Cansei de ver o nome do angolano
Pepetela nas estantes de não sei quantas livrarias, sem nunca ter tido a
oportunidade de lê-lo. Há mais de ano adquiri o romance de capa bonita, com o
título Mayombe, que passou todo esse tempo descansando na estante de minha
casa. (Acho que não precisamos ler um livro só porque acabamos de comprá-lo.
Ele pode muito bem esperar.) Agora,
devorei-o em dois dias!
Mayombe foi publicado originalmente em 1980, quando da
participação de Pepetela na guerra de libertação de Angola. O livro retrata o
cotidiano dos guerrilheiros do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola)
em luta contra as tropas colonizadoras portuguesas.
O romance torna-se interessantíssimo ao
abordar não somente as ações, mas os sentimentos e reflexões dos guerrilheiros,
suas contradições e conflitos, as relações estabelecidas entre pessoas que
buscavam construir uma nova Angola, livre da colonização.
O discurso político de Pepetela não
poderia ser mais direto e enfático:
“Os
quadros do Movimento estão impregnados de religiosidade, seja católica, seja
protestante. E não são só os do Movimento. Pega em qualquer Partido. Há uns que
procuram aldrabar o padre e escondem os pecados: é como os militantes que fogem
à crítica e nunca a aceitam. Há os outros, os que inventam mesmo pensamentos
impuros que afinal nem chegaram a ter, salvo no momento da confissão, para que
se sintam mesquinhos em face do sofrimento do Cristo: são os militantes sempre
dispostos a autocriticar-se, a reconhecer erros que não cometeram, apenas
porque isso lhes dá a impressão de serem bons militantes. Um Partido é uma
Capela. E é por isso que achas que os responsáveis devem criticar-se a sós,
como o padre e o sacristão, que só na sacristia se acusam de roubarem as
amantes respectivas, porque se o fizessem em público os crentes tornar-se-iam
céticos.”
Em português do Brasil, um Partido é uma
igrejinha, afirmação atualíssima.
Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, conhecido pelo pseudônimo
de Pepetela, nasceu em Benguela,
Angola, em 29 de Outubro de 1941. Sua obra refere-se a
história contemporânea de Angola e os problemas que a sociedade angolana
enfrenta.
Durante o exílio em Argel licenciou-se
em Sociologia. Foi guerrilheiro pelo MPLA, político e governante. Desde 1984
que é professor na Universidade Agostinho Neto, em Luanda, e tem sido dirigente
de associações culturais, com destaque para a União dos Escritores Angolanos.
Recebeu o Prêmio Camões em 1997, o que
confirmou seu lugar de destaque na literatura de língua portuguesa.
Enfim,
estou pouco menos ignorante após a leitura de Pepetela, tanto tempo descansando
nas prateleiras.