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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Göbekli Tepe

 


Göbekli Tepe, sítio arqueológico localizado na Turquia, construído há pelo menos 12.000 anos. Vale a pena pesquisar. 


segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Os pais da arte




 

“Essa magia encontrada na própria raiz da existência humana, criando simultaneamente um senso de fraqueza e uma consciência de força, um medo da natureza e uma habilidade para controlá-la, essa magia é a verdadeira essência de toda a arte. 

 

O primeiro a fazer um instrumento, dando nova forma a uma pedra para fazê-la servir ao homem, foi o primeiro artista. 

 

O primeiro a dar um nome a um objeto, a individualizá-lo em meio à vastidão indiferenciada da natureza, a marcá-lo com um signo e, pela criação linguística, a inventar um novo instrumento de poder para os outros homens, foi também um grande artista. 

 

O primeiro a organizar uma sincronização para um processo de trabalho por meio de um canto rítmico e a aumentar, assim, a força coletiva do homem, foi um profeta na arte. 

 

O primeiro caçador a se disfarçar, assumindo a aparência de um animal para aumentar a eficácia da técnica da caça, o primeiro homem da idade da pedra que assinalou um instrumento ou uma arma com uma marca ou um ornamento, o primeiro a cobrir um tronco de árvore ou uma pedra grande com uma pele de animal para atrair outros animais da mesma espécie – todos esses foram os pioneiros, os pais da arte.”

 

 

           Ernest Fischer, A necessidade da arte

Zahar Editores, 1983 (p. 42)

 

            Livro excepcional este, fundamental para quem deseja compreender a origem, o sentido e a necessidade mesma da arte.

 

domingo, 22 de agosto de 2021

Homem gosta de homem


Dois chimpanzés no Parque Nacional de Gombe, Tanzânia. Ian Gilby

 

 

“Cuidar das amizades, a melhor estratégia para os chimpanzés”: a reportagem é de Javier Salas para El País (17 AGO 2021).

            O artigo começa descrevendo algumas peculiaridades de chimpanzés e bonobos: “Nossos primos mais próximos entre os grandes símios, os chimpanzés e os bonobos, tomaram dois caminhos evolutivos completamente opostos na hora de preparar seu sucesso reprodutivo. Os chimpanzés trilharam o espinhoso trajeto da violência e da coação para assegurar a descendência: os machos que mais batem nas fêmeas, por exemplo, têm mais chances de acasalamento. Já os bonobos continuaram a rota da seda: os machos não sabem quando é o período fértil das fêmeas, que por sua vez dirigem o grupo em um matriarcado, apostando em acasalar muito para aumentar as probabilidades de ter uma prole.”

Porém, se a reprodução ocupa tanto espaço nas relações entre eles, como explicar “que os chimpanzés se dediquem a mimos, cuidados e carícias, catando piolhos e alisando seus pelos mutuamente? Que sentido evolutivo faz reforçar amizades com quem vai tirar a sua oportunidade de procriar?”

Afirma o primatologista Joseph Feldblum, da Universidade de Michigan: “Os machos não passariam todo este tempo alisando outros machos e renunciando a tentar encontrar fêmeas ou comida a menos que obtivessem algum tipo de ganho com isso”. “Os machos cultivam amizades porque isso funciona.” 

São dados reunidos no Parque Nacional de Gombe (Tanzânia) desde os tempos de Jane Goodall: “os cientistas puderam analisar a descendência dos machos que estreitam laços com outros companheiros, comparando àqueles que não o fazem. E obtiveram dois resultados: o primeiro não é nada surpreendente, e algo que já se sabia: os machos que mais têm contato com o macho alfa da comunidade ganham possibilidades de se reproduzir. Faz sentido: neste patriarcado, o alfa controla as fêmeas e permite a seus amigos que acasalem. “Puxar o saco do chefe não é nenhuma novidade”, observa Anne Pusey, coautora do estudo, da Universidade Duke (EUA), que passou três décadas organizando e digitalizando esse conjunto de dados único. E acrescenta: “Demonstramos que sempre valeu a pena”.

No entanto, os cientistas descobriram que “um chimpanzé macho tem 50% mais probabilidades de ter filhos se mantiver pelo menos duas fortes amizades com outros indivíduos equivalentes. Com exceção do alfa, a patente na hierarquia do grupo não impacta nas possibilidades de ter sucesso reprodutivo, mas, sim, em ter muitos amigos aos quais dedicar tempo e cuidados. A estratégia não é a competição violenta, e sim uma colaboração entre companheiros.”

