Eu tinha um amigo.
Conheci-o ainda da faculdade, aluno
brilhante; foi quando nos tornamos amigos.
Formou-se, casou-se, nossa amizade
cresceu; frequentava sua casa, ele me visitava, saíamos para jantar.
O carinho com que nos tratávamos era
de despertar inveja e ciúme.
Acompanhei sua dor na morte da mãe;
em minha doença, ele foi de valor inestimável; minha gratidão.
Eu aprendendo com ele, homem
cultíssimo, de memória privilegiada; de tudo, um pouco: literatura, poesia,
música, política, filosofia.
Conversávamos sobre assuntos que com
poucos eu poderia conversar.
Poeta, emprestava-me seus poemas para
que os postasse em meu blog.
Nossos encontros começaram a rarear;
mesmo assim, falávamos ao telefone duas ou três vezes por semana; para mim, a
mesma amizade de sempre; meu sentimento.
Viajei; quando voltei, ele não
atendeu ao meu chamado; insisti, chamei chamei chamei, até que recebi a
mensagem, Silêncio, por favor.
Não nos falamos mais; às vezes tenho
notícias dele por conhecidos comuns; me dizem que está bem.
Pois é assim que se perde um amigo.