manoel só podia
mesmo escrever
a lápis
em caderninhos
costurados 
à mão
(papel de pão)
porque
computador não aceita 
certas palavras
lesma               estandarte        árvore
passarinho       sapo                água
rio                    inseto              besouro
ou expressões
detritos
semoventes    chevrolé gosmento
coisa ordinária             louco de água
alicate cremoso            lodo das estrelas
terreno baldio               algibe entupido de silêncio
especialmente a
palavra borboleta
que logo voa da
tela
para o teclado
querendo
escrever também
poesia borboletante
manoel só podia
mesmo 
escrever à mão
(e a lápis)
em dignos
caderninhos
de
insignificâncias
cada palavra
qualquer que
seja
tem seu valor
(como os
homens)
e serve para a
poesia
por exemplo –
lobisomem
serve demais 
para a poesia
depois da
descoberta que
“ovo de
lobisomem não tem gema”
pode-se até
imaginar
o poeta perdido
no pantanal
(da infinita
imaginação dele)
à procura de
ovos de lobisomem
achou um,
quebrou na pedra
gema não havia
é de lobisomem!
exclamou manoel
a lápis, em seu
caderninho
costurado à mão
 
 