É a primeira vez que se estuda a influência da sociabilidade na capacidade reprodutiva dos machos porque esta perspectiva sempre foi aplicada unicamente às fêmeas. 

Talvez os benefícios destas relações sociais nos chimpanzés proporcionem pistas sobre o papel da amizade nos seres humanos. O estudo sugere que “os laços fortes entre os machos têm raízes evolutivas profundas e proporcionaram a base para as relações mais complexas que vemos nos humanos”, diz Gilby, da Universidade Estadual do Arizona. 

 

Entre nós, há um dito popular: homem gosta de homem. As reuniões sociais em que casais são convidados revelam essa tendência: homens conversam com homens, mulheres com mulheres. Mas esta é tão somente uma blague, sem qualquer fundamento científico.

 

 

https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-08-17/cuidar-das-amizades-a-melhor-estrategia-para-os-chimpanzes.html

 

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Por que somos o que somos


Crânio do Homo longi e uma reconstituição de sua aparência / C. Zha

 

Por que somos a única espécie humana do planeta? A reportagem de Nuño Domínguez para El País traz ótimo resumo do conhecimento atual sobre a evolução humana (4 jul 2021).

“Três descobertas nos últimos dias acabam de mudar o que sabíamos sobre a origem da raça humana e da nossa própria espécie, Homo sapiens. Talvez − dizem alguns especialistas − precisemos abandonar esse conceito para nos referir a nós mesmos, pois as novas descobertas sugerem que somos uma criatura de Frankenstein com partes de outras espécies humanas com as quais, não muito tempo atrás, compartilhamos planeta, sexo e filhos.

As descobertas da última semana indicam que cerca de 200.000 anos atrás havia até oito espécies ou grupos humanos diferentes. Todos faziam parte do gênero Homo, que nos engloba. Os recém-chegados apresentam uma interessante mistura de traços primitivos − arcos enormes acima das sobrancelhas, cabeça achatada − e modernos. O “homem dragão” da China tinha uma capacidade craniana tão grande quanto a dos humanos atuais, ou até superior. O Homo de Nesher Ramla, encontrado em Israel, pode ter sido o que deu origem aos neandertais e aos denisovanos que ocuparam, respectivamente, a Europa e a Ásia e com quem nossa espécie teve repetidos encontros sexuais, dos quais nasceram filhos mestiços que foram aceitos em suas respectivas tribos como mais um. 

Agora sabemos que devido àqueles cruzamentos todas as pessoas de fora da África têm 3% de DNA neandertal, ou que os habitantes do Tibete têm genes transmitidos pelos denisovanos para poder viver em grandes altitudes. Algo muito mais inquietante foi revelado pela análise genética das populações atuais da Nova Guiné: é possível que os denisovanos − um ramo irmão dos neandertais − tenham vivido até apenas 15.000 anos atrás, uma distância muito pequena em termos evolutivos.

A terceira grande descoberta dos últimos dias é quase detetivesca. Na análise de DNA conservado no solo da caverna de Denisova, na Sibéria, foi encontrado material genético dos humanos autóctones, os denisovanos, de neandertais e de sapiens em períodos tão próximos que poderiam até se sobrepor. Lá foram encontrados há três anos os restos do primeiro híbrido entre espécies humanas que se conhece: uma menina filha de uma neandertal e de um denisovano.

O paleoantropólogo Florent Detroit descobriu para a ciência outra dessas novas espécies humanas: o Homo luzonensis, que viveu em uma ilha das Filipinas há 67.000 anos e que apresenta uma estranha mistura de traços que poderiam ser o resultado de sua longa evolução em isolamento durante mais de um milhão de anos. É um pouco parecido com o que experimentou seu contemporâneo Homo floresiensis, ou “homem de Flores”, um humano de um metro e meio que viveu em uma ilha indonésia. Tinha um cérebro do tamanho do de um chimpanzé, mas se for aplicado a ele o teste de inteligência mais usado pelos paleoantropólogos, podemos dizer que era tão avançado quanto o sapiens, pois suas ferramentas de pedra eram igualmente evoluídas.

