quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Maria Altamira



 

O que poderá unir uma pequena cidade soterrada no Peru, o Rio Xingu com sua Usina de Belo Monte, e os migrantes que vivem na gigante São Paulo? Pois no Prólogo, Maria José Silveira, autora de Maria Altamira (Editora Instante, 2020), adverte com sabedoria: “Uma história começa em qualquer lugar e em qualquer momento.”

      Maria Altamira relata a trajetória de mãe e filha por caminhos distintos, em meio à miséria, injustiça, violência, agravadas pela devastação ambiental ocorrida pela construção da Usina de Belo Monte, no Xingu. 

Alelí, sozinha no mundo, sem rumo, carrega um instrumento de cordas construído com a carapaça de tatu e um canivete, que serve dentre outras coisas para lhe autoinfligir dor, com objetivo de aplacar dor maior. Acolhida por uma boa alma na cidade de Altamira, alí dá à luz a uma menina que recebe o bonito nome de Maria Altamira. Alelí abandona a filha e torna a sumir no mundo.

Maria Altamira tem sangue índio, retorna às suas origens, briga por sua gente, depois de uma temporada em São Paulo, para conhecer a vida junto a outros sem-teto. A partir daí a história gira em torno da indignação causada nos moradores locais pelas obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, ameaça de destruição das comunidades ribeirinhas e indígenas do Xingu, os maiores desvalidos.

Maria José Silveira, goiana de nascimento, é escritora, editora, tradutora, formada em Comunicação pela Universidade de Brasília, e Antropologia pela Universidad Mayor de San Marcos, Lima, Peru, além de mestre em Ciências Políticas pela USP. Seu primeiro romance, A mãe da mãe de sua mãe e suas filhas, de 2002, recebeu o Prêmio Revelação da APCA. Maria Altamira é seu sétimo romance.

A escrita de Silveira, se não é empolgante, é correta, tem estilo próprio, alterna a forma tradicional com o falar regionalista do Norte. A importância maior do Romance, em meu ponto de vista, reside na denúncia da devastação ambiental sob pretexto de desenvolvimento do país. E, naturalmente, no sofrimento que acarreta ao ser humano.

A capa do livro, sofisticadíssima, tanto na composição do desenho quanto na escolha do papel, é de autoria de Fabiana Yoshikawa e Renato Hofer. 

Guardo as melhores lembranças da quinzena que passei às margens do Xingu, em companhia de meu amigo Sergio Pripas. Foi lá que experimentei pela primeira vez a terrível sensação de fome, por falta de comida mesmo! Este mesmo problema assola nosso país nos dias atuais, para tristeza dos homens de bem. 

Um bom livro, Maria Altamira.

 

Uma semi-final espetacular!


Nikão marca 2 contra o Flamengo

Delmiro Junior/Photo Premium/Ag. O Globo

 

 

Dedico esta pobre crônica ao meu amigo Moisés, flamenguista doente, que ontem sofreu como nunca diante da vitória acachapante do Athlético Paranaense sobre o Flamengo, por 3 a 0.

            Diante de 30.000 torcedores de volta ao Maracanã, o time carioca era o franco favorito para chegar à final da Copa do Brasil, pois no primeiro jogo, em Curitiba, houve empate de 2 a 2. A presença em campo de Bruno Henrique era indicativo de vitória fácil. Porém, como este cronista não cansa de repetir, Futebol Não Tem Lógica.

            Aos 8 min de jogo, o prenúncio de tragédia; Nikão marca em cobrança de pênalti, confirmado pelo VAR, e coloca mais pressão sobre os donos da casa, e sobre Moisés, naturalmente! Que torcedor de futebol já não experimentou a sensação – Isso Não Vai Dar Bom Resultado – ao ver seu time, que precisa da vitória, sofrer gol nos primeiros minutos de um jogo decisivo?

            Depois disso, o Athlético assumiu, sem qualquer pudor, a retranca, verdadeiro ferrolho suíço, como se dizia no meu tempo. O Flamengo, o melhor time do Brasil na atualidade, partiu para cima do adversário, transformando a partida em ataque contra defesa. O torcedor rubro-negro certamente mantinha esperança de vitória, seu time tem jogadores de qualidade e entusiasmo para tanto. O Flamengo quase cavou um pênalti aos 33 min, assinalado pelo juiz e anulado corretamente pelo VAR. Porém, em contra-ataque fulminante, jogo predileto dos curitibanos, Nikão marca seu segundo gol aos 52 min (!) ainda do primeiro tempo. Situação desesperadora, não Moisés!

            No segundo tempo, Michael renovou as esperanças do Flamengo, ao emprestar dinâmica nova ao ataque e sufocar o adversário. Foi aí que surgiu o milagreiro chamado Santos, com defesas espetaculares, incluindo a que desviou para o travessão chute do próprio Michael. Foram mais de 10 defesas incríveis do melhor goleiro do Brasil, depois de Weverton Pereira da Silva, do Palmeiras. 

            O Flamengo insistia em bolas alçadas na área; o nervosismo tomando conta do time; Santos a fazer milagres; o ferrolho funcionando como muralha; Khellven expulso após dura falta em Ramon, aos 35 min, deixando o adversário com 10 em campo; nada disso adiantou. No finalzinho, em contra-ataque mortal, Zé Ivaldo ampliou o placar para os inacreditáveis 3 a 0. Derrota feia.

            Para mim, as inesperadas vaias dirigidas a Renato Gaúcho, treinador incensado há poucos dias, foram imerecidas. A derrota não foi responsabilidade do técnico, mas a tresloucada torcida exige um culpado. Futebol tem dessas coisas. Querem saber de quem foi a culpa? Dos Deuses Do Futebol!

            Meu receio é que, enfurecido, o Flamengo desconte no Palmeiras, na final da Libertadores em Montevidéu. Espero que não, mas se ocorrer, ficarei feliz pelo Moisés.