quarta-feira, 8 de março de 2017

Salvo pelo gongo



Abandonado pela mesma mulher, pela segunda vez, resolveu suicidar-se. Salvou-o o espaguete à bolonhesa que ele mesmo preparou.

Crise na Educação



Perguntado sobre o que pensa sobre o ensino da língua portuguesa, Sérgio Rodrigues, autor de Viva a língua brasileira, respondeu:

“A crise da educação brasileira só vai ser resolvida no momento em que houver uma baita valorização dos professores, claro que acompanhada de uma melhor qualificação. Eles precisam ganhar muito, mas muito mais do que hoje, precisam ser vistos como profissionais preciosos, habitar outra dimensão social. E não digo isso por interesse próprio, pois não sou e nunca fui professor, sou um escritor que estuda a língua por paixão. Isso vale para o ensino como um todo. No caso da língua, precisamos de uma política linguística que defina e abrace o português brasileiro, que sistematize e ensine tanto a diversidade quanto a norma culta que é praticada aqui – e não em Portugal. Isso vai contribuir para acabar com o mito brasileiríssimo de que o português é uma língua muito difícil, quase impossível. Os alunos o veem assim porque o que se ensina é em grande parte alienígena, defasado e baseado em pegadinhas ridículas. Quanto à leitura, acho fundamental levar em conta que, numa fase de formação de gosto e hábito, os alunos devem ter antes de mais nada uma experiência de prazer. Obrigar hoje um menino de 13 anos a ler José de Alencar é matar o leitor potencial que há nele, é salgar a terra.”




Manoel, crítico de arte

Onde já se viu, criticar Joan Miró? Só mesmo Manoel.
            Porém, diante das reclamações indignadas recebidas por este blog, com a publicação do microconto ilustrado Mulher olhando para a lua, encaminhei-as ao Manoel, que me respondeu com interessante carta, que agora torno pública.


Prezado Dr. André,
(mais conhecido como o Louco),

tomo a liberdade de lhe escrever, antes de tudo para me apresentar. Eu me chamo Manoel (não aquele que não morava em Niterói, não era casado nem tinha filhos e, portanto, impossível que a casa incendiada fosse dele, do outro Manoel). Sou Manoel Azevedo de Queiroz Ayres e Ayres (oportunamente explico essa pequena idiossincrasia, a repetição de meu último sobrenome), gerado e nascido em Lisboa, onde caminho pelas mesmas ruas por onde caminhava Fernando Pessoa, no centro antigo desta bela cidade. Morei muitos anos no Brasil, no Rio da Janeiro, de modo que falo e escrevo mais para o brasileiro que para o português.
                   Sou um crítico de Arte.
            Permita-me que apresente minhas credenciais. Fiz o curso de História da Arte na Universidade de Lisboa, o que de nada me adiantou, ora pois pois, as aulas eram ministradas por um padre, Professor Emérito em Arte, mas que nunca exibia um nu feminino, fosse ele de que época fosse, pintura ou escultura, ora pois, e os alunos permaneciam na chamada Santa Ignorância. Uma maçada!, diria seu avô, Dr. André. Certa feita fomos ao Louvre, na magnífica Paris, em visita coletiva guiada pelo padre, que carregava um mapa com clara orientação para que não passássemos em determinados corredores, por exemplo, onde estacionava a Vênus de Milo, que não pôde acenar para nós, pois braços já não os tinha.
            Minha capacidade crítica advém de incansáveis estudos sobre Arte em geral – sou um autodidata –, e de um senso crítico nato, intuição aprimorada pelos estudos, verdadeiro dom que Deus me deu. (Ao contrário do senhor, sou um crente, Católico Apostólico Romano, defensor ferrenho da contribuição inestimável prestada pela Igreja no desenvolvimento da Arte. Acredito também em sua tolerância, de modo a não vir a ser um obstáculo nossa diferença nesse particular modo de pensar.)
            Olho para uma obra de arte e imediatamente inunda-me a alma de sentimento inexplicável, que procuro traduzir em palavras nas minhas críticas sobre pintura, escultura, literatura, poesia em particular, gastronomia, arquitetura, enologia, música, particularmente a erudita, psicologia, psicanálise, cinema, fotografia, anatomia humana e comparada, antropologia, arqueologia, história, geografia, e havendo alguma omissão, esta será corrigida oportunamente, pois não.
Sou um crítico antes de tudo, por natureza.
Tanto que não me desculpo pela opinião expressa no miniconto Mulher olhando para a lua, publicado no Louco por cachorros. O Joan Miró (1893-1983) era mesmo preguiçoso! Ilustro minha assertiva com dois exemplos:


Nord-Sud, 1917



Mulher e pássaros ao amanhecer, 1949


           Preciso explicar mais? Ao longo dos anos (de 1917 a 1949, veja o senhor!) bateu-lhe uma preguiça incurável, e o homem passou a fazer apenas risquinhos, cobrinhas, bolinhas, pontinhos, etc. e o expectador que se dane. Bem, é o que me vem à alma, ora pois.
            Prezado Dr. André (como temos a mesma idade, com sua permissão, no futuro passarei a tratá-lo pelo nome, que é o que interessa, títulos não interessam, penso eu), vai longa esta carta e ainda não falei da sua razão de ser.
Escrevo para pedir-lhe que eu possa contribuir com alguma crítica para o seu blog. (En passant, gostei muito do que escreveu sobre Machado, de Silviano Santiago!) Seria uma honra para mim ver algum texto meu publicado no Louco por cachorros. Se o senhor julgar-me digo de tal expediente (é como se diz aqui em Portugal).
            Sem mais, com admiração pela sua pessoa, despeço-me.
            Seu desde já amigo,

                                                                                    Manoel


Parabéns às mulheres

A foto do dia


Figuras femininas em semáforos, em Melbourne, Austrália, em comemoração ao dia de hoje.

Foto: Tracey Nearmy / EFE



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