A esses dois habitantes insulares se soma o Homo erectus, o primeiro Homo viajante que saiu da África há cerca de dois milhões de anos. Ele conquistou a Ásia e lá viveu até pelo menos 100.000 anos atrás. O oitavo passageiro desta história seria o Homo daliensis, um fóssil encontrado na China com uma mistura de erectus e sapiens, embora seja possível que acabe sendo incluído na nova linhagem do Homo longi. 

Por que nós, os sapiens, somos os únicos sobreviventes? Para Juan Luis Arsuaga, paleoantropólogo do sítio arqueológico de Atapuerca, no norte da Espanha, a resposta é que “somos uma espécie hipersocial, os únicos capazes de construir laços além do parentesco, ao contrário dos demais mamíferos”. “Compartilhamos ficções consensuais como pátria, religião, língua, times de futebol; e chegamos a sacrificar muitas coisas por elas”, assinala. 

María Martinón-Torres, diretora do Centro Nacional de Pesquisa sobre Evolução Humana, com sede em Burgos, acredita que o segredo seja a “hiperadaptabilidade”. “A nossa é uma espécie invasiva, não necessariamente mal-intencionada, mas somos como o cavalo de Átila da evolução”, compara. “Por onde passamos, e com nosso estilo de vida, diminui a diversidade biológica, incluindo a humana. Somos uma das forças ecológicas de maior impacto do planeta e essa história, a nossa, começou a se delinear no Pleistoceno [o período que começou há 2,5 milhões de anos e terminou há cerca de 10.000, quando o sapiens já era a única espécie humana que restava no planeta]”, acrescenta.”

 

As descobertas permanecem em curso. Esta é a beleza da Ciência: não há verdade definitiva, porém os avanços conquistados baseiam-se em fatos, e fatos são verdades. Há muita gente no Brasil precisando pensar sobre isso.

 

https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-07-04/por-que-somos-a-unica-especie-humana-do-planeta.html

 

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Neandertais humanos?


Crânio de mulher que viveu há 45.000 anos
na atual Tepública Tcheca
         

 

A reportagem é de  Nuño Dominguéz para El País (08 abr 2021) e traz manchete chamativa: “Genoma europeu mais antigo revela sexo contínuo com neandertais.”

Foram descobertos ossos de quatro pessoas que viveram na Europa há 45.000 anos, com destaque para o crânio sem rosto de uma mulher que viveu na atual República Tcheca. Os restos dos outros três homens foram achados em caverna da Bulgária “junto a colares e estiletes típicos dos primeiros grupos de humanos modernos”.  DNA destes fósseis, os mais antigos que se conhecem da nossa espécie, permitiram a reconstrução de todo o genoma.

Informa Dominguéz: “Os resultados mostram que um dos homens da Bulgária teve um parente neandertal menos de 180 anos antes. Os outros três indivíduos também tinham parentes dessa espécie. Todos descendiam de híbridos resultantes do sexo entre neandertais e sapiens. O genoma da mulher da República Tcheca também contém 3% de DNA neandertal.”

A conclusão é que os cruzamentos entre neandertais e humanos modernos foram muito mais frequentes e recentes do que se pensava. Há uma teoria surpreendente, a de que “os neandertais nunca se extinguiram totalmente, tendo sido, em vez disso, absorvidos pelos grupos sapiens, que os aceitaram em seu meio.”

O geneticista Carles Lalueza-Fox tem a seguinte hipótese: “É possível que os humanos modernos tolerassem os híbridos, e os neandertais, não. Ou pode ser que os neandertais rejeitassem seus filhos híbridos depois de nascidos”. O geneticista explica que “os grupos neandertais eram muito pequenos e endogâmicos, fechados e isolados entre si. Já os grupos sapiens podiam ser mais amplos e sociais, abertos ao contato e à colaboração com outros. Em todo caso, “a assimilação dos neandertais é um cenário muito possível, de forma que os únicos que sobrevivem afinal são os que acabam em grupos sapiens. Depois, seu sinal genético vai se diluindo com o passar do tempo”.

Os quatro humanos agora analisados tinham pelo menos 3% de DNA neandertal e sequências genéticas muito mais longas que os humanos atuais. 

E o reconhecimento progressivo da Evolução das Espécies, incluindo a humana, continua a ser desvendado. Pergunta que não me sai da cabeça: por que não passar a chamar os neandertais de humanos? Mas não tenho autoridade científica para respondê-la.

 

https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-04-08/genoma-europeu-mais-antigo-revela-sexo-continuo-com-neandertais.html

 

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Obra de arte mais antiga do mundo


 

A pintura rupestre de Leang Tedongnge (Indonésia)

que mostra o desenho de um javali da espécie ‘Sus celebensis’,

pintado há pelo menos 45.500 anos.

