quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Bebê Yingliang

 

Na foto de baixo, ilustração do "bebê Yingliang", 

embrião de dinossauro encontrado em Ganzhou, China 

University of Birmingham/AFP

 

 

WASHINGTON (EUA) / AFP: “Cientistas anunciaram nesta terça-feira (21) a descoberta de um embrião de dinossauro perfeitamente preservado, que data ao menos de 66 milhões de anos atrás e que se preparava para sair do ovo. O fóssil foi encontrado em Ganzhou, no sul da China, e pertence a um dinossauro terópode sem dentadura, ou ovirraptossauro, que os cientistas chamaram de "bebê Yingliang".”

       O embrião se encontra com “a cabeça posicionada debaixo do corpo, os pés dos dois lados e as costas encurvadas, uma postura que não tinha sido observada antes em dinossauros, mas que é similar às das aves modernas.”

“Nas aves, este comportamento é controlado pelo sistema nervoso central e se chama "dobramento". Os pintinhos que se preparam para sair do ovo põem a cabeça debaixo da asa direita para mantê-la estável enquanto quebram a casca com seus bicos. Os embriões que não conseguem fazer esta posição têm mais chances de morrer por uma eclosão fracassada. Isso indica que tal comportamento nas aves modernas primeiro evoluiu entre os dinossauros, seus ancestrais. Uma alternativa a este dobramento poderia ser similar ao que os crocodilos modernos fazem. Eles se posicionam como se estivessem sentados, com a cabeça inclinada na direção do peito, para eclodir.”

“O "bebê Yingliang" tem 27 centímetros de comprimento da cabeça até a cauda e se encontra dentro de um ovo de 17 centímetros no Yingliang Stone Nature History Museum.”

“Os pesquisadores acreditam que a criatura tenha entre 66 e 72 milhões de anos e provavelmente pôde ser preservada quando o ovo ficou enterrado como consequência de uma enxurrada, protegendo-o dos animais carniceiros por tanto tempo. Ela teria crescido até os dois ou três metros de comprimento se chegasse à idade adulta e provavelmente teria se alimentado de plantas.”

Ainda há quem duvide da evolução das espécies. E há quem acredite no criacionismo.

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2021/12/bebe-dinossauro-prestes-a-nascer-e-encontrado-em-ovo-de-66-milhoes-de-anos.shtml

 

 

O balanço – Conto de Natal

 



A menina Gabriela costumava se balançar à sombra do abacateiro. Mais alto, vô, mais alto, vô! E ela ria da felicidade mais pura porque infantil. 

A mãe a levou para longe, veio a pandemia, há dois anos não vejo Gabriela. Dois anos sem ir a Paris não é muito tempo, dois anos sem ver Gabriela é uma eternidade. Há quatro dias do Natal, meu papai-noel será a visita de Gabriela, o melhor presente do mundo. Preciso conter minhas expectativas pois não estou certo de qual Gabriela virá me visitar. 

Ela saiu daqui uma menina e volta a mocinha que eu não conheço. Também eu não serei o mesmo, não poderei acompanhá-la nas cambalhotas dentro da piscina. (Nem mesmo estou certo se ela ainda dará cambalhotas na piscina.) Após dois anos a mocinha será outra pessoa; em dois anos eu estou apenas mais velho e mais rabugento. (Não espero que a visita de Gabriela melhore minha dor na coluna.)

Será um acontecimento extraordinário esse nosso reencontro. Para comemorá-lo, há alguns meses penso em dar um presente à moça Gabriela. Não desejo lhe ofertar algo completamente novo, moderno, da moda ou tecnológico, porque isso eu nem saberia fazer. Quero lhe dar um presente que de alguma forma traga à memória da menina o avô que a balançava à sombra do abacateiro. Assim ela poderá reconhecer o avô que dava cambalhotas com ela na piscina, mas isso também já não poderei fazer. De minha feita, haverei de reconhecer a neta com quem brincava de casinha.

Resolvi lhe fazer um balanço novo, ainda à sombra do velho abacateiro. (O antigo balanço, por desuso, deteriorou; as cordas apodreceram com a alternância das chuvas e das secas, a madeira do assento rachou.) Quando uma criança vê um balanço em um parque, ela corre para ele, na mais pura felicidade infantil. O adulto, quando vê um balanço em um parque, se não corre a experimentá-lo, o impulso será mesmo de fazê-lo. Bom sinal! Sinal de que a criança vive nele. 

Pensei então que, ao ver o novo balanço ainda à sombra do abacateiro, a mocinha Gabriela poderá correr para ele, rindo rindo rindo, Me balança, vô, mais alto, vô! Minha esperança é de que a criança não tenha se afetado tanto assim pela terrível pandemia. (Tenho perdido o sono durante as últimas madrugadas. Hoje aproveitei o silêncio da noite para escrever este pequeno conto de Natal, em homenagem ao meu pai; nessa época do ano ele pedia aos filhos que todos escrevêssemos um conto de Natal, o que ninguém fazia.) 

Se a moça Gabriela preserva a criança dentro dela, haverá de correr para o balanço. Então terei ganho outro presente, maior ainda que a própria visita de Gabriela. Sonhar é a maneira de preservar em mim o menino que fui um dia. Se acontecer, serão duas crianças a brincar no novo balanço, presente de Natal.