A Origem do Mundo, de Gustave Courbet (1866)
Não visitei o Queermuseu em Porto Alegre e só por
isso relutei em tratar do assunto no blogue. Desde que as obras lá expostas
quase que se tornaram de domínio público através da mídia, arrisco aqui meu
palpite, em defesa de um certo ponto de vista.
Reações violentas de pessoas conhecidas minhas (para
não dizer iguais a mim) e que eu julgava possuírem a mente mais aberta,
igualmente motivaram esta minha manifestação.
Repito (incansavelmente) meu bordão: Tudo Na Vida É
Uma Questão De Educação.
Informa o IBGE: 92% dos brasileiros nunca visitaram
um museu e 93% nunca foram a uma exposição de arte. Daí a primeira conclusão: a
exposição Queermuseum (qualquer exposição?) não passou de pérolas atiradas aos
porcos. O povo completamente deseducado em matéria de Arte não poderia mesmo
presenciar – e tolerar – tamanha provocação.
Eles jamais viram Picasso, Dalí, Klimt, Daumier, Egon
Shiele, aos quais chamariam de obscenos, imorais, pervertedores de crianças.
Jamais se depararam com A Origem do Mundo, de Gustave Courbet, exposta no Museu
d’Orsay, em Paris. (As crianças visitam aquele museu livremente.).
São todas provocações, cada qual em sua época, e o
que antes escandalizava, tempos depois já não escandaliza mais. Tal evolução
faz parte de um processo civilizatório, no qual a Educação desempenha papel
primordial. Intolerância e obscurantismo, muitas vezes exacerbados pelo
fundamentalismo religioso, travam o processo civilizatório, buscando manter o
homem dentro da caverna, coberto por uma burca.
Obscurantismo e intolerância não vencerão. Uma
exposição se fecha, abrem-se cem outras mundo afora. Porque a Arte é necessária,
ela alimenta o espírito, desde o tempo das cavernas.
Bem verdade que perdura – provavelmente desde a
pintura rupestre – a interminável discussão sobre o que é Arte, e o que não é
Arte. Para aqueles que protestaram em Porto Alegre (alguns continuam
protestando!), aquilo que viram não era Arte, e eles têm todo o direito a esta
opinião: basta que virem as costas e deixem o prédio da exposição. Ou nem lá apareçam. (Se algum deles
tiver um blogue, que proteste no blogue!)
Fechar a exposição, NUNCA!
(A primeira apresentação do balé A Sagração da
Primavera, de Igor Stravinski, quase não chegou ao final, tantos os apupos, vaias,
gritos histéricos, o protesto de uma plateia furiosa e indignada diante de algo
novo, muito novo, desconhecido, desconcertante, impossível de ser assimilado e
por isso rejeitado a priori. No dia
seguinte houve uma segunda apresentação do balé, agora ovacionada pela mesma
plateia, recuperada do susto e capaz de enxergar e sentir aquela magnífica obra
de arte.)
Estes que protestam diante do Queermuseu, do que é
que têm tanto medo? De reconhecer em si mesmos algo que imaginam ver numa
pintura ou escultura? A Psicanálise tratou e trata do assunto exaustivamente. Esta
é a base do que chamamos Moralismo. Daí para a histeria, é um pulo.
Alguns poucos haveriam de se educar com a exposição
Queermuseu – ou com qualquer exposição. Educar-se é penoso processo individual.
Você pára diante de um quadro, de uma escultura, ou qualquer outro tipo de
manifestação artística, olha, vê, analisa, pensa sobre o que está vendo,
permite que fluam os sentidos, resta então uma impressão. Algo permanece impresso na alma. Você pode dizer Gostei!
Ou Detestei. Não importa. A impressão está lá, e estará lá para sempre. O conjunto
dessas impressões, constantemente acrescido de novas experiências, vai compondo
nossa personalidade, nossa compreensão do que significa Arte, ao mesmo tempo
que se desenvolve em nós sensibilidade, tolerância e menos preconceito. Vamos
nos educando.
E tudo é mesmo uma questão de educação. Para tanto, a
liberdade de expressão é fundamental. Cada vez que ela é cerceada, como ocorreu
em Porto Alegre, precisamos protestar, em nome da Educação e do Processo
Civilizatório.