 

 

“A caverna de Leang Tedongnge, localizada na ilha indonésia de Celebes, abriga a obra de arte mais antiga do mundo conhecida até agora: um javali de 136 centímetros de comprimento por 54 de altura, pintado há mais de 45.500 anos, conforme revela um artigo publicado nesta quarta-feira na revista Science.” Informa Juan Miguel Hernández Bonilla (14 Jan 2021), para El País. 


 


 

Caverna Leang Tedongnge na ilha de Célebe na Indonésia.

 

 

 

https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-01-14/javali-pintado-ha-45500-anos-e-a-obra-de-arte-figurativa-mais-antiga-do-mundo.html

sábado, 7 de novembro de 2020

Divisão de tarefas


O texto é do grande Fernando Reinach, para O Estado de S.Paulo 

(7 nov 2020), sob o título Fósseis de mulheres caçadoras sugerem que divisão de tarefas por gênero é recente na história humana

         A ideia de que mulheres criam os filhos enquanto os homens sustentam a família, vigente até tempos recentes, também foi observada em sociedades primitivas, a ponto de se pensar que esse arranjo sempre existiu entre os Homo sapiens.

A caça de grandes mamíferos sempre foi pensada como  uma atividade coletiva, principalmente quando feita com lanças de madeira e pontas de pedra. Afirma Reinach: “É a colaboração entre um grande número de indivíduos que permite perseguir, cercar, imobilizar e matar a presa. O fato de nossos ancestrais viverem em pequenos grupos e se movimentarem constantemente dá suporte a essa ideia.” 

Em 2013, no Peru, a 3.925 m acima do nível do mar, foram encontrados grande quantidade de artefatos humanos e vários esqueletos, entre estes o de uma mulher de 17 anos que havia morrido 8 mil anos atrás. Ao lado dela foram achados artefatos que “deviam estar em uma bolsa que se decompôs com o tempo” (pontas de lança, pedras na forma de facas usadas para retirar o couro do animal, facas de pedra para retirar a carne e pedras usadas para limpar o couro), usados na caça de grandes animais. 

Concluem os arqueólogos: “Essa mulher de 17 anos muito provavelmente era uma caçadora que vivia no altiplano se alimentando da caça e de partes de plantas. E, como era comum nessa cultura, foi enterrada junto com seus objetos pessoais.” 

Novas pesquisas revelaram dezenas de esqueletos espalhados desde a América do Norte até o sul do Chile, e “aproximadamente um terço das pessoas enterradas com utensílios de caça eram mulheres”.  

“A conclusão é de que existe a possibilidade de que nossos ancestrais, que viviam como coletadores e caçadores, praticavam a caça em grupos e nessa atividade mulheres e homens compartilhavam as tarefas. Se isso for verdade, é muito provável que a nossa espécie tenha passado a maior parte de sua existência no planeta em uma organização familiar em que homens e mulheres dividiam a atividade da caça.

  A divisão das tarefas entre os sexos, portanto, vem sofrendo modificações em seu arranjo familiar há milênios, fato que se pode observar nos dias de hoje: mulheres saem para trabalhar enquanto homens cuidam da casa e dos filhos. E em tempos de peste, os homens aprendem a cozinhar... 

 

https://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,fosseis-de-mulheres-cacadoras-sugerem-que-divisao-de-tarefas-por-genero-e-recente-na-historia-humana,70003504500

 

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Escravidão por Laurentino Gomes




Escreve Laurentino Gomes: “O padre Antônio Vieira atribuía o comércio de escravos a um grande milagre de Nossa Senhora do Rosário porque, segundo ele, tirados da barbárie e do paganismo na África, os cativos teriam a graça de serem salvos pelo catolicismo no Brasil. Foi esse o teor da homilia que pregou par uma irmandade de escravos de um engenho na Bahia, em 1633:”

“A mãe de Deus, antevendo esta vossa fé, esta vossa piedade, esta vossa devoção, vos escolheu entre tantos outros de tantas e tão diferentes nações, e vos trouxe ao grêmio da Igreja, para que lá [na África] não vos perdêsseis, e cá [no Brasil] como filhos seus, vos salvásseis. Este é o maior e mais universal milagre de quantos faz cada dia, e tem feito por seus devotos a Senhora da Rosário. [...] Oh, se a gente preta tirada das brenhas da sua Etiópia, e passada ao Brasil, conhecera bem quanto deve a Deus, e a Sua Santíssima Mãe, por este que pode parecer desterro, cativeiro e desgraça, e não é senão milagre, e grande milagre!”

