sábado, 18 de junho de 2016

Lagoa da Pampulha

A foto do dia



Foto: Paulo Sergio Viana, jun 2016, Belo Horizonte

Lições de vida


            Lançado pela Objetiva em 2015, só agora me cai nas mãos, presente do amigo Leopoldo, uma pequena joia, o livrinho (oitenta e poucas páginas) intitulado Sete breves lições de física, de Carlo Roveli, tradução de Joana Angélica d`Ávila Melo.
            Escrito em linguagem deliciosa, o autor escreve para leigos em física, e torna (quase) compreensíveis os conceitos fundamentais desta disciplina, estabelecidos a partir do início do século XX.
Os títulos das sete lições falam por si mesmos: A mais bela das teorias, Os quanta, A arquitetura do cosmo, Partículas, Grãos de espaço, A probabilidade, o tempo e o calor dos buracos negros, e por último, Nós.
A conclusão apresentada por Roveli relaciona Ciência e Filosofia de modo brilhante:

“À medida que nosso conhecimento cresceu, fomos aprendendo cada vez mais esta noção de sermos parte, e pequena parte, do universo. Isso aconteceu já nos séculos passados, mas cada vez mais no último século. Pensávamos estar sobre o planeta no centro do cosmo, e não estamos. Pensávamos ser uma raça à parte, na família dos animais e das plantas, e descobrimos que somos descendentes dos mesmos genitores de que descende qualquer outro ser vivo ao nosso redor. Temos tataravós em comum com as borboletas e com os pinheiros. Somos como um filho único que cresce e aprende que o mundo não gira somente ao seu redor, como ele pensava quando era pequeno. Ele deve aceitar ser um entre os outros. Ao nos espelharmos nos outros e nas outras coisas, aprendemos quem somos.”

            Leitura imprescindível nesse começo de século XXI.

A força do desejo

Os responsáveis de Orlando é o título da crônica de Contardo Calligaris na Folha de S. Paulo (16/06/2016), sobre o ocorrido numa boate da Flórida na madrugada de domingo passado. Um homem armado de fuzil semiautomático matou 49 pessoas e feriu 53.  
            Primeiro surgiu a história de que se tratava de um homofóbico furioso. Depois, soube-se que o assassino era frequentador assíduo da boate Pulse e que era usuário de aplicativo para encontros da comunidade gay.
            A explicação básica para o fenômeno psicológico, quem nos dá com clareza e simplicidade é Calligaris:

“Há uma regra básica para a qual nunca encontrei exceções, em mais de 30 anos de clínica. Claro, qualquer um pode discordar do desejo e da conduta sexual de outros; mas quando alguém se sente compelido a agir para impedir ou punir uma conduta sexual diferente da sua é que, de fato, ele está tentando reprimir seu próprio desejo de se engajar nessa conduta diferente. Quem agride, abusa ou tenta inibir os membros de uma minoria sexual está tentando reprimir nele mesmo um desejo que, às vezes, ele nem sequer consegue reconhecer.
É sempre assim: só odiamos a diversidade que detestamos ou receamos em nós mesmos. Um indivíduo sai atirando para matar algo que está dentro dele e que ele não sabe mais como silenciar.”

            Há um outro detalhe interessante nessa trama. É a declaração do pai do assassino: afirmou que o filho não precisava matar os homossexuais porque ao final eles seriam punidos, ganhando o inferno. Que efeito uma ideia como esta teria na mente do filho, um homossexual enrustido? O que ele poderia fazer com o desejo tão forte dentro de si? Matar-se?
Optou por matar inocentes e morrer com eles.
A Psicanálise introduziu um novo conceito a respeito do comportamento psicótico; penso que se aplica bem aos “terroristas” de modo geral. Daí nossa dificuldade para compreender as atitudes deles, preferindo rotulá-los como terroristas.