Velha faz o melhor
pão-de-queijo do mundo!
Podemos afirmar que ela é
uma mulher famosa por dois motivos bem simples: primeiro, porque faz o melhor
pão-de-queijo do mundo, e segundo, que na verdade deveria vir antes do primeiro,
por causa do nome dela, Velha, que pode até parecer apelido mas é nome mesmo, sobrenome
melhor dizendo, Arminda Vieira de Sousa Velha, descendente da tradicional
família dos Velha, e assim foi registrada no cartório de Capelinha do Chumbo,
Minas Gerais, razão pela qual foi vítima de bullying durante toda a infância, a
família era conhecida na região por Velharia ou Velharada, do mesmo modo que os Carneiro eram chamados de Carneirada, e os Bezerra de Bezerrada, mas com o passar dos
anos acostumou-se, e agora, perto dos 70, quando lhe perguntam o nome não hesita
em responder, Velha, que considera muito mais bonito que Arminda, Deusolivre!,
resmunga, pois nunca gostou desse nome, colocado pelo pai por engano na hora do
registro, era para se chamar Carmélia, o pai esqueceu-se e lascou Arminda,
coisas da roça onde fora criada e aprendera, ainda menina pequena, a fazer o
melhor pão-de-queijo do mundo, o mote principal dessa história, que finalmente
vem à tona.
– Velha, me ensina a fazer
esse seu pão-de-queijo?
– Claro que ensino.
– Mas ensina a receita
verdadeira, porque ninguém consegue fazer igual a você, todos tentam e ninguém
acerta, você ensina ensina ensina e ninguém aprende, será que ensina a receita
errada ou esconde algum pulo do gato, Velha trapaceira? Será?
– Deusolivre!
– Você sabe que mineiro
adora pão-de-queijo e só tem uma coisa que mineiro gosta mais: é queijo.
– Pois então não sei, sô?
– E sabe também que fica
famosa a pessoa que faz um bom pão-de-queijo.
– Que é o meu caso...
– E é por isso que você esconde
a receita, não é?
– Deusolivre! Então eu era
capaz de fazer uma coisa dessa?
– Mas bem que gosta de ser
endeusada.
– Isso eu aprecio mesmo.
Mas deixe de conversa, vamos fazer juntos o pão de queijo, vou instruindo e
você vai rompendo.
– A receita original
verdadeira?
– A original
verdadeiríssima.
Pra começar pegue a gamela
de alumínio e coloque 6 xícaras de polvilho. Numa panelinha, 3 xícaras e meia
de leite, e a última xícara complete com água; uma xícara de óleo; um quinto de
tablete de manteiga; uma colher de sobremesa bem cheia de sal; misture bem e
leve ao fogo, até ferver. Quando ferver, vá despejando no polvilho e mexendo
com uma colher de pau, vá mexendo vá mexendo vá mexendo, isso, agora que está
mais frio, hora de sovar com a mão, sove bem sove bem sove bem, a mão empurra a
massa e volta na gamela, isso, sove bem, é preciso sovar bem. Acrescente 3
xícaras de queijo de Minas ralado e continue sovando. Vá despejando os ovos devagar,
para a massa ir amolecendo, 5 ou 6 ovos, dependendo da consistência da massa,
sovando sempre. Está pronto! Unte a mão com óleo para fazer os pãezinhos,
prontos para ir ao forno.
– Que beleza, Velha!
Depois de assados os
pãezinhos esborracharam. Não ficaram de todo ruins, mas esborracharam, Velha
filha da puta, escondeu alguma coisa da verdadeira receita.
Só ela sabe fazer o melhor
pão-de-queijo do mundo!