O Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa afirmou no
5º Congresso Internacional da Língua Espanhola, no Panamá, que “o espírito
crítico se empobrecerá se as novas tecnologias fizerem o livro desaparecer”. (1)
E acrescenta: “O espírito crítico, que sempre foi
algo que resultou das ideias contidas nos livros de papel, poderá se empobrecer
extraordinariamente se as telas acabarem por enterrar os livros. ...Estou
convencido de que a literatura que se escreverá exclusivamente para as telas
será uma literatura muito mais superficial, de puro entretenimento e
conformista".
Não se trata, portanto, de discutir
apenas o valor da mídia, o veículo, se eletrônico ou papel. (O homem se acostuma
a tudo, até a ler Machado de Assis em um tablet.
Para ser mais franco e amargo, nesse mundo há gosto pra tudo...) A questão que
Vargas Llosa levanta é a de que o uso da mídia eletrônica altera, afeta, muda o
conteúdo e/ou a forma do que é escrito, e consequentemente a qualidade do
texto. Não sei se foi assim que ele disse, mas é assim que estou dizendo.
A multiplicação dos blogs na Internet é
algo indiscutível nos dias de hoje. Não são poucos os autores mais jovens que
antes de publicarem em papel, fazem-no em seus blogs. E alguns são muito bons!
Aquilo que escreve um Hélio Schwartsman, por exemplo, quase sempre é muito bom,
independentemente se no blog de um jornal ou em qualquer outro lugar, porque o
homem sabe pensar. Porém, é possível que esta seja desde já uma exceção.
E o escritor peruano toca num ponto
crítico, a superficialidade do texto na Internet. Parece que o leitor também
não quer se aprofundar diante da tela, ele deseja uma leitura rápida, ágil,
informativa acima de tudo. Isso, mais informação e menos literatura! No menor
tempo possível.
Costumo dizer que o melhor antídoto
para quem está viciado em Internet é ler um bom livro de 700 páginas. (Posso
até sugerir As benevolentes, de
Jonathan Littell, Objetiva/Alfaguara, 2007.) Mas reconheço que não há como
obrigar um viciado a uma “tortura” dessas.
O tema é controverso, mas a afirmação
de Vargas, que merece nossa consideração, é categórica: "É preciso fazer
todo o possível para que o livro de papel não desapareça; ... há uma
problemática nova com a grande transformação que significa para o livro e para
a cultura em geral o desenvolvimento de novas tecnologias e, sobre isso, há
muita incerteza".
Enquanto
perduram as incertezas, sugiro que continuemos comprando livros de papel.
E
“livro de papel” não seria um pleonasmo?