capacidade de andar de pé, ganhou resposta nos fósseis de um símio que viveu há 11,6 milhões de anos. Os resquícios deste animal, o primeiro símio com capacidade de ficar ereto, foram encontrados no solo argiloso da região de Allgäu, na Bavária, Alemanha.O símio, chamado Danuvius guggenmosi, tinha braços semelhantes aos de um bonobo, mas pernas como de ancestrais dos humanos. O Danuvius podia se pendurar nas árvores, mas seus membros posteriores se mantinham retos e podem ter sido usados ​​para caminhar. Os pesquisadores descobriram ossos de quatro exemplares: um macho e duas fêmeas adultos; e um de um indivíduo mais jovem.”
“Desde os trabalhos do naturalista britânico Charles Darwin, pai da teoria da seleção natural, tem sido intensamente debatido como e quando nossos ancestrais começaram a andar de pé. Os fósseis do Danuvius guggenmosi mostram que ele estava preparado tanto para andar de pé com os membros estendidos quanto para usar os quatro membros para, por exemplo, subir em árvores como outros símios. Esta combinação única demonstra, de acordo com os cientistas, que os primatas começaram a andar de pé nas árvores ou em ambientes simliares antes de chegar ao chão.”
“O novo estudo indica que a postura ereta teria se originado de um ancestral comum de seres humanos e símios que viviam na Europa, e não na África, como se pensava anteriormente. A descoberta também indica que o bipedismo começou muito antes do que se pensava.”
“Compreender como nossos ancestrais começaram a andar de pé ajudará a responder perguntas fundamentais sobre a evolução — mais especificamente da espécie humana, já que o bipedismo foi um marco que abriu caminho para capacidades como caçar e usar ferramentas.”

A passos lentos mas com perseverança, a Evolução das Espécies vai sendo decifrada, para melhor compreensão das origens do gênero humano.


quinta-feira, 11 de julho de 2019

Estrutura social dos gorilas



Os gorilas vivem em pequenas unidades familiares,
com um macho dominante, várias fêmeas e filhotes.
Foto: REUTERS/Thomas Mukoya


“Os gorilas têm uma estrutura social mais complexa do que se imaginava e muito similar à das sociedades humanas, revela novo estudo. As descobertas sugerem que os nossos sistemas sociais remontam ao ancestral comum entre humanos e macacos e não teriam se originado do “cérebro social” dos hominídeos surgido depois de se separarem dos outros primatas.” A reportagem é de  Roberta Jansen, para O Estado de S.Paulo (11 jul 2019).
O estudo foi baseado em  dados coletados na República Democrática do Congo ao longo de quase vinte anos. “Estudar a vida social dos gorilas não é fácil”, afirmou a principal autora do estudo, Robin Morrison, uma bioantropóloga da Universidade de Cambridge. “Os gorilas passam a maior parte do tempo em florestas densas, e pode levar anos até que se habituem à presença de humanos.” 
Os gorilas costumam se reunir para se alimentar da vegetação aquática em clarões na floresta. A maior parte das informações vem da clareira Mbeji Bai, onde cientistas trabalham há mais de vinte anos. 
“Os gorilas vivem em pequenas unidades familiares, com um macho dominante, várias fêmeas e filhotes. Alguns machos vivem isolados, como “solteirões”. 
“Além da família imediata, existem indivíduos com quem são mantidas interações regulares – um grupo de aproximadamente 13 gorilas. Nas sociedades humanas tradicionais, esse grupo poderia ser comparado ao da “família estendida”, ou seja, tios, avós, primos.” 
“Para além desse grupo, há um outro que envolve, em média 40 gorilas, e que seria similar ao de agregados entre os humanos, gente que passa muito tempo junto sem necessariamente ter alguma relação de parentesco. “Fazendo uma analogia com os primeiros assentamentos humanos, seria como uma tribo ou pequeno assentamento, um vilarejo”, disse Morrison.” 
“Quando os machos dominantes (os de costas prateadas) são aparentados, as chances de conviverem na mesma “tribo” é maior.” 
“Ao longo da vida, as fêmeas frequentam vários grupos ao mesmo tempo, o que torna possível que machos não aparentados cresçam nos mesmos ambientes, como se fossem irmãos postiços. E os laços que eles criam levam a essas associações que vemos quando estão adultos.”
“Às vezes, explica a pesquisadora, quando os jovens machos deixam suas famílias originais, mas, ao mesmo tempo, ainda não estão preparados para formar o seu próprio núcleo familiar, eles formam grupos somente de machos solteiros. Soa familiar?”
“Essa estrutura social que constatamos entre os gorilas provavelmente já estava presente entre os primatas antes de a nossa espécie divergir das demais; uma estrutura que se adapta muito bem ao modelo de evolução social humana”, explicou Morrison. “Nossas descobertas oferecem ainda mais indícios de que esses animais ameaçados são profundamente inteligentes e sofisticados e que nós, humanos, talvez não sejamos tão especiais quanto gostamos de acreditar.” 
Desejo acrescentar apenas: talvez, não; não somos tão especiais quanto gostamos de acreditar.
Dito de outra maneira: somos especiais na medida em que a evolução das espécies, inicialmente descrita por Darwin, é um processo especialíssimo, fantástico, maravilhoso, de tal modo que todos os seres vivos desenvolvidos a partir dele são verdadeiramente especiais.