            Acrescenta L. Gomes: “No mesmo sermão, Vieira sustentava que, aos escravos, cabia não apenas aceitar o sofrimento do cativeiro, mas se alegrar com a inestimável oportunidade que tinham de imitar os sofrimentos de Jesus no Calvário:”

“Bem-aventurados vós se soubéreis conhecer a fortuna do vosso estado, e com a conformidade e imitação de tão alta e divina semelhança aproveitar e santificar o trabalho. [...] Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado [...] porque padeceis de um modo muito semelhante o que o mesmo Senhor padeceu na sua cruz, e em toda a sua paixão.”        

Quem pretende analisar, ou mesmo julgar, fatos ocorridos em uma determinada época precisa necessariamente considerar costumes, valores, necessidades, vicissitudes, enfim, as circunstâncias da época. Isso é bastante óbvio.
Então, não se pode julgar a Igreja por suas ações durante o período escravista, embora não haja dúvida sobre a efetiva e determinante participação dessa instituição. E os jesuítas compuseram a ordem religiosa que mais atuou para o desenvolvimento da escravidão na Europa, América Central e América do Sul.
Porém, o que desejo ressaltar mesmo é o discurso do venerável padre Antônio Vieira, aquele que é considerado o Imperador da Língua Portuguesa. Os seus Sermões são o que de mais precioso já foi escrito em nossa língua. (Vieira foi a grande inspiração do nosso Nobel de Literatura, José Saramago!) No Brasil, foi defensor ferrenho da proibição de se escravizar índios. Vieira era um gênio! Impossível, portanto, que ele acreditasse que os “cativos teriam a graça de serem salvos pelo catolicismo no Brasil”, ou que fossem “imitadores de Cristo crucificado” em seu sofrimento insano.
Precisamos conhecer as circunstâncias em que tais fatos ocorreram. Para tal, nada melhor do que ler Escravidão, da autoria de Laurentino Gomes (Globolivros, 2019). Trata-se do primeiro volume, que aborda “Do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares”. Outros dois volumes estão em andamento, para 2020 e 2021.



Laurentino expõe com clareza a participação de Portugal, Inglaterra, Holanda, Vaticano, Família Real Britânica, banqueiros de toda a Europa, e naturalmente o papel das Américas na receptação dos escravos, daquilo que pode ser chamado de Inferno na Terra – a escravidão.
O livro é de leitura indispensável para todos que desejarem conhecer o Brasil de hoje, suas desigualdades, preconceitos, violência, e tantas outras manifestações sociais.
Além do que Escravidão é escrito em linguagem impecável, de leitura fácil e muito agradável, a despeito dos horrores de que trata.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Chiclete de 6.000 anos


O 'chiclete' vem do cozimento da casca de bétula.
THEIS JENSEN


“Uma espécie de chiclete de 6.000 anos ainda conserva a marca dos dentes de quem o mascava. Com isso, um grupo de pesquisadores pôde obter DNA humano, mas também o das bactérias que tinha na boca. E mais, conseguiram identificar um vírus que portava e até o que havia comido antes de mastigar a goma de mascar milenar. A garota (puderam determinar seu sexo graças à genética) tinha pele e cabelos morenos e olhos claros. Os pesquisadores a chamam de Lola.” É o que informa Miguel Ángel Criado (17 dez 2019) para El País.


Lola



sábado, 14 de dezembro de 2019

Obra de arte mais antiga


 

Um búfalo-anão rodeado de figuras antropomorfas
Ratno Sardi


Obra de arte mais antiga da humanidade é descoberta na Indonésia.
Cena de caça pintada há 43.900 anos pode ser a primeira narração humana conhecida, milênios antes do ‘homem-pássaro’ de caverna francesa. É o que informa Nuño Domínguez (12 dez 2019), para El País.
“Em dezembro de 2017, um homem chamado Pak Hamrullah descobriu a entrada de uma caverna desconhecida em um penhasco da ilha de Sulawesi (também conhecida como Celebes), Indonésia. Subiu por uma figueira até alcançá-la e ao chegar ao fundo avistou uma cena de caça pintada em uma tela de rocha de mais de quatro metros de largura. Após dois anos de estudos, a equipe de arqueólogos que acompanhava Hamrullah naquele dia afirma que essa é a obra de arte figurativa mais antiga do mundo.” 
“O único autor possível dessa surpreendente obra é o Homo sapiens, nossa própria espécie, que chegou a essas ilhas do sudeste asiático entre 40.000 e 50.000 anos atrás.” 
“Não queremos substituir um centro de origem por outro no sudeste asiático”, diz Brumm, “mas é muito interessante encontrar arte rupestre mais antiga do que a europeia”. “Isso nos obriga a nos perguntar se os humanos modernos desenvolveram a capacidade artística quando saíram da África [há 70.000 anos]”, acrescenta. Até agora foram encontradas em Sulawesi mais de 200 cavernas e abrigos com pinturas rupestres. De acordo com Brumm, a cada ano sua equipe encontra “dezenas de novas pinturas rupestres com imagens de todos os tipos”. 
O mais interessante da história é que esta não é a última palavra sobre o assunto.



quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Negro e de olhos azuis


Modelo do Homem de Cheddar, que viveu há cerca de 10 mil anos,
quando os primeiros humanos modernos chegaram à Grã-Bretanha.
Foto: Tom Barnes / Channel 4 / Museum of Natural History



A partir de uma análise de DNA, cientistas do Reino Unido reconstruíram a aparência do mais antigo esqueleto de um humano moderno encontrado na Grã-Bretanha, o Homem de Cheddar; ele é ancestral de 10% da atual população branca. Há 10 mil anos, britânicos tinham pele escura e olhos azuis.
            A reportagem é de Fábio de Castro, para O Estado de S. Paulo (7 Fev 2018), e informa que “De acordo com os cientistas, 10% dos habitantes brancos da Grã-Bretanha atual, entre aqueles que têm ancestrais britânicos, descendem dessa primeira população. O fóssil no qual os estudos se basearam, conhecido como Homem de Cheddar, é um esqueleto do período Mesolítico - há cerca de 10 mil anos -, descoberto em 1903 na caverna Gough, na Garganta de Cheddar, em Somerset. A pesquisa foi realizada por cientistas do Museu de História Natural do Reino Unido.”
O modelo do Homem de Cheddar foi feito pela empresa Kennis & Kennis Reconstructions, especializada em reconstruções paleontológicas. Os artistas tiraram as medidas do esqueleto, escanearam o crânio com tomografias e utilizaram uma impressora 3D para produzir uma base para o modelo.



segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

O cão humaniza a família



Entalhes de cachorros e humanos datados de 
8.000/9.000 anos na Arábia Saudita. 
ASH PARTON / MARIA GUAGNIN 
PALAEODESERTS SURVEY



Dois cachorros diante de um leão, entalhes de 8.000/9.000 anos. HUW GROUCUTT / MARIA GUAGNIN 
PALAEODESERTS SURVEY


Os cientistas continuam pesquisando sobre quando e como, há milhares de anos, começou a relação entre humanos e cães. Descobertas recentes na Arábia Saudita mostram homens e cães (controlados por correias) caçando juntos. Parece que, nossa sobrevivência como espécie teria sido muito mais complicada, talvez impossível, sem os primeiros animais que domesticamos.
É o que afirma Guillermo Altares, de Madri, para El País (14 DEZ 201), em reportagem intitulada Cães ajudaram a humanidade a sobreviver.
As hipóteses mais recentes sobre a origem do cão sugerem que os primeiros surgiram há cerca de 33.000 de anos na Ásia, quando se separaram do lobo.
            Quanto à domesticação, “foram eles que nos domesticaram, aproximando-se dos acampamentos em busca de comida”, afirmam os cientistas.
Os entalhes descobertos recentemente na Arábia Saudita estão entre as imagens mais antigas de cães, entre 8.000 e 9.000 anos, revelando o trabalho conjunto com os humanos. São 350 entalhes, onde é possível vê-los caçando, às vezes presos por correias.
Perguntado sobre se os cães nos ajudaram a sobreviver, o professor Losey é enfático: “Sem dúvida alguma. Em certas situações, os cães podem aumentar muito nossas habilidades. Se não estivessem conosco, é muito possível que não estivéssemos aqui”.

            Um dos aforismos favoritos desse blogueiro, utilizado até mesmo em sessões de terapia, é O cão humaniza